Capturado empresário da noite que esteve na origem da inquietação das "Mães de Bragança"

Camilo Gonçalves foi condenado à revelia, em 2007, a sete anos de prisão por lenocínio. Desde 2004 andava entre Portugal e Espanha, abriu novos bares e até publicava no Facebook.

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Esta foi uma das fotografias publicadas no Facebook que ajudaram a PJ a seguir Camilo Gonçalves DR

A Polícia Judiciária seguia-lhe os passos há cerca de uma semana. O empresário da noite foi condenado por lenocínio e apoio à imigração ilegal a nove anos de prisão em 2007, num julgamento à revelia, num processo desencadeado pelas queixas das "Mães de Bragança", que se queixavam de que a afluência de prostitutas brasileiras à cidade estava a desfazer muitos lares. Camilo Gonçalves estava fugido desde 2004, ano em que uma rusga policial nos bares de alterne da cidade do Nordeste Transmontano levou ao encerramento de perto de uma dezena de estabelecimentos do género.

Camilo Gonçalves era dono do bar ML, cuja propriedade acabou por reverter para o Estado, já que o tribunal entendeu que ali se praticava alterne e prostituição com mulheres que o empresário trazia do Brasil. O empresário foi ainda condenado a pagar 1,8 milhões de euros ao Estado.

O caso começou em Abril de 2003, quando um grupo de quatro mulheres, o autodenominado "Mães de Bragança", entregou um manifesto às autoridades, pedindo-lhes que interviessem para pôr cobro ao grassar de prostituição em Bragança, que ameaçava os seus casamentos.

Situado num monte sobranceiro à cidade, perto do santuário de S. Bartolomeu, o bar ML nasceu nas instalações da discoteca Montelomeu. Era o maior da zona e o que teria mais "meninas" a trabalhar, que nos tempos áureos do negócio seriam dezenas.

Capa na Time
Foi um período de grande animação nas ruas da cidade e, sobretudo, no comércio tradicional. Ourivesarias, cabeleireiros, lojas de pronto-a-vestir e mesmo taxistas, que chegavam a levar "meninas" às compras ao Porto, nunca mais voltaram a fazer tanto negócio como esses anos. O rebuliço chamou inclusivamente a atenção da revista norte-americana Time, que, em Outubro de 2003, fez capa com aquilo a que chamou o novo "Red Light District" da Europa. Essa escolha editorial causou mal-estar em Bragança e desagradou até ao Governo, que chegou a suspender a publicidade ao Euro 2004 na revista.

Uma estudante brasileira, Priscila Araújo, da Universidade Federal de Viçosa/Minas Gerais, Brasil, esteve quatro meses no Instituto Politécnico de Bragança a desenvolver o estudo O Caso das Meninas de Bragança. Priscila acabou por descobrir que havia uma agência especializada em Braga que fazia o recrutamento no Rio de Janeiro. Segundo lhe foi revelado por um empresário da noite local, a maioria das "meninas" era oriunda de Minas Gerais, Goiás e Goiânia. Segundo contou ao Expresso em 2008, em Bragança as prostitutas eram "muito bem tratadas pelos donos dos bordéis e tinham bastante liberdade", ao contrário do que acontecia no resto do país ou em Espanha.

Camilo era, então, um dos empresários de maior sucesso. A sua ML chegou mesmo a patrocinar o clube de futebol local, o Grupo Desportivo de Bragança, ainda que por pouco tempo, devido à onda de indignação que se levantou. Mas o placard publicitário do bar perdurou durante anos no estádio municipal.

Aquando da rusga de Fevereiro de 2004, Camilo Gonçalves fugiu, pensa-se que para o Brasil, suspeitando-se de que terá tido acesso a informação privilegiada. Também passou por Espanha, onde terá voltado a explorar bares de alterne, em Alcanices, a poucos quilómetros da fronteira de Quintanilha onde foi agora detido. Ultimamente vivia em Setúbal, onde a Polícia Judiciária acreditava que explorava casas de diversão nocturna através de "testas-de-ferro". Mas ia regularmente ao Nordeste Transmontano, ver família e amigos, chegando mesmo a divulgar fotos dessa presença no Facebook.

Essa “petulância” terá ajudado a PJ a capturá-lo. Agora com 46 anos, Camilo Gonçalves estava a ser vigiado há cerca de uma semana. Na segunda-feira foi a Espanha almoçar com amigos, no carro de um cunhado, aposentado da GNR. No regresso, a Guardia Civil fechou a ponte internacional de Quintanilha, desviando o trânsito para a antiga Estrada Nacional 218, “por razões de segurança”, explicou ao PÚBLICO fonte da GNR. “Poderia ser necessário disparar algum tiro. Mas não, correu tudo de forma impecável”, conta a mesma fonte sobre a detenção que levou Camilo Gonçalves ao estabelecimento prisional de Bragança.

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