Perseguições levam ACNUR a pedir à Europa que acolha mais refugiados sírios

Há refugiados presos em esquadras no Egipto e situação não é melhor na Líbia. Na Turquia o número de sírios ultrapassa já os 600 mil

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Yahya Ahmad/Reuters

“Um número crescente de sírios está a atravessar o Mediterrâneo do Egipto para Itália, referindo uma ansiedade crescente com a sua segurança, bem como incidentes que envolvem agressões físicas, ameaças verbais, detenção e deportações”, denunciou, na sexta-feira, a porta-voz do ACNUR, Melissa Fleming, citada pela Reuters.

Na véspera, a Amnistia Internacional acusou o regime egípcio de estar a “falhar de forma abissal as suas obrigações internacionais” e de “não proteger sequer os refugiados mais vulneráveis”.

Segundo a organização de direitos humanos, a Marinha egípcia interceptou nos últimos dois meses 13 embarcações que partiram das suas costas com destino a Itália, detendo 946 refugiados, das quais 724 continuam na prisão. Acções que começaram após o golpe que derrubou o Presidente islamista Mohamed Morsi e que desencadeou no Egipto um clima de desconfiança em relação aos refugiados sírios (cerca de 125 mil, quase todos sunitas), acusados de serem simpatizantes da Irmandade Muçulmana.

A Amnistia diz que numa visita a uma esquadra de polícia em Alexandria encontrou 40 refugiados sírios detidos sem ordem judicial, dez dos quais eram crianças, incluindo dois gémeos com apenas um ano de idade. Os refugiados contaram que a polícia ameaçou transferi-los para uma prisão no Cairo a menos que assinem um papel aceitando ser deportados para outros países da região ou levados de novo para a Síria.

Não é caso único – há relatos de sobreviventes de naufrágios que depois de serem resgatados ficaram detidos e, no início do mês, um grupo de 36 refugiados, a maioria de origem palestiniana, foi deportado para Damasco e, segundo a Amnistia, vários deles foram levados para uma das prisões mais temidas dos serviços secretos sírios. “Enviar refugiados para uma zona de conflitos sangrentos é uma violação da lei internacional”, denuncia a organização.

A situação é igualmente perigosa na Líbia – um país dominado pelas milícias e que continua a ser o principal porto de partida para a Europa, já não apenas de imigrantes africanos, mas de um número cada vez maior de refugiados. O barco que naufragou no início do mês junto à ilha de Lampedusa, provocando a morte a 339 dos mais de 500 ocupantes, foi alvejado no mar, o que poderá ter danificado a embarcação e contribuído para a tragédia.

Apelo à solidariedade europeia
O ACNUR sublinha que, face aos problemas internos dos dois países e às previsões de que mais sírios vão deixar o país, “é urgente reforçar as capacidades de acolhimento nestes países do Norte de África”. Mas diz que isso não basta: “Pedimos aos países que têm meios, na Europa e não só, que mostrem a sua solidariedade não apenas com financiamento e contribuições, mas também com medidas que envolvam o acolhimento de refugiados em países terceiros e a reunificação das famílias”.

Mais de três quartos dos 2,2 milhões de refugiados sírios, metade dos quais crianças, estão em três países vizinhos, onde as capacidades de resposta estão perto do limite.

Quase 800 mil estão no Líbano, um dos países mais pequenos da região; na Jordânia nasceu em pouco mais de um ano o segundo maior campo de refugiados do mundo; e segundo números divulgados nesta segunda-feira, a Turquia acolheu já mais de 600 mil pessoas, das quais um terço está nos 21 campos erguidos junto à fronteira. Ancara é um dos governos mais hostis ao regime de Bashar al-Assad e assegurou que iria manter as fronteiras abertas aos sírios. No entanto, o primeiro-ministro, Tayyip Erdogan, anunciou recentemente que o país já gastou mais de dois mil milhões de dólares com o acolhimento de refugiados.

O ACNUR lançou um apelo para que os países ocidentais aceitem receber pelo menos 30 mil refugiados até ao final de 2014, através de programas temporários de acolhimento ou vistos humanitários. Até agora, apenas 16 países responderam ao apelo, comprometendo-se a receber pouco mais de 10 mil pessoas, quase metade das quais na Alemanha. Em Setembro, o Ministério dos Negócios Estrangeiros comunicou ao ACNUR que Portugal está disponível para receber ainda este ano 15 sírios.

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