Rede de vigilância está à espera do mosquito da dengue no continente

O surto de dengue na Madeira está na fase descendente, mas na Europa pede-se para avaliar o risco da entrada do mosquito e da doença no continente europeu. Por cá, há especialistas que querem detectá-lo assim que chegar.

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O Centro de Estudos de Vectores e Doenças Infecciosas faz o diagnóstico e a vigilância epidemiológica de muitas doenças Daniel Rocha
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A Revive recebe amostras de mosquitos que são apanhados nos portos e aeroportos do continente Daniel Rocha
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Larvas de mosquito da espécie Culiseta longiareolata, um mosquito inofensivo, recolhidas em Aveiro Daniel Rocha
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Larvas de mosquito da espécie Culiseta longiareolata, um mosquito inofensivo, recolhidas em Aveiro Daniel Rocha
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Mosquito visto à lupa, a anatomia de cada espécie é importante para a identificação Daniel Rocha
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Equipamento do laboratório da Revive onde os mosquitos e as carraças são identificados Daniel Rocha
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Mosquitos vistos à lupa Daniel Rocha
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Insectos guardados em tubos de plástico de recolhas passadas Daniel Rocha
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Um tubo de plástico com mosquito Daniel Rocha
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As caixas com os mosquitos ficam guardadas no congelador Daniel Rocha
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Vários mosquitos num tubo de plástico Daniel Rocha
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Reagente utilizado no processo de diagnóstico da dengue Daniel Rocha
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Larvas de mosquito Daniel Rocha
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Programa informático para o diagnóstico da dengue a partir de análises de sangue Daniel Rocha
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Colecção de insectos no Museu de Saúde de Águas de Moura que junta material do antigo Centro de Malariologia fundado no mesmo local Daniel Rocha
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Colecção de mosquitos da Aedes aegyptie quando a espécie existia em Portugal Daniel Rocha
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Cartazes de saúde que estão no museu contra o sezonismo, o termo utilizado para a malária, erradicada de Portugal em 1962 Daniel Rocha
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Documentos do museu Daniel Rocha
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Lâmina com mosquito da malária Daniel Rocha
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Lâmina com mosquito da malária vinda de Moçambique Daniel Rocha

O Aedes aegyptie foi detectado em 2004 na Madeira. Supõe-se que terá chegado pelo mar, vindo de um país da América Central. Põe os ovos na água, por isso a via náutica é mais perigosa do que de um único mosquito adulto que se engane e entre num avião transcontinental. Outro mistério é a origem do vírus de dengue. As fêmeas do mosquito — as únicas que se alimentam do sangue na altura da reprodução — passam o vírus para os ovos. Até é possível que os primeiros mosquitos na Madeira já trouxessem a dengue.

Em 2010 e 1011, a Revive recebeu colheitas de mosquitos em bom número da Madeira. É a região do Funchal que está mais infestada e notou-se um claro aumento da densidade de um ano para o outro. “É um mosquito muito agressivo”, explica Maria João Alves, bióloga e especialista em vírus. As larvas competem ferozmente pelo alimento e sobrepõem-se às outras espécies. Além disso, está adaptado ao homem: as fêmeas preferem o sangue humano e os mosquitos ficam junto das populações, onde põem os ovos em qualquer sítio com água.

Por isso, o controlo e a erradicação são difíceis. “As medidas de controlo foram sendo aplicadas na Madeira desde 2005. Mas é um mosquito doméstico, em que o principal método de controlo está baseado na acção humana individual”, explica por sua vez Carla Sousa, investigadora do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, que esteve na ilha a avaliar o surto. Qualquer tentativa de controlo tem de passar por um esforço colectivo em actos tão simples como o de esvaziar a água dos pratos onde estão os vasos das plantas.

Segundo o último relatório da Direcção Geral da Saúde (DGS), entre 10 e 16 de Dezembro houve 53 novos casos de dengue na Madeira. Uma descida de 7% em relação à semana anterior, assinalando a diminuição do surto que acompanha o Inverno.  

Mas o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças avisa que, caso a dengue se estabeleça na Madeira, tem de haver “uma avaliação cuidadosa do risco de se espalhar para a Europa continental durante o Verão de 2013”. Para avaliar esse risco, explica Carla Sousa, é necessário identificar todas as rotas comerciais e populacionais vindas da Madeira e ter em conta quais as regiões em que o mosquito se pode estabelecer em Portugal [continental]. Fora da ilha, já foram detectadas 58 pessoas com dengue que tinham lá estado.

 “É preciso alinharem-se os planetas para um surto como o da Madeira acontecer. É preciso ter vírus, hospedeiros susceptíveis e o vector [o Aedes aegyptie]. Mas o factor mais importante parece ser a densidade do mosquito”, diz Maria João Alves. Desde 2005, que a DGS exigiu que os aviões que saem da Madeira sejam pulverizados para evitar o transporte dos mosquitos. A investigadora defende que a globalização é a principal responsável pela propagação destes mosquitos e não as alterações climáticas.

A Revive tem a sua sede no Centro de Estudos de Vectores e Doenças Infecciosas, que fica em Águas de Moura, em Palmela, e pertence ao Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge. O centro é um substituto do Centro de Malariologia, construído pelo magnata norte-americano John Davison Rockefeller em 1938. Esta região, junto do rio Sado, era uma das mais atacadas pela malária. O centro foi o grande responsável pela erradicação desta doença nas décadas seguintes.

Agora, é aqui que a equipa de Maria João Alves recebe os mosquitos recolhidos em todo o continente por técnicos das cinco administrações regionais de saúde. De Maio a Outubro, as equipas vão para o campo apanhar os insectos e em Águas de Moura são identificados e analisados.

Foi aqui que se confirmaram os primeiros casos de dengue da Madeira. O surto obrigou a continuar a recolha de mosquitos nos portos e aeroportos. Quando o PÚBLICO visitou o centro, tinham chegado larvas de mosquitos capturados no porto de Aveiro, que estavam ainda a nadar num copo de plástico. Hugo Osório, doutorando, especialista em insectos, identificou a espécie: “São estádios diferentes de larvas, mas parecem ser da mesma espécie, a Culiseta longiareolata.” É uma espécie inofensiva.

Para fazer a identificação, é preciso distinguir a morfologia de cada mosquito,não só a forma adulta mas também a larva e o ovo. O Aedes aegyptie adulto é preto, mas tem as patas listadas e o desenho de uma lira prateada no dorso. A Revive nunca o apanhou. “Pode ter uma densidade tão pequena que ainda não detectámos”, explica Maria João Alves. O importante, diz, é que se detecte o mais rapidamente possível assim que chegar e passar, logo de seguida, ao controlo.

O Aedes aegyptie pode transmitir ainda o vírus da febre-amarela ou o do Chikungunya. E não é o único mosquito com esta competência. O Aedes albopictus também transmite a dengue. Esta espécie encontra-se em muitos países da Europa, desde que se detectou na Albânia em 1979. Em 2004, estabeleceu-se na Catalunha e está a descer pela costa mediterrânica.

“Não sei de nenhum estudo sobre a adequação do Aedes albopictus a Portugal”, refere Carla Sousa, contando ainda que a sua equipa já se candidatou dois projectos de investigação a fundos da Fundação para a Ciência e a Tecnologia para fazer esta avaliação, mas não ganhou. Sem esta avaliação, diz, é difícil saber o risco a que Portugal está sujeito.

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