Espanhóis produzem azeite no Alentejo para ser vendido com rótulos italianos
O grupo espanhol Innoliva investiu desde 2007 no Alentejo e na Andaluzia cerca de 126 milhões de euros na aquisição de 5000 hectares de terras, na preparação dos solos, sistemas de rega, equipamentos agrícolas e na instalação de um lagar. A envergadura do investimento destina-se a transformar uma produção anual prevista de 56.000 toneladas de azeitona de variedade arbequina em 11.000 toneladas de azeite português e espanhol, que a empresa exporta para ser embalado com rótulos italianos. A empresa espera obter 40 milhões de euros em vendas.
"Queremos ser uma referência mundial na produção de azeite virgem extra por via da introdução de tecnologia e inovação no cultivo" de olivais superintensivos ou em sebe, argumenta Miguel Rico, presidente do Grupo Innoliva.
No entanto, não consegue esconder a sua contrariedade quando revela que um azeite de excelente qualidade que podia valorizar a imagem da região onde é produzido, "é vendido sob marcas italianas". "Nem sequer sabemos [exactamente] quais os mercados onde é colocado" lamenta-se o presidente da Innoliva, quando confrontado pelo PÚBLICO sobre o destino final do azeite que é produzido no Alentejo. Desconforta-o saber que um azeite que "é vendido a 2,5 euros o quilo chega ao consumidor americano a 50 euros" sublinha.
Pensar a longo prazoMiguel Rico reconhece que " é extremamente difícil" entrar no mercado da distribuição controlado pelos italianos. "Eles têm muitos milhares de restaurantes com a sua gastronomia dispersos pelo mundo e ao lado está sempre uma loja de promoção de azeite". Combater esta forma de monopólio é uma tarefa que o presidente da Innoliva se propõe realizar de uma forma metódica e persistente, procurando consolidar uma aliança estratégica a médio e longo prazo com a distribuição.
O grosso da produção da empresa espanhola concentra-se no Alentejo. Entre 2008 e 2011, a empresa plantou olivais em Moura, Cuba, S. Manços (Évora), Figueira de Cavaleiros e Gasparões (Ferreira do Alentejo). Ao todo, são 3500 hectares de olivais superintensivos onde crescem cerca de sete milhões de árvores. As outras explorações do grupo, cerca de 1500 hectares, localizam-se nas províncias de Córdoba e Badajoz. Na sexta-feira, a ministra da Agricultura, Assunção Cristas, inaugurou um sofisticado lagar de azeite na Herdade do Carapetal em Santiago do Cacém, que alberga um total de 22 silos, fabricados totalmente em aço inoxidável numa empresa de Córdoba e cinco centrifugadoras fabricadas na Alemanha.
A capacidade total de armazenamento é de quase 2,3 milhões de quilos de azeite, e implicou, numa primeira fase, o investimento de cinco milhões de euros de um total previsto de 7,3 milhões de euros.
Portugal, adianta a Innoliva, é um dos países que a nível mundial mais tem "aumentado a superfície cultivada". E fê-lo com os critérios "da nova e moderna olivicultura, o que lhe permite, não apenas aumentar a sua capacidade produtiva, mas também produzir melhores azeites" acrescenta.
Assim, pelas contas do investidor espanhol a produção actual no território nacional é de 70.000 toneladas de azeite e necessita de, contando com o mercado nacional e exterior, aproximadamente 110 mil toneladas.Actualmente, em todo o mundo, estão plantados 100.000 hectares de cultivos superintensivos de olival, dos quais 40.000 se encontram em Espanha, 12.000 em Portugal, 5000 na Tunísia, 4000 em Marrocos, 10.000 nos Estados Unidos da América e 10.000 no Chile.
A primeira diferença em relação às explorações tradicionais de olival (que representa 89 por cento da produção mundial, 78 por cento da produção de Espanha e 87 por cento em Portugal) é o número de oliveiras por hectare.
No modelo tradicional, existem 75 e 125 árvores por hectare, no modelo intensivo cerca de 300 árvores e no superintensivo, empregue pela Innoliva, chega a obter-se o número de 2000 árvores por hectare.
O Grupo Innoliva que tem como accionistas o Grupo MRA, (oriundo do sector da construção civil) a Polan S.A. (empresa de investimentos patrimoniais da família Del Pino) e a Caixa Catalunya, testa no Alentejo os seus modelos produtivos e empresariais, em colaboração com a Universidad de Córdoba e o apoio do banco português BPI com um investimento 55 milhões de euros. E espera poder transpor a experiência consolidada para outras zonas do globo.