Tunísia: balanço oficial reconhece que 14 pessoas foram mortas por balas nos motins
Os confrontos de sábado à noite em Thala e Kasserine, duas cidades a cerca de 50 quilómetros de distância uma da outra, foram os mais violentos desde que começou a onda de contestação por causa do alto desemprego. Thala é perto da fronteira com a Argélia, onde decorreram também protestos pelo aumento de preços e desemprego.
Os manifestantes dizem que querem mais emprego e investimento do Estado, enquanto o Governo tem afirmado que se trata de extremistas que querem prejudicar os interesses nacionais, ao desencorajar investimento e turismo.
O discurso oficial encara os participantes nos motins como “assaltantes”. Por isso o ministro do Interior, segundo a AFP, disse que mais duas pessoas do que as contabilizadas anteriormente tinham sido mortas no domingo, entre os “assaltantes” de Kasserine.
O ministro afirmou ainda que a polícia tinha disparado tiros de aviso, tentando impedir uma multidão de atacar edifícios governamentais. “A polícia disparou em autodefesa”, dizia um comunicado do ministério.
Foram as primeiras mortes em confrontos desta onda de protestos na Tunísia – antes tinha havido suicídios (ou tentativas) em protesto, mas não resultado da violência das autoridades.
Mas testemunhas contactadas pela Reuters falaram do envolvimento de militares, que se posicionaram em torno de vários edifícios administrativos e bancos, sobretudo em Thala.
É a primeira vez que há relatos do envolvimento do Exército a ajudar a polícia a controlar manifestações nesta onda de protestos.
A oposição reuniu-se ontem de emergência em Tunes. “Estamos a avançar para o desconhecido”, disse ao jornal francês Le Monde Ahmed Brahim, ex-candidato às eleições presidenciais pelo Ettadjdid, um partido pós-comunista que conseguiu eleger dois deputados para o Parlamento. “O poder tem de reavaliar as suas acções e retirar as forças que cercam as cidades”, disse.
Os EUA expressaram na sexta-feira formalmente a sua preocupação com o modo como a Tunísia está a lidar com esta vaga de contestação. O país teve apenas dois presidentes desde a independência de França, há 55 anos. Protestos como estes, gerados pelo desemprego que grassa sem esperança entre os mais jovens e mais educados, são muito raros.