Ocidente insiste que Hamas deve renunciar à violência e reconhecer Israel
“É importante que o Hamas compreenda que terá de decidir entre a via da democracia e a via da violência”, afirmou o primeiro-ministro britânico, numa primeira reacção à vitória dos integristas, que superaram nas urnas a Fatah, o partido histórico palestiniano.
Blair garantiu que o seu Governo britânico “reconhece o mandato do Hamas, já que resulta da vontade expressa pelo povo palestiniano”, mas sublinha que o movimento só pode assumir-se como um parceiro internacional credível se promover “a democracia e a coexistência pacífica com o Estado de Israel”.
“Só podemos negociar com pessoas que tenham renunciado ao terrorismo”, sublinhou Blair, insistindo num alerta que já tinha sido feito por vários dirigentes da União Europeia, até aqui um dos principais aliados internacionais da Autoridade Palestiniana.
Os 25 doaram nos últimos anos milhões de euros para ajudar à reconstrução e desenvolvimento económico dos territórios palestinianos – uma ajuda que poderá ser posta em causa face à vitória dos integristas.
“É obvio que a UE não vai continuar a financiar um regime que promove a luta armada contra Israel”, afirmou Ignasi Guardans, eurodeputado espanhol, apesar de sublinhar que os 25 “não podem promover a democracia e depois negar o resultado de eleições livres e justas”.
“Estas eleições colocam-nos perante uma situação inteiramente nova, que necessita de ser analisada”, afirmou, por seu lado, Javier Solana, alto representante para a Política Externa da UE, anunciando a realização, na próxima segunda-feira, de uma reunião dos chefes da diplomacia europeia para analisar a resposta dos 25 à vitória dos radicais.
Também o primeiro-ministro francês, Dominique de Villepin, lembrou que o reconhecimento do Estado de Israel, a renúncia à violência e a promoção da paz são condições “indispensáveis” para que a comunidade possa trabalhar “com qualquer Governo palestiniano”.
EUA não alteram posição sobre o HamasNuma posição mais extremada, o Presidente norte-americano garantiu que a vitória Hamas não altera a posição dos EUA em relação ao movimento, que integra há vários anos lista de organizações terroristas formulada pelo Departamento de Estado.
Nesse sentido George W. Bush garantiu que Washington não irá encarar o Hamas como um parceiro nas negociações de paz para o Médio Oriente enquanto o grupo não reconhecer o Estado de Israel. “Quero deixar claro que um partido político que inclui a destruição de Israel no seu programa não é um partido com o qual possamos negociar”, afirmou, durante uma conferência de imprensa em Washington.
Ainda assim, o Presidente norte-americano escusou-se a usar o termo “terrorista” e garantiu que, apesar das dificuldades, os EUA “vão examinar com atenção” o processo de formação do novo Governo palestiniano.
Bush disse ainda esperar que o Presidente Mahmoud Abbas, líder da Fatah, se mantenha em funções, o que lhe permitirá a Washington conservar um parceiro negocial do lado palestiniano. “A mensagem que lhe enviamos é a de que esperamos que ele continue a trabalhar para fazer avançar o processo de paz”, afirmou Bush.
Annan acredita no desarmamento do movimentoO mesmo tom foi usado pelo secretário-geral da ONU, Kofi Annan, para quem o exercício de funções políticas não é compatível com a luta armada.
“Qualquer grupo que queira participar num processo democrático deve, em última análise, desarmar-se, pois o uso de armas e a presença num Parlamento são uma contradição fundamental que estou certo o Hamas vai evitar”, afirmou Annan.
Contudo, o dirigente da ONU mostrou-se disponível para trabalhar com o novo Governo e saudou a Autoridade Palestiniana pela forma como decorreram as eleições.