Vai abrir um Museu do Louvre em Abu Dhabi
Emiratos Árabes Unidos pagam 750 milhões de euros. Extensão do museu pode ajudar a França a afirmar-se na região
O Museu do Louvre vai ser a próxima conquista cultural de Abu Dhabi, juntando-se ao Guggenheim na capital dos Emiratos Árabes Unidos, que vai investir 21,5 mil milhões de euros num bairro cultural e financeiro na ilha Saadiyat. Uma delegação do Governo francês está desde ontem em Abu Dhabi para finalizar o negócio preparado há mais de um ano.Esta não é a primeira vez que o Louvre é exportado para o estrangeiro - já está no Museu de Atlanta, EUA, ao qual cedeu 185 obras de arte por três anos, recebendo 13 milhões de euros pelo empréstimo. Para ter o Louvre de uma forma mais permanente, os Emiratos vão pagar 750 milhões de euros. É o preço a pagar por um museu que tem uma das melhores (e maiores) colecções de arte do mundo e que será o eixo principal do bairro cultural - em Paris o Louvre foi visitado por 7,5 milhões de pessoas e as autoridades de Abu Dhabi acreditam que o museu vai tornar a cidade na capital cultural da região.
Mais avançado está o Guggenheim, que vai abrir o museu em 2012, com projecto do arquitecto Frank Gehry. Até aqui haverá alguma competição entre as duas instituições: o projecto do Louvre será desenhado pelo francês Jean Nouvel. Para ambos há regras a cumprir quanto às obras que vão mostrar: a nudez está excluída, assim como peças que possam ofender o islão.
A extensão do Louvre (ao qual se vão associar obras do Centro Pompidou, Museu d"Orsay, Palácio de Versalhes e Museu de Quai Branly) não é pacífica em França - o Libération já escreveu que este é o negócio "mais controverso na história da política cultural francesa". Segundo o inglês Guardian, também tem menos a ver com cultura e mais com política e interesses económicos. O Presidente francês, Jacques Chirac, é um defensor do entendimento entre o Ocidente e o Oriente - o Museu do Quai Branly, o grande projecto cultural do seu mandato, centra-se nas obras produzidas por civilizações de África, das Américas, da Ásia e da Oceânia.
A França quer afirmar-se na região e a cultura pode ajudar - curadores franceses estão envolvidos na construção de um museu islâmico no Qatar, desenhado por I. M. Pei, que criou a pirâmide de vidro do Louvre, e a Universidade de Sorbonne também vai abrir em Abu Dhabi para 1500 alunos das mais ricas famílias dos Estados do Golfo. É a primeira vez nos 750 anos da universidade que a Sorbonne sai de França. (A exportação cultural chega a Luwan, perto de Xangai, na China, para onde irá o Centro Pompidou, e a São Paulo, no Brasil, para onde se ramificará o Museu Rodin.)
No plano económico, os Emiratos têm mais de nove por cento das reservas de petróleo mundiais e são um cliente com muito poder de compra. Um exemplo: encomendaram 43 aviões do muito atrasado Airbus 380, produzido em França. O editor do Journal des Arts, Philippe Régnier, diz que é por estas razões que a extensão do Louvre não é conduzida pelo museu ou pelos seus curadores, mas pelo Ministério da Cultura. Segundo os jornais franceses, o director do Louvre, Henri Loyrette, não concordou no início, tanto mais que o museu tem o seu próprio plano de extensão - vai abrir em Lens em 2008 e emprestar 270 obras ao Museu do Quebeque para as comemorações dos 400 anos da cidade canadiana.
Há outras questões - não se sabe se os 750 milhões de euros vão ser investidos em projectos do Louvre, que em 2009 vai abrir uma ala dedicada à arte islâmica, patrocinada pelo príncipe multimilionário saudita Walid bin Talal, com 17,3 milhões de euros. O museu tem 10 mil artefactos que percorrem a civilização islâmica, desde a Espanha à Índia.