É assim que Paula ouve o mundo: um zumbido constante, um “pi” que se intromete no barulho da vida.

Quando volta a casa, depois de um longo e barulhento dia de trabalho no Hospital de São João, no Porto, a rotina é sempre a mesma. Paula Sousa descalça-se, veste uma roupa confortável e descansa uns minutos, antes de começar a preparar o jantar. O telemóvel até ficou na mala, a televisão não tenciona ligar. À volta, nada (nem ninguém) está a fazer barulho. Mas, em vez de silêncio, Paula ouve um zumbido constante, como se tivesse trazido os ruídos do hospital para casa.

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Enfermeira Paula Sousa Nelson Garrido

Algo se passa com a sua audição e Paula sabe-o. Os zumbidos passaram a fazer parte da rotina. Também começou a falar mais alto, num esforço constante para se fazer ouvir. No trabalho, perde-se nas conversas. Muitas vezes tem de pedir que repitam esta ou aquela frase. Passou a atender o telefone com o ouvido esquerdo porque do direito ouve cada vez menos. “Parece que tenho um ouvido sempre dentro de água”, diz.

Depois, vieram crises de vertigens. Quando estas batiam à porta, não havia forma de Paula sair do quarto. Estar deitada no escuro sem mexer a cabeça ajudava, mas pouco. Nada podia fazer a não ser esperar que aquilo passasse.

Nas fases iniciais da doença, esta enfermeira do São João enfrentou o cepticismo dos colegas. Ninguém ouvia o que Paula ouvia, ninguém percebia que ruídos eram aqueles. “Havia um grande desconhecimento sobre estes sintomas, associavam as vertigens e os zumbidos a problemas mentais. Diziam-me muitas vezes que era da minha cabeça.”

“Estás demasiado stressada. Isso é cisma", ouvia.

Recorreu a um médico ali mesmo no São João. Os exames revelaram que as vertigens estavam ligadas à Síndrome de Ménière. Já lá vão dez anos a viver com esse diagnóstico. Nessa altura, trabalhava por turnos, muito deles durante a noite. A enfermeira acredita que isso pode ter desencadeado as crises de vertigens que se seguiram.

Além desta síndrome, Paula soube que os zumbidos que ouvia — e que, entretanto, se tinham tornado mais fortes e mais frequentes — eram tinnitus, a percepção de um ruído nos ouvidos ou na cabeça que acontece sem que qualquer fonte externa de som o esteja a emitir. Podem ser um toque, uma campainha, um formigueiro, um murmúrio ou um assobio.

Os tinnitus, também conhecidos por zumbidos ou acufenos, têm atormentado a humanidade pelo menos desde a civilização babilónica. Afectaram anónimos e figuras históricas como Leonardo da Vinci e Charles Darwin. Ter zumbidos nos ouvidos tornou-se particularmente comum durante os períodos de guerra e durante a era industrial. Hoje, num mundo cada vez mais barulhento, estima-se que uma em cada sete pessoas experienciem esta sensação auditiva.

Paula, agora com 40 anos, passou a ter crises de vertigens duas a três vezes por semana, que duravam entre quatro a cinco horas por dia. “Podiam acontecer a qualquer altura. Já me aconteceu enquanto conduzia, mas tive alguns segundos para parar o carro.”

A Síndrome de Ménière — é assim chamada em homenagem ao médico francês que a descreveu — é investigada desde o século XIX, mas as causas não são bem conhecidas. Pode resultar de problemas circulatórios, alérgicos, genéticos ou estar relacionada com infecções virais ou com traumatismos. O tabaco e o álcool também têm sido apontados como potenciais responsáveis.

“Durante as crises de vertigens, o doente pode ficar com um zumbido mais intenso (se já o tiver), perda auditiva (que também se pode agravar) e uma sensação de pressão no ouvido. Após estes períodos, os sintomas acalmam e podem mesmo desaparecer”, refere Pedro Marques, especialista em otorrinolaringologia do São João.

“Era assustador, como uma sensação de morte iminente”, conta Paula. “Era impensável ir à casa de banho sozinha na minha própria casa, não tinha noção da profundidade das coisas, da parede, do chão. Ou não ia ou ia a muito custo com o risco de cair. Ficava tudo turvo, a visão também.” E o ruído estava sempre lá, não contínuo, mas com flutuações, como se estivesse a ajustar a sintonização de um rádio.

O tratamento desta síndrome passa por estabilizar — com medicação ou alterações no estilo de vida — as crises de vertigem, que têm o maior impacto na vida do doente. Quando é possível controlá-las de forma eficaz, a audição e o zumbido também tendem a melhorar. “Com o passar do tempo, há tendência de perda auditiva progressiva. É uma doença que, depois de 20 ou 30 anos com quadro activo, acaba por estabilizar. Depois disso, o doente deixa de ter crises de vertigem”, refere o médico do São João.

A doença de Ménière e os zumbidos que tantas vezes a acompanham podem mesmo ter sido a causa que levou o pintor holandês Vincent van Gogh a cortar a orelha, segundo apontam vários estudos.

A troca para horários mais fixos e diurnos, aliada a alguns tratamentos e medicação, foram o começo de uma fase mais tranquila para Paula. Tinha menos crises e o zumbido também ficou mais controlado. “O ruído incomoda, mas já são muitos anos, acabei por me habituar. Tenho alguma dificuldade quando há barulho na sala operatória, até porque sou mais da área da ortopedia, que é muito barulhenta por causa das ferramentas e das máquinas. Mas, se não entender o que me dizem à primeira, entendo à segunda”, conta.

O sono é uma das tarefas mais desafiantes, mas Paula já desenvolveu truques para enganar o cérebro. “O meu ouvido afectado é o direito, tento dormir para esse lado para tentar tapar, mas acaba por ser psicológico porque o zumbido está lá dentro na mesma.”

A enfermeira não tem crises de vertigens há mais de quatro anos, mas continua medicada. O cenário ideal, como explica o médico Pedro Marques, é que as vertigens continuem controladas com a menor quantidade de medicação possível. “Tentámos fazer o desmame, mas, coincidência ou não, apareceu-me o ruído novamente. Voltámos ao ponto zero”, conta Paula.

Um problema (que não é só) da velhice

Os zumbidos podem ter origem em qualquer parte do sistema auditivo. Às vezes, são um problema temporário e aparecem num período de maior stress, fadiga ou de privação do sono. Mas, para milhões de pessoas, o barulho nos ouvidos é uma companhia constante. São ruídos-fantasma a que é impossível fugir. Se os zumbidos persistirem por mais de seis meses, é pouco provável que alguma vez desapareçam totalmente. Podem aparecer a partir da adolescência e do início da idade adulta, mas afectam sobretudo pessoas mais velhas.

Quando um doente entra no consultório de Pedro Marques, especialista em otorrinolaringologia do São João, a queixar-se de zumbidos, o primeiro passo é excluir patologias que os possam estar a causar: tumores, alterações vasculares ou musculares, aneurismas da artéria carótida, neoplasias, tromboses, acumulação de cerúmen (cera) ou alterações relacionadas com os órgãos do ouvido interno. Alguns medicamentos, como a aspirina ou os anti-inflamatórios, assim como doenças sistémicas como a hipertensão ou a depressão, também podem associar-se a zumbidos. O mesmo acontece com o tabagismo.

Muitos doentes saem dos consultórios com uma notícia difícil de ouvir: nem sempre um zumbido tem uma causa associada.

Para Rita Sousa, tudo começou há 16 anos, quando estava grávida. Primeiro, chegaram algumas tonturas e um “pequeno zumbido” — “como o barulho que ouvimos quando estamos constipados”. A situação só piorou durante a semana em que esteve internada, já depois do parto. Rita chegou a queixar-se ao médico que a acompanhava, que lhe receitou paracetamol. Mas nada parecia resolver a situação.

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Rita Sousa Nuno Ferreira Santos

Nos meses seguintes, e com um recém-nascido nos braços, tanto as tonturas como o zumbido continuaram presentes e dificultaram muito a vida de Rita. “Comecei a ter perda de audição, mas o que mais me afectava eram as tonturas. Quando ia buscar o meu filho à creche, chegava a casa e havia alturas em que não me conseguia mexer. Tinha de ligar ao meu marido para vir tirar o bebé do carro. Acordava de noite com tudo à roda, com vómitos. No trabalho cheguei a ter um caixote do lixo ao lado.”

Anos e anos sem um diagnóstico

Seguiram-se anos e anos em que Rita andou "desesperada" sem saber que problema tinha, a saltar de médico em médico, de consulta em consulta e de exame em exame. “Quando comecei a ser acompanhada no Hospital de Leiria esta doença era muito desconhecida. Só depois de ter consultas no Santa Maria é que descobri que tinha Síndrome de Ménierè e que o barulho que ouvia eram zumbidos”, diz.

Acabou por deixar de ouvir quase por completo do ouvido esquerdo e as tonturas acabaram por ser apenas ocasionais. Por outro lado, o ruído começou a ficar cada vez mais forte. “Era muita coisa ao mesmo tempo, muitos barulhos, não estava habituada. Além de não ouvir, ainda tinha o zumbido, que me perturbava ainda mais. Estava sempre presente.”

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Rita Sousa Nuno Ferreira Santos

O volume dos tinnitus pode variar. Durante o dia-a-dia, no meio de tantos sons e barulhos, pode até passar despercebido e ser apenas perceptível no silêncio, como quando tentamos adormecer. Mas em algumas situações pode ser tão alto e com tantas variações que se torna incapacitante. A falta de sono e a incapacidade de viver a vida de forma normal ou até de trabalhar geram ansiedade. Para muitos doentes é difícil abstrair-se daquele som e isso pode realçá-lo ainda mais. E assim começa um ciclo vicioso.

Durante as consultas, é comum Pedro Marques ouvir doentes referirem que, quando andam mais nervosos, mais cansados e mais stressados, o ruído fica mais intenso, incomoda mais. Quando andam mais relaxados, mais descansados, o zumbido torna-se mais suave.

Foi o ouvido direito que “salvou” Rita durante muitos anos. Trabalhar no atendimento ao público já era um desafio, mas sem escutar do ouvido esquerdo e com o direito a meio-gás, Rita tinha de fazer um esforço árduo para se concentrar e manter uma conversa. "Bastava a pessoa estar do meu lado esquerdo para não ouvir nada. Falavam para mim, chamavam e eu não ouvia e não respondia”, conta.

toque para ouvir a diferença
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Som ambiente

Som ambiente (com tinnitus)

Tornou-se difícil lidar com os colegas, mas ainda mais com os clientes, que não conheciam o problema de Rita e que por vezes “perdiam a paciência”. “Uma vez chorei porque um cliente me tratou muito mal. Disse-lhe que não tinha conseguido ouvir e ele respondeu que então não devia trabalhar ali.”

Durante muito tempo, apesar da medicação diária para controlar a situação, o zumbido não era estável, e mesmo as pequenas mudanças da rotina faziam com que este “disparasse”. Bastava que Rita estivesse com fome, mais cansada ou stressada. Noutras vezes, nada de diferente acontecia e mesmo assim o barulho tornava-se insuportável.

“As minhas colegas às vezes riam-se porque falavam e eu não ouvia. A coisa que mais me custa é chamarem-me e eu não saber localizar a origem do som. É algo que ainda não consegui ultrapassar. Fico ridícula, olho para todo o lado. Tenho dias em que ando mais em baixo, mas sempre tentei não dar muita importância”, conta.

A vida social tornou-se escassa porque Rita deixou de entender partes das conversas. Aprendeu a ler os lábios e a perceber grande parte das palavras, mas a pandemia trouxe as máscaras e passou a ter de pedir que repetissem várias frases.

“Às vezes, parecia que a minha cabeça ia rebentar, que me estavam a meter algo no ouvido. Quando ia a um sítio com barulho chegava à cama e ainda mais barulho ouvia. Ao deitar era complicado. Pensava: ‘Vou enlouquecer, é hoje’. Havia dias em que estava esgotada. Queria muito ouvir, e precisava de ouvir, mas de ano para ano sentia-me mais cansada”, relata.

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Som ambiente

Som ambiente (com tinnitus)

Até que, em 2020, o Estado português passou a comparticipar a cirurgia de implante coclear e Rita teve luz verde para a operação, que aconteceu em Abril de 2021, no Santa Maria. Segundo explica Leonel Luís, director do serviço de Otorrinolaringologia deste hospital, um implante coclear é um tratamento "inovador e eficaz" que substitui a parte danificada do ouvido e "envia os sinais eléctricos directamente ao nervo auditivo" - ao contrário dos aparelhos auditivos, que apenas amplificam o som. O doente é elegível para um destes implantes desde que o acufeno esteja associado a "surdez importante", o que, segundo Leonel Luís, acontece em muitos casos.

A possibilidade de voltar a escutar do ouvido esquerdo com a mesma precisão de há 16 anos é grande, mas, até lá, a terapia da fala terá de continuar a ser uma parte crucial da vida de Rita. O ouvido que durante anos pouco ou nada captou está agora a aprender a decifrar sons. Alguns, como o barulho do saco plástico, já reconhece, mas conversas e frases inteiras ainda são difíceis de decifrar. Quanto ao zumbido, ainda está presente, mas melhorou bastante. “É constante, não há picos. É mais fácil lidar com ele, já estou habituada.”

Um problema com uma prevalência muito significativa

Carla Moura, directora do serviço de otorrinolaringologia do São João, explica que há casos operáveis e tratáveis, mas nem todos o são. Por vezes, nada pode ser feito para curar os zumbidos e os doentes têm que aprender a viver com um constante “zzzzz” nos ouvidos, que pode conduzir a níveis extremos de ansiedade ou, em casos extremos, ao suicídio. “Nunca tive um caso de suicídio, mas tenho muitos doentes que me dizem que não conseguem viver com os zumbidos.”

A médica diz que é difícil avançar com um número de pessoas que sofrem deste problema em Portugal por ser um sintoma transversal a muitas doenças, principalmente a partir de uma certa idade. O certo é que os zumbidos têm uma prevalência “muito significativa” e a prevenção para os evitar é crucial.

Segundo um estudo realizado entre 2017 e 2018 em 12 países europeus e publicado no fim de 2021 na conceituada revista científica The Lancet, mais de um em sete adultos da União Europeia (UE) têm tinnitus. Extrapolando este estudo para a população geral, aproximadamente 65 milhões de adultos na UE ouvem algum tipo de zumbido, 26 milhões ouvem ruídos incómodos e quatro milhões têm casos graves de acufenos.

Infografia

Os traumas acústicos são outra das causas mais frequentes dos zumbidos. Estes “pis” funcionam como um alerta de que houve uma agressão ao ouvido. “Quando vamos a uma discoteca, saímos a ouvir zumbidos. Se não houver uma exposição contínua eles desaparecem, mas se frequentarmos muitas vezes esse ambiente, o zumbido vai-se instalar de uma forma definitiva”, diz Vítor Silva, otorrino da CUF.

Os trabalhadores dos aeroportos (nas pistas de aterragem e de descolagem, mas não só), da construção civil, os mecânicos e os músicos correm um maior risco de desenvolver problemas auditivos porque estão expostos, durante muito tempo, a sons muito altos.

Apesar de “anos e anos” a tocar música rock em ensaios e concertos, o zumbido de Jorge Cruz — cantor, compositor e fundador da banda portuguesa Diabo na Cruz — não surgiu unicamente por causa da música.

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Jorge Cruz Diogo Baptista

“Acho que a minha situação é mais semelhante à das pessoas que são expostas a explosões porque tive um evento de trauma acústico isolado. Durante um evento, numa brincadeira, um menino gritou-me ao ouvido esquerdo com um tubo. Senti logo o impacto, mas não detectei mais nada. Durante a noite, acordei com um apito altíssimo na cabeça”, descreve.

Essa foi a primeira noite em que o zumbido não permitiu que Jorge voltasse a adormecer, algo que viria a acontecer muitas vezes nos quatro anos que se seguiram. Aquele som "ininterrupto, muito alto e agudo”, como um alarme do recreio da escola a tocar o dia inteiro, não parou. No dia seguinte, foi ao médico, que lhe detectou uma perda de audição, mas nenhum problema de saúde mais grave que pudesse estar a causar o zumbido.

Antes deste episódio acústico traumático, Jorge tinha passado cerca de três meses, durante 12 a 14 horas por dia, a trabalhar com ruídos muito altos e com auscultadores durante a produção de um álbum, um hábito que apelida de “abusivo” e que pode ter sido um começo que passou despercebido.

“Depois de descartar que não há problemas graves, mandam-nos para casa com um diagnóstico complicado de receber. Dizem-nos que não tem cura, que é para a vida inteira, para nos habituarmos. Como é que me habituo a isto? A primeira sensação que tive foi a de que não ia aguentar viver a minha vida assim”, conta, sublinhando que, nas fases iniciais, é imprescindível que os médicos expliquem este sintoma de forma "sensível".

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Som ambiente

Som ambiente (com tinnitus)

Durante muito tempo, Jorge não explicou a ausência dos palcos, nem mesmo depois do fim dos Diabo na Cruz, porque acreditava que os zumbidos iam acabar por desaparecer.

“É um problema que as pessoas não vêem, fazem perguntas e é muito difícil explicar. Senti um grande alívio quando comecei a falar nas redes sociais e em entrevistas. Recebi centenas de mensagens de pessoas a pedir conselhos e a contarem as suas histórias. Há muita gente que vive nessa situação e que não sabe que não é normal ouvir um zumbido constante.”

E nos quase quatro anos que se seguiram, Jorge desenvolveu tácticas para se habituar ao constante ruído nos ouvidos: começou a meditar, mudou a alimentação e as rotinas de sono. Aprendeu a viver melhor com os zumbidos, a não deixar apoderar-se por eles.

Segundo Carla Moura, otorrinolaringologista do São João, uma das técnicas terapêuticas com melhores resultados é também a mais difícil de propor a quem sofre de tinnitus. Passa por expor o doente a um som, idealmente da natureza – como uma cascata a correr ou ondas a rebentar – num nível e intensidade que não mascare completamente o zumbido.

“Esta exposição de forma continuada faz com que se comece a desvalorizar o zumbido como um som que esteja a interferir com o dia-a-dia. Deixa de ser interpretado de uma forma negativa”, diz a médica. “Tenho dificuldade em fazer com que os doentes adiram porque ouvem e dizem: ‘A sério, é só isto? Não há medicamentos? E cirurgia’?”

Mas foi precisamente esta táctica que resultou com Jorge.

“A associação emocional que agora faço ao som é diferente. Não tenho pânico, não ligo tanto como no início. Desde os primeiros tempos, é importante que o stress, a adrenalina, o medo do som não dominem a pessoa porque o cérebro vai associar esse som ao perigo em todas as alturas.”

Ainda assim, estas estratégias não fizeram com que o zumbido desaparecesse. Jorge teve “três ou quatro” momentos de silêncio nos últimos anos, “uma meia hora talvez”, não mais. Dar passeios na natureza, ler e adormecer no silêncio são um suplício. “É difícil acalmar e não ligar ao som porque é a única coisa que ouvimos naquele momento”, conta.

Mas o que lhe custou foi o afastamento dos palcos. “Vivi toda a minha vida para a música. Dava muitos concertos e durante um tempo ainda tentei continuar porque tinha muitas obrigações profissionais, mas chegou a um ponto em que não consegui continuar porque não queria piorar.”

Hoje, em vez de tocar música, Jorge escreve-as para outras pessoas e pensa todos os dias numa cura. “Não sei quantos anos vou viver, mas a ciência pode evoluir. Espero que os zumbidos não sejam uma coisa que vai estar comigo a vida inteira.”