Modelo de negócio Airbnb permite discriminação racial, diz Harvard
Um estudo diz que a aplicação permite aos utilizadores fazer discriminação racial com base em fotografias.
As histórias de reservas de casas através da Airbnb, uma plataforma online de reserva de alojamentos, utilizada em mais de 191 países e cada vez mais popular em Portugal, variam entre críticas de utilizadores satisfeitos, alguns problemas e embora muito raros, já houve casos de investigação policial por queixas de violação. Agora, chega uma nova denúncia. Nos últimos dias, a hashtag #AirbnbWhileBlack tornou-se viral no Twitter. A acompanhar a hashtag, multiplicam-se os utilizadores que partilham as suas experiências de discriminação racial. E têm razão. Um estudo recente da Harvard Business School conclui que os utilizadores da Airbnb discriminam os utilizadores afro-americanos, escreve o jornal britânico The Guardian.
Conduzido durante o mês de Julho de 2015, com mais de 6,4 mil mensagens enviadas, o estudo aponta evidências de “discriminação contra os utilizadores afro-americanos à procura de alojamento”, por parte dos anfitriões. “O mercado online trazia consigo a esperança de terminar definitivamente com a discriminação”, ainda assim a análise publicada pela universidade norte-americana conclui que “no caso da Airbnb isso não se confirma”. O número de utilizadores negros a conseguirem alojamento é inferior em 8%, quando comparado a utilizadores brancos. Uma análise que mostra "resultados persistentes".
Nas redes sociais, os relatos dos utilizadores repetem-se. Um deles conta que, depois de ser rejeitado, criou um perfil falso, onde surge como um utilizador caucasiano e tentou a mesma reserva. Foi imediatamente aceite.
#AirbnbWhileBlack made a fake profile as a white guy and was accepted immediately. pic.twitter.com/miUWG3OvQV
— G. Sel (@_GSelden) May 4, 2016
Segundo o estudo da Harvard, o problema reside no próprio design da aplicação, uma vez que, ao contrário de muitas outras plataformas de reserva de alojamento, a fotografia associada ao perfil de cada utilizador permite a discriminação com base na cor de pele.
Em declarações à CNN, David King, no cargo de director da Diversidade da Airbnb, reconhece a existência do problema e garante que estão a ser tomadas medidas. No entanto, alterar o design da aplicação, retirando a opção das fotografias de perfil não deverá ser uma opção, uma vez que “[as fotografias] são umas das ferramentas que permitem que os nossos utilizadores criam ligação”, explica.
Segundo Nancy Leong, uma professora de Direito da Universidade de Denver, a Airbnb, e outros modelos de negócio semelhantes, estão a transportar as negociações de um ambiente controlado e legal para um ambiente onde “a legalidade é no mínimo obscura”.
Ao jornal britânico, o porta-voz da empresa não respondeu quantas denúncias recebeu a empresa e quais serão as respostas ao problema.
No mesmo ano em que a polémica dos #OscarsSoWhite levantou críticas à Academia de Hollywood e às produtoras cinematográficas, a recente hashtag volta a trazer a segregação racial à agenda pública, meio século depois da assinatura da Lei dos Direitos Civis de 1964.