Relógios da Apple estão a andar para trás

O Apple Watch conquistou rapidamente a liderança no mercado. Mas é a única marca cujas vendas recuaram.

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No trimestre passado, muitos relógios da Apple ficaram na gaveta Stephen Lam/Reuters

A Apple não foi a primeira empresa a lançar um relógio inteligente, mas foi o Apple Watch, e o peso de uma marca com um enorme poder de atracção sobre consumidores e media, que mais reacções provocou na indústria tradicional dos relógios.

Em Setembro de 2014, quando o presidente da Apple, Tim Cook, revelou o relógio, a presidente da americana Guess Watches (a subsidiária da conhecida marca de roupa, que comercializa relógios como acessórios de moda) escreveu uma carta a Cook a dar-lhe as boas vindas ao sector. A mensagem fez inevitavelmente lembrar um anúncio de 1981 em que a Apple dava as boas-vindas à IBM, que lançara então o seu primeiro computador pessoal. Meses mais tarde, com o Apple Watch prestes a chegar às prateleiras, foi a vez do presidente da suíça Tag Heuer dar o seu remoque: “A Apple vai levar os jovens a usarem um relógio e a Tag Heuer vai dar-lhes um relógio a sério quanto eles estiverem prontos”.

Tanto a Guess como a Tag Heuer têm os seus próprios relógios inteligentes, algo que aconteceu também com outras marcas, como é o caso da Swatch (suíça) e da centenária Timex (americana). A Guess estreou-se no mercado ainda antes da Apple. A Tag Heuer fê-lo depois, numa parceria com o Google e a Intel e com um relógio analógico, mas equipado com sensores e conectividade ao telemóvel. 

Hoje, boa parte dos receios da indústria dos relógios tradicionais estarão, pelo menos, atenuados. Um relatório recente da analista IDC deu conta da primeira quebra de sempre no ainda jovem mercado dos smartwaches. E a causa da descida é só uma: a Apple. A líder de mercado, que colocou o Apple Watch à venda há cerca de ano e meio, tem peso suficiente para arrastar todo o sector para uma evolução negativa.

Vendas caem um terço
É certo que o mercado ainda é de nicho: venderam-se entre Abril e Junho, em todo o mundo, 12 vezes menos relógios inteligentes do que tablets e 108 vezes menos do que smartphones. Mas, com excepção da Apple, as maiores marcas cresceram todas a dois dígitos por comparação com 2015.

Ao todo, foram enviados para o retalho 3,2 milhões de relógios inteligentes no segundo trimestre deste ano, praticamente menos um terço do que nos mesmos meses do ano passado (a IDC contabiliza os aparelhos que são postos à venda, o que é usado como um indicador da procura, mas não significa necessariamente que todos aqueles relógios tenham chegado aos pulsos dos consumidores). Aquele número diz respeito apenas aos aparelhos mais sofisticados, onde é possível instalar aplicações, excluindo pulseiras desportivas e outros acessórios semelhantes, cujas vendas são significativamente maiores.

A liderança da Apple é destacada. De todos os relógios inteligentes no mercado, 1,6 milhões – ou 47% – eram da Apple, de acordo com os dados da IDC. Mas esta quota de mercado empalidece face a 2015. No segundo trimestre do ano passado, a Apple tinha posto 3,6 milhões de unidades no mercado, um valor que correspondia então a 72% do total.

“Os consumidores têm adiado as compras de smartwaches desde o início de 2016, em antecipação de uma actualização do hardware, e melhorias no WatchOS [o sistema da Apple para relógios] só são esperadas mais tarde este ano, estagnando efectivamente as vendas do Apple Watch”, notou o analista da IDC Jitesh Ubrani. “A Apple ainda mantém uma liderança significativa no mercado e, infelizmente, um declínio para a Apple leva a um declínio do mercado inteiro”, acrescentou. Se continuar a seguir a tradição, a Apple fará um evento de apresentação de novos produtos em Setembro e poderá nessa altura apresentar uma segunda versão do Watch.

Este ano, contudo, não são apenas as vendas de relógios que não estão a correr de feição à Apple. As receitas do iPhone, que representam mais de metade da facturação da multinacional, afundaram 23% no segundo trimestre, segundo o relatório de resultados da empresa. A tendência já se tinha observado, ainda que de forma mais ténue, nos três meses imediatamente anteriores e é o efeito de um amadurecimento do mercado: muitos países a têm já uma elevada penetração de smartphones (acontece nos EUA e em vários mercados europeus), ao passo que os restantes têm consumidores que tendem a optar por modelos mais baratos e equipados com Android.

Já o iPad, tal como todo o sector dos tablets em geral, continua em declínio, embora a quebra de unidades vendidas tenha sido mais do que compensada nas contas da empresa com o preço mais elevado dos modelos mais recentes. Por fim, os computadores Mac também tiveram uma evolução negativa (a empresa não apresenta números para o Apple Watch). No total, e embora ajudadas por uma melhoria no segmento dos serviços (como as lojas de música e de aplicações), as vendas recuaram 15% no trimestre, para os 42 mil milhões de euros.

Em contraste com a Apple, todas as outras grandes marcas de relógios inteligentes cresceram no trimestre passado, embora continuem a uma enorme distância da líder: a Samsung vendeu 600 mil relógios (mais 51%), e a Lenovo e a LG venderam 300 mil cada uma (mais 75% e 26%, respectivamente). A Garmin - a única destas marcas que não tem telemóveis - está em quinto lugar, com 100 mil unidades.

“Todos os vendedores enfrentam problemas semelhantes relacionados com moda e funcionalidade”, notou Jitesh Ubrani, em palavras que são agora muito mais contidas do que previsões anteriores da IDC. “Embora esperemos melhorias no próximo ano, no resto de 2016 o crescimento vai provavelmente ser nulo”.

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