Madre Teresa de Calcutá: a beatificação mais desejada por João Paulo II

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João Paulo II e Teresa de Calcutá tinham uma relação de admiração mútua AFP

A cerimónia integra-se também no programa de celebrações dos 25 anos da eleição do cardeal Karol Wojtyla para o pontificado, que se completaram na passada quintafeira. Será mais um teste à frágil saúde do Papa. Mas ontem, num encontro com os cardeais, João Paulo II apareceu em relativa boa forma e voltou a pedir que rezem por ele, a fim de prosseguir a sua missão “até que Deus queira”.

Com início às 10h00 locais (9h00 em Lisboa), a celebração será transmitida por 77 estações de televisão de 48 países, entre as quais as portuguesas RTP e TVI. No local, haverá seis ecrãs gigantes e colunas de som de 50 em 50 metros, instalados nas zonas adjacentes ao Vaticano, para permitir que a cerimónia seja acompanhada pelo maior número possível de pessoas.

Teresa de Calcutá, cujo nome de baptismo era Gonxhe Agnes Bojaxhiu, nasceu em Skopje (na actual Macedónia), em 1910, e morreu em Calcutá (Índia) em 1997. Apesar de ter ingressado inicialmente numa outra ordem religiosa, as irmãs do Loreto, a sua vida naquela congregação não a satisfaz. Acaba por pedir para sair e o seu contacto com a vida dos miseráveis de Calcutá fá-la mudar o rumo.

Passa a dedicar-se então aos mais pobres, que vivem e morrem nas ruas e lixeiras da cidade, muitas vezes comidos pelos bichos que também por ali circulam. Kathryn Spink (“Madre Teresa de Calcutá”, ed. AO, Braga) conta que um dia Madre Teresa vê uma noviça da sua congregação a tratar uma mulher com uma chaga cheia de larvas, que a noviça retira com pinças e de braço estendido. Madre Teresa substitui-a, debruça-se sobre a mulher e trata a ferida com destreza. E volta-se para a noviça: “Deve compreender que isto é Jesus. Estamos a limpar as chagas de Nosso Senhor. Se não acreditássemos que era o corpo de Cristo, nunca poderíamos fazer isto. Não haveria dinheiro no mundo que nos levasse a executar tal espécie de trabalho.”

Teresa de Calcutá repetia que o seu objectivo era, pelo menos, ajudar a morrer com dignidade aqueles que estavam destinados a morrer na rua “como animais”, sem ninguém para os assistir. O que leva Franca Zambonini a escrever, num estudo publicado em Itália há poucas semanas (“Madre Teresa, a Mística dos Últimos”, ed. Paoline), que Madre Teresa “partilhou os ideais de Gandhi que ficaram por concretizar”.

Apesar das histórias protagonizadas por Teresa de Calcutá de ajuda aos mais miseráveis, a fundadora das Missionárias da Caridade não é poupada a críticas: é venerada também por muitos hindus, mas não se teria interessado pelo diálogo interreligioso; aceita dinheiro de toda a gente, incluindo de ditadores; e há quem argumente que, com o dinheiro recebido, poderia ter construído em Calcutá um moderno hospital. Mas Madre Teresa também não dava prioridade à eficiência: costumava responder que não somava o que fazia, antes subtraía o número dos que morriam. “Com as crianças, um dólar salva uma vida. Acham que se pode comprar uma vida com um dólar? Não, mas pode-se empregá-lo em salvá-la. Por isso empenhamonos nós próprias a salvar o que podemos. Pode-se não realizar grandes coisas, bastam pequenas coisas com muito amor.”

Quando morre, em 1997, contabilizam- se em 250 mil os leprosos tratados pelas suas missionárias, 30 mil as pessoas que morreram ao lado de alguém, três mil as crianças que passam a viver em lares, 20 mil as que são ensinadas em escolas e 500 mil as famílias que anualmente recebem alimentos. Actualmente, são 4500 (mais 500 do que há seis anos, quando a fundadora morreu) as Missionárias da Caridade, com 700 centros em 133 países (incluindo Portugal), onde são ajudadas por milhares de voluntários.

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