Cerca de 300 crianças e jovens na urgência por mutilações e tentativas de suicídio
Em todo o país, só há 20 camas dedicadas a crianças e jovens, nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde.
Cerca de três centenas de crianças e de adolescentes foram parar à urgência de pedopsiquiatria do Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, na sequência de comportamentos auto-agressivos, como mutilações e tentativas de suicídio, em 2014. No Centro Hospitalar do Porto registaram-se quase 1500 episódios de urgência de crianças e adolescentes, nesse ano, mas aqui foi a anorexia nervosa a causa mais frequente do internamento. Os dados foram revelados durante a apresentação do relatório Portugal - Saúde Mental em Números 2015, em Lisboa.
No documento, que traça o panorama da saúde mental do país, sublinha-se que em Portugal há apenas duas dezenas de camas dedicadas a crianças e adolescentes no Serviço Nacional de Saúde, distribuídas pelo Hospital Dona Estefânia (10) e o Centro Hospitalar do Porto (10). Ainda em 2016, foi anunciado, devem abrir mais dez camas (prometidas há vários anos) no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. Entretanto, "alguns casos são internados em Pediatria Geral ou, para os mais velhos, em unidades psiquiátricas de adultos, alternativa particularmente pouco satisfatória", lamentam os autores do relatório.
Em cada ano, em média, há cerca de 1500 episódios de urgência em cada uma das duas unidades de saúde de Lisboa e Porto que têm camas específicas para crianças e jovens. No Hospital Dona Estefânia, 25% dos casos que motivaram a procura da urgência, no período compreendido entre 2012 e 2014, resultaram de perturbações de comportamento, 20% ficaram a dever-se a comportamentos auto-agressivos (como automutilações e tentativas de suicídio), 20% a perturbações do humor e 20% a perturbações de ansiedade. As perturbações alimentares (anorexia e bulimia) representaram apenas 2% do total.
Tanto no Hospital Dona Estefânia como no Centro Hospitalar do Porto, em 2014 observou-se "um acréscimo de tentativas de recurso mais imediata para internamento, quer por parte das famílias quer de instituições sociais especializadas”, o que parece indiciar uma "menor tolerância para gerirem situações de intranquilidade dos adolescentes, sobretudo alterações de comportamento”.
No consumo de álcool, o que os especialistas destacam é que é preocupante o "crescente número de jovens envolvidos e com idades mais precoces" em episódios de intoxicações agudas. Mas as limitações do sistema de registos, em particular nos serviços de urgência, não permitem conhecer a dimensão do fenómeno, nem as "eventuais complicações clínicas pós-intoxicação". com Lusa