Capelão do Hospital de S. João de saída após 18 anos
Padre José Nuno vai para Fátima, onde será capelão do santuário.
Depois de 18 anos como capelão do Hospital de S. João, no Porto, o padre José Nuno despediu-se esta quarta-feira da função, deixando apelos a uma mudança na forma como se lida com a morte nos hospitais. “Num espaço de vinte anos, a morte passou de casa para os hospitais e isso tornou-se num drama para os profissionais de saúde que foram preparados para outra coisa que não esta realidade”, afirmou ao PÚBLICO.
Não sendo de esperar que a morte dos doentes volte a ocorrer em casa, e assumindo que “a casa de cada um é o olhar daqueles que ama”, o padre defendeu que “é preciso criar condições para que o olhar das pessoas sobre os ‘seus’ que estão a morrer se possa fazer dentro do hospital”.
A morte e a forma como se morre nos hospitais - numa altura em que cerca de 60% das mortes ocorrem em contexto hospitalar - foram, de resto, o tema da tese de doutoramento que o capelão publicou em 2012, intitulada A morte e o morrer entre o deslugar e o lugar. Esta mudança não traduziu uma mera transferência de lugar, mas “uma negação de lugar aos que morrem”, segundo o autor da tese que reivindica dos decisores políticos medidas que conduzam a “uma vivência sadia da morte na sociedade”.
José Nuno Ferreira da Silva, com 52 anos, está de malas prontas para Fátima onde vai exercer a função de capelão do Santuário de Nossa Senhora de Fátima. “Vou desenvolver alguns projectos pastorais novos e assumir uma missão vocacionada para o diálogo com a juventude e com os idosos”, especificou, acrescentando que a mudança ocorre a convite do bispo de Leiria-Fátima, António Marto, “no contexto da renovação que Fátima está a fazer nos seus serviços pastorais”.
Na eucaristia de despedida, o também coordenador nacional das capelanias hospitalares recebeu flores e muitas lágrimas dos representantes do corpo médico e de outras confissões religiosas que se deslocaram à capela do hospital. "Foram dezoito anos profundamente felizes. Esta casa fez-me ser outro padre, quase como se me tivesse ordenado outra vez", disse, a partir do púlpito. Para o lugar de capelão coordenador do serviço de assistência religiosa no S. João foi nomeado o padre José Paulo de Sousa Teixeira.