Bons professores
Despertada a curiosidade e aguçado o interesse, o aluno precisa de um ensino claro, realizado de forma simples, mas rigorosa.
O que é um bom professor? A resposta parece depender de quem responde à pergunta. Responsáveis académicos ou do Ministério da Educação, comissões de avaliação, pais dos alunos, ou os próprios professores, todos têm uma resposta à pergunta e nem sempre coincidente. Mas o mais importante é olharmos as características dos bons professores pelos olhos dos alunos. Estes, porém, quando se referem aos professores falam mais do que não gostam do que daquilo que pensam que os professores deveriam ser. Passados os anos escolares os jovens alunos, agora adultos, recordam os seus anos na escola e ao referirem-se a alguns docentes concluem: “Era um bom professor!” Ou “Era uma boa professora!”
Que querem dizer com esta frase? Em primeiro lugar, o bom professor é o que motiva os alunos a aprender. O professor desperta a curiosidade do aluno e fomenta o seu interesse. Para isso, precisa ele próprio de estar motivado e desejar aprender constantemente coisas novas, pois ninguém transmite motivação se não a tiver.
O jovem que está motivado e desejoso de aprender, não abandona a escola e gosta daquilo que estuda.
Despertada a curiosidade e aguçado o interesse, o aluno precisa de um ensino claro, realizado de forma simples, mas rigorosa.
Traduzir matérias complexas de forma simples e acessível aos alunos, organizar a aprendizagem de forma interessante e por vezes divertida, ajudar os alunos a caminhar e a descobrir por eles próprios são, sem dúvida, características dos bons professores.
Uma das críticas, geralmente formuladas pelos alunos, quer ao nível do secundário, quer do universitário, é que alguns docentes mostram insegurança sobre os conhecimentos que transmitem ou no esclarecimento das dúvidas. Mas os alunos apreciam a honestidade intelectual e prefeririam que em caso de dúvida o professor admitisse que não tem a resposta e que a iria procurar, talvez até com a ajuda dos alunos. Estes incidentes podem até ajudar a desenvolver o sentido crítico dos alunos e a desenvolver atitudes de respeito pelos outros.
Para além dos aspetos ligados ao processo de aprendizagem e desenvolvimento de competências, os professores têm também a missão de avaliar o progresso feito pelos alunos. Nesta dimensão, estes esperam que o professor seja exigente e justo na avaliação e gostam de sentir que ao longo do processo de aprendizagem o professor foi dando o seu feedback sobre os progressos feitos e que não aguardou pelo exame final para atribuir uma classificação definitiva. É por isso que sou adepto da avaliação contínua, onde os erros cometidos são fator de aprendizagem e não contribuem para baixar a autoestima dos alunos.
Nesta missão de avaliadores, o bom professor estabelece primeiro as regras do jogo e não as muda durante o processo de aprendizagem. Todos os alunos gostam de saber com que contam.
Do ponto de vista da sociedade, a pergunta “O que são bons professores?” deveria vir acompanhada de uma outra: “Como conseguimos ter bons professores?” Numa sociedade complexa como a nossa, é necessário criarmos as condições para que as características que têm sido mencionadas encontrem um campo fértil ao seu desenvolvimento, de modo a criar motivação nos próprios professores, pois se não estiverem motivados não poderão motivar os seus alunos. Mas este raciocínio não deve iludir-nos. Os professores não podem culpar a sociedade pela sua falta de competências e ausência do sentido de missão. Ser um bom professor, como em qualquer outra profissão, exige um trabalho contínuo de aperfeiçoamento pessoal e uma reflexão constante sobre os erros cometidos. Só assim se pode alcançar a excelência.
Todo o processo de aprendizagem e avaliação necessita, pois, para ser bem-sucedido, de professores apaixonados pela sua missão, que saibam ouvir e estejam atentos às necessidades dos seus alunos, que gostem da profissão e não sejam preconceituosos. Que preparem os seus alunos para ser autónomos e com sentido crítico sobre o mundo que os rodeia. Penso que temos muitos professores com este perfil.
Vice-reitor da Universidade Atlântica