Argelinos apanhados na pista do aeroporto pedem asilo a Portugal
Um dos homens automutilou-se com uma lâmina na cara, num braço e nos dedos quando percebeu que ia ser detido.
Os quatro argelinos apanhados ao fim da noite de sábado na pista do aeroporto de Lisboa pediram asilo a Portugal por razões humanitárias. Com idades entre os 20 e os 33 anos, estão indiciados pelos crimes de atentado à segurança de transporte e introdução em local vedado ao público, correndo o risco de ser expulsos do país. Dois deles são irmãos.
“Não têm trabalho, não têm que comer nem que vestir em Argel. Estão desesperados, e foi por isso que vieram para Portugal”, explica a advogada do homem mais velho, Liliana Rute Ferreira. Todos recorreram a defensores oficiosos, tendo sido interrogados por um juiz em língua francesa, com auxílio de um tradutor. Porém, as razões económicas que invocam para terem entrado de forma ilegal no país não dão, habitualmente, direito a asilo. “Este pedido foi feito por razões humanitárias. É uma tentativa da parte deles”, diz a advogada.
As feridas que o cliente de Liliana Rute Ferreira apresentava quando foi detido pela polícia no aeroporto puseram a polícia de sobreaviso. Este argelino automutilou-se na cara, num braço e nos dedos da mão direita, o que fez as autoridades considerarem a hipótese de poderem estarem perante uma tentativa de apagamento de impressões digitais, no caso de se tratar de alguém procurado pela justiça. A advogada entende, no entanto, que esta é uma desconfiança que carece de lógica, uma vez que o seu cliente também perdeu tempo a golpear-se com uma lâmina da barba na cara e num braço, ao perceber que ia ser apanhado. “Disse que preferia morrer a voltar para a Argélia”, revela. “Foi um acto de desespero, e os golpes nos dedos devem ter sido acidentais, pois usou uma lâmina que cortava dos dois lados.”
Retidos nas instalações do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, por perigo de fuga, os quatro homens ignoram quando serão julgados. O seu julgamento devia ter acontecido nesta terça-feira no tribunal de pequena instância criminal de Lisboa, mas a falta de magistrados ao serviço, devido ao período de férias, fez com que o juiz encarregue do seu interrogatório inicial fosse o mesmo que os ia julgar em processo sumário — o que levou o magistrado a alegar estar impedido de fazer o julgamento.
“Se forem condenados, isso pode acelerar a sua expulsão”, considera a defensora oficiosa, que entende que nesse caso dificilmente poderão vir a ficar presos numa cadeia portuguesa — uma vez que deverão ver a sua pena suspensa devido à falta de antecedentes criminais. Dois dos homens não terão passaporte nem outro documento que os identifique.