Dois advogados apresentaram-se esta quinta-feira no Tribunal Central de Instrução Criminal, em Lisboa, para defender dois dos 15 arguidos da Operação Aquiles, mas acabaram por abandonar as instalações já como arguidos e impedidos de representar os respectivos clientes.

Um dos casos ocorreu com a advogada Ana Cotrim, que disse ao PÚBLICO estar “incomodadíssima” com a situação, que garante ser inédita em mais de 35 anos de advocacia. “Não é aos 60 anos que vou macular a minha vida profissional”, reagiu a advogada, que adiantou não saber exactamente os factos que lhe são imputados. “Quando cheguei ao tribunal, deram-me uns papéis para a mão. Disse que queria ser ouvida, mas disseram-me que hoje [esta quinta-feira] não era possível”, relata a defensora.

A advogada afirma que os documentos que lhe foram entregues apenas falam de “prestar informações à associação”, entidade esta que diz não estar identificada.

O outro advogado será Vítor Carreto Ribeiro, que se terá apresentado como advogado do inspector-chefe Ricardo Macedo, mas também terá sido constituído arguido. Tal decorre necessariamente do facto das autoridades considerarem que há indícios de que os defensores colaboraram de alguma forma nas actividades criminosas dos clientes. Curioso é que Vítor Carreto Ribeiro tem representado igualmente um conhecido traficante de droga português, Franquelim Pereira Lobo, que também estará envolvido neste caso. Contactado pelo PÚBLICO, o advogado atendeu o telemóvel, mas após a apresentação da jornalista desligou a chamada e o telemóvel.

Os 15 suspeitos, incluindo dois chefes da PJ e um cabo da GNR, indiciados por corrupção, tráfico de droga, branqueamento de capitais e associação criminosa, foram detidos na terça-feira de manhã e, para cumprir o prazo de apresentação ao juiz de instrução, tiveram que ser apresentados esta quinta-feira antes das 7h no tribunal central. Durante a manhã, o juiz de instrução Carlos Alexandre terá identificado os suspeitos e começado a ouvir um deles em interrogatório. Até ao fim do dia só terá conseguido ouvir outro detido.

Entretanto, a Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC) da PJ, que está a investigar este caso, informou esta quinta-feira que nas 122 buscas de terça-feira foram apreendidos mais de 100 mil euros em dinheiro vivo, 25 viaturas, sete armas de fogo e 220 equipamentos electrónicos, entre telemóveis, tablets e computadores portáteis.  Além de transportarem os detidos, que têm dormido no Estabelecimento Prisional anexo à sede da PJ, os inspectores da UNCC têm estado ocupado com buscas e outras diligências ainda relacionadas com esta operação.

Notícias corrigida às 16h: com alteração da referência de "não é aos 70 anos" para "não é aos 60 anos", na citação da advogada Ana Cotrim.