Embora a câmara fotográfica fosse nova, a experiência na fotografia era pouca. Mas isso não demoveu Félix do Nascimento Esteves de correr para o Terreiro do Paço assim que soube da Revolução. Ao longo do dia fez-se passar por “jornalista estrangeiro” para estar onde outros não podiam. Captou tanques, protagonistas, alegria e momentos de tensão. 48 anos depois, decidiu partilhar o seu olhar sobre o 25 de Abril
48 anos de 25 de Abril
Uma caixa de fotografias com a Revolução lá dentro
Já vimos fotografias do 25 de Abril tantas vezes que parece que já as vimos todas. Mas não. Há uma parte do legado visual desse dia fundador que não saiu nas revistas e nos jornais, que repousa nas gavetas. É um olhar talvez mais deslumbrado e genuíno, que produziu imagens de certeza menos bem enquadradas, mas nem por isso menos poderosas. É o olhar anónimo, popular, da Revolução de Abril — como este que Félix do Nascimento Esteves decidiu agora partilhar
Já vimos fotografias do 25 de Abril tantas vezes que parece que já as vimos todas. Mas não. Há uma parte do legado visual desse dia fundador que não saiu nas revistas e nos jornais, que repousa nas gavetas. É um olhar talvez mais deslumbrado e genuíno, que produziu imagens de certeza menos bem enquadradas, mas nem por isso menos poderosas. É o olhar anónimo, popular, da Revolução de Abril — como este que Félix do Nascimento Esteves decidiu agora partilhar
Terreiro do Paço e Rua do Arsenal
Os militares da Escola Prática de Cavalaria, comandados por Salgueiro
Maia,
chegaram ao Terreiro do Paço por volta das 5h45 da manhã. Vários pontos-chave da Baixa são depois
cercados.
É para aqui que Félix Esteves se dirige em primeiro lugar, vindo de Entrecampos.
A Rua do Arsenal e a Ribeira das Naus foram dois dos epicentros da Revolução, quando carros de combate
comandados pelo brigadeiro Junqueira dos Reis ameaçavam abrir fogo sobre as forças ao comando de
Salgueiro
Maia. Félix do Nascimento assistiu a estes momentos de tensão, mas são escassas as imagens que captou:
“Eu,
nessa altura, ainda estava um pouco tímido a tirar as fotografias”.
Os militares da Escola Prática de Cavalaria, comandados por Salgueiro
Maia,
chegaram ao Terreiro do Paço por volta das 5h45 da manhã. Vários pontos-chave da Baixa são depois
cercados.
É para aqui que Félix Esteves se dirige em primeiro lugar, vindo de Entrecampos.
A Rua do Arsenal e a Ribeira das Naus foram dois dos epicentros da Revolução, quando carros de combate
comandados pelo brigadeiro Junqueira dos Reis ameaçavam abrir fogo sobre as forças ao comando de
Salgueiro
Maia. Félix do Nascimento assistiu a estes momentos de tensão, mas são escassas as imagens que captou:
“Eu,
nessa altura, ainda estava um pouco tímido a tirar as fotografias”.
Restauradores
Os Restauradores, um dos pontos nevrálgicos da cidade, acabaram por se tornar apenas num ponto de passagem dos militares no dia da Revolução. A partir daqui o trânsito sofreu várias alterações logo a partir das 07h00.
Os Restauradores, um dos pontos nevrálgicos da cidade, acabaram por se tornar apenas num ponto de passagem dos militares no dia da Revolução. A partir daqui o trânsito sofreu várias alterações logo a partir das 07h00.
Rua do Carmo
À medida que a Revolução evolui, as ruas da Baixa lisboeta enchem-se de pessoas. Em algumas artérias nevrálgicas para o avanço dos tanques, os militares impedem a circulação de carros e pessoas. Félix do Nascimento Esteves consegue furar esse cerco em alguns momentos. Na Rua do Carmo, por exemplo, regista um raro deserto de pessoas.
À medida que a Revolução evolui, as ruas da Baixa lisboeta enchem-se de pessoas. Em algumas artérias nevrálgicas para o avanço dos tanques, os militares impedem a circulação de carros e pessoas. Félix do Nascimento Esteves consegue furar esse cerco em alguns momentos. Na Rua do Carmo, por exemplo, regista um raro deserto de pessoas.
Largo do Carmo
O Largo do Carmo é coração da Revolução de Abril. Por volta das 12h30, o capitão Salgueiro Maia cerca o quartel, onde estava Marcello Caetano, o último Presidente do Conselho do Estado Novo.
O Largo do Carmo é coração da Revolução de Abril. Por volta das 12h30, o capitão Salgueiro Maia cerca o quartel, onde estava Marcello Caetano, o último Presidente do Conselho do Estado Novo.
Ao longo da tarde, são vários os momentos de tensão. Milhares de pessoas enchem as ruas em redor; árvores, candeeiros e cabines telefónicas servem de miradouros para o que se estava a passar. Aqui, Félix Esteves capta várias vezes o capitão Salgueiro Maia e consegue entrar dentro do perímetro de segurança.
Salgueiro Maia ordena a colocação de um blindado em posição de tiro
“Aquele é PIDE!”
Num dia em que qualquer faísca podia provocar um grande incêndio, também qualquer acusação atirada para o ar podia provocar uma tragédia. Se alguém fosse apontado como sendo da PIDE, dificilmente podia escapar à “justiça em tempo real”. Foi o que aconteceu a um homem de gabardina, que foi rodeado por militares e detido. Félix Esteves está em cima do acontecimento e capta uma sequência de quatro fotografias, das quais três foram ampliadas. É talvez o momento em que o repórter acidental mais se revela como verdadeiro repórter.
Num dia em que qualquer faísca podia provocar um grande incêndio, também qualquer acusação atirada para o ar podia provocar uma tragédia. Se alguém fosse apontado como sendo da PIDE, dificilmente podia escapar à “justiça em tempo real”. Foi o que aconteceu a um homem de gabardina, que foi rodeado por militares e detido. Félix Esteves está em cima do acontecimento e capta uma sequência de quatro fotografias, das quais três foram ampliadas. É talvez o momento em que o repórter acidental mais se revela como verdadeiro repórter.
Rua António Maria Cardoso
A meio da tarde, por volta das 16h25, a sede da PIDE, na rua António Maria Cardoso, é palco da resposta mais musculada da polícia política durante a Revolução. De dentro do edifício, membros da PIDE abrem fogo sobre a multidão: morreram quatro pessoas e várias ficaram feridas. São várias as fotografias de Félix Esteves nesta rua, que documentam sobretudo as movimentações dos militares.
A meio da tarde, por volta das 16h25, a sede da PIDE, na rua António Maria Cardoso, é palco da resposta mais musculada da polícia política durante a Revolução. De dentro do edifício, membros da PIDE abrem fogo sobre a multidão: morreram quatro pessoas e várias ficaram feridas. São várias as fotografias de Félix Esteves nesta rua, que documentam sobretudo as movimentações dos militares.
Depois de fazer várias fotografias na rua onde se situava a sede da PIDE, Félix Esteves entra num prédio adjacente e instala-se perto do telhado, de onde assiste às movimentações dos militares. É de lá que ouve as rajadas disparadas pela polícia política. Nesse momento, um jornalista espanhol ao seu lado estremece: “Nós dali víamos tudo; e o homem quando ouviu aquilo [os tiros] ficou a tremer. E digo-lhe eu: ‘Você está a tremer? Está com medo? Aqui não chega tiro nenhum’”. Entre as dezenas de fotografias que Félix Esteves captou nesse dia, não há nenhuma deste momento. Algumas imagens podem ter ficado apenas na memória.
O homem que se “armou em jornalista estrangeiro” para fotografar a Revolução
Tem fotografias do 25 de Abril de 1974?
Partilhe-as com o PÚBLICO para construirmos um mosaico fotográfico nos 50 anos da Revolução:
fotografiaaopovo@publico.ptGerir notificações
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