Concurso "Jornalistas em Rede"
Simão Barbosa escolheu um tema que “faz correr muita tinta nos jornais”
Aluno do 9.º ano em Santa Marta de Portuzelo venceu com uma reportagem que mostra o que pode ser feito para contrariar a violência no futebol. O prémio foi atribuído ex-aequo.
Futebol sem violência
A violência no futebol, dentro e fora dos estádios, é um assunto que faz correr muita tinta nos jornais. Felizmente, ainda existem projetos que surpreendem e que fazem acreditar num futebol sem violência.
Reportagem de Simão Barbosa (texto e fotos), 9.º ano
Agrupamento de Escolas Pintor José de Brito, Santa Marta de Portuzelo
O Torre Sport Clube foi fundado, em fevereiro de 1985, por oito amigos que se juntaram com o único propósito de criar um clube que desse a possibilidade aos jovens da freguesia de São Salvador da Torre de jogar futebol de uma forma organizada. Segundo Carlindo Costa, sócio fundador n.º 1 e atual presidente do clube, houve dois fatores fundamentais para que a ideia tivesse surgido: “Primeiro porque a junta de freguesia tinha construído o Campo dos Monções e era fundamental dar utilização a uma infraestrutura que em muito vinha dignificar a freguesia. Em segundo, e não menos importante, porque existia um elevado número de jovens na freguesia com jeito para a prática do futebol.”
Passadas décadas de existência, o clube hoje em dia não só treina atletas da freguesia de São Salvador da Torre como também atletas das freguesias circundantes, no concelho de Viana do Castelo. “Temos atletas de Santa Marta de Portuzelo, Meadela, Perre, Cardielos, Serreleis, Outeiro, Vila Mou, Nogueira e até de Darque, Areosa e da cidade de Viana do Castelo. São, no geral, 91 atletas divididos pelos vários escalões”, informa Carlos Viana, mais conhecido por Cacá, coordenador e treinador no clube há onze anos.
Para além da formação desportiva em que os atletas podem melhorar as suas capacidades técnicas, físicas e motoras, o Torre Sport Clube também tem a missão de formar melhores cidadãos e pessoas que saibam viver em comunidade. A violência no desporto é um tema incontornável da sociedade e do desporto atuais e, por esse motivo, existe o manual de acolhimento e boas práticas da época desportiva de 2022/23, cujos valores, definidos pelo clube, se aplicam a todos os atletas, treinadores, dirigentes, pais e encarregados de educação e colaboradores do Departamento da Formação.
Daniel Costa, antigo jogador e atual tesoureiro e diretor do acompanhamento escolar e social, reforça que o Torre Sport Clube tem os valores muito bem definidos e revela que existe um regime disciplinar para os atletas que infringirem as regras, que vão de simples advertências a expulsões do clube. “Felizmente, nunca chegamos a uma expulsão. No contexto atual do clube, a violência não é de todo um problema, mas como ela existe é um assunto que nos preocupa e que é debatido constantemente nas reuniões do clube. É por isso que todos os dias estamos atentos a situações menos adequadas. O clube fomenta o desportivismo e cria nos atletas valores sociodesportivos, no domínio da ética pessoal e coletiva, alertando-os para a dedicação, trabalho, vontade de vencer com fair play, para que cada um seja um melhor atleta e uma melhor pessoa” ressalva Daniel Costa.
O clube leva mesmo a sério o assunto da violência no futebol. Quem não conhece o Campo dos Monções e o visita pela primeira vez bate de frente com um placard onde estão escritas e se podem ler em voz alta as 10 regras com que os atletas do Torre Sport Clube querem entrar em campo e jogar apenas mais um jogo. A mensagem é direcionada aos pais, os principais apoiantes; porém, pode e deve ser aplicada a todo o público em geral.
“Há participantes internos e externos que não sabem estar num recinto desportivo e isso passa para os atletas. É uma das razões que os leva a ter comportamentos e atitudes menos adequadas em campo, sem grande gravidade, mas que são muito valorizadas por mim, pois não me identifico com elas e não quero que se voltem a repetir”, reitera Joaquim Santos, treinador do Torre Sport Clube há quatro anos. E prossegue: “A violência adultera a beleza do futebol. Ela sempre existiu no futebol, infelizmente. Sempre fui e serei contra, ainda mais desde que me tornei treinador, porque não é isto que eu quero para os meus atletas! Quero que eles joguem sempre com humildade, lealdade e amizade. Incito o espírito de vitória, mas sempre com qualidade e atitude, sem recurso à violência. Quero que em todos os jogos respeitem a própria equipa, os adversários, os árbitros, todos os intervenientes do jogo. Quero que honrem e respeitem o emblema que levam no peito e que sejam felizes a jogarem, assim como eu o sou a treiná-los.”
Para Cacá a violência também sempre existiu e não tem vindo a aumentar. Na sua opinião, apenas continua porque as claques incitam à mesma. Defende “que sejam aplicadas punições severas, tais como a condenação a avultadas multas e/ou prisão por violação dos direitos do Homem e da sua liberdade”. No ponto de vista de Daniel Costa, a violência física tem vindo a diminuir, ao contrário da verbal e psicológica: “Essa, muitas vezes, eleva-se ao extremo.”
Todos os dias o clube escreve mais um capítulo e no passado ano fez história, ao ser reconhecido pela identidade máxima do futebol em Portugal. Segundo publicado na página oficial de Facebook e Instagram do clube, a 25 de maio de 2022, o Torre Sport Clube foi certificado como Centro Básico de Formação de Futebol pela Federação Portuguesa de Futebol.
Para finalizar, o Torre Sport Clube convida quem visitar Viana do Castelo a passar pela freguesia de São Salvador da Torre, a conhecer o Campo dos Monções e a dar voz ao mote: “Torre Sport Clube, um clube de todos e para todos!”
["Jornalistas em Rede" é uma iniciativa do PÚBLICO na Escola e da Rede de Bibliotecas Escolares. Nesta segunda edição, o prémio foi atribuído ex aequo.]