PÚBLICO 30 anos

PÚBLICO na Escola, um projeto que nasceu ainda antes do jornal

O arranque de uma iniciativa pioneira, revisitado por Manuel Pinto, um dos seus primeiros coordenadores, agora que o PÚBLICO celebra três décadas de existência.

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Ao longo dos anos, sucederam-se as ações com alunos (Semana dos Media, março de 2000) Nelson Garrido

Há 30 anos, quando o PÚBLICO foi para as bancas – a internet era então apenas uma promessa que demoraria uns anos a chegar – havia já seis meses que cinco escolas de Lisboa e outras tantas do Porto andavam a aprender a utilizar os media nas actividades educativas. Sim, o projeto PÚBLICO na Escola, sendo filho do PÚBLICO, nasceu antes do pai. A Direção do Jornal acolheu esse projeto como um dos vários sinais distintivos do novo projeto editorial, como o Livro de Estilo deixou claro.

Na altura, os três professores que coordenaram o PnE no Porto e em Lisboa foram inspirar-se na Galiza e noutras partes de Espanha e estavam a par do que de análogo se fazia noutros países da Europa e da América. Começaram a animar visitas em que as turmas saíam da Redação com o template de uma primeira página com notícias que elas próprias tinham redigido e uma foto de grupo feita na Redação. Começou-se a organizar o Concurso Nacional de Jornais Escolares, no início em colaboração com a editora ASA. E, a par da produção de um boletim informativo mensal que teve mais de uma centena de edições, começaram a vir a lume os livros da série “Guias do Professor, com títulos como ‘A Imprensa na Escola’, ‘Utilizar Criticamente a Imprensa na Escola’, ‘Os media e aprendizagem do Português’, ‘O cinema e a escola’, ‘Os dias na história’. Foram vários os dossiês temáticos com notícias e pistas para a sua utilização. Chegou-se até a organizar um congresso internacional sobre a Imprensa na escola.

Como tudo começou

O projeto nasceu de uma conversa que tive, no princípio de 1989, com o Jorge Wemans, que integrava a equipa directiva que concebeu o projeto do PUBLICO. Essa conversa, por sua vez, nasceu no rescaldo de um grande debate que percorreu a sociedade portuguesa desde o ano anterior, de que a educação para a comunicação e os media tinha sido um tema, ainda que secundário. A Direção entendeu solicitar-me um estudo de exequibilidade de uma ação nessa frente por parte do novo jornal que estava então na forja, o qual foi entregue em maio de 1989. Escassos meses depois o PÚBLICO na Escola estava a arrancar

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O primeiro Boletim do PÚBLICO na Escola, em março de 1990

Importa referir que, nos primeiros anos, o Concurso Nacional de Jornais Escolares alternava com um concurso de projectos inovadores de uso dos media na escola. Quer numa modalidade quer noutra foram premiados trabalhos notáveis, desenvolvidos em todos os níveis do sistema educativo não superior, quer no continente quer nas regiões autónomas.

Está por fazer o resgate e a análise crítica dessa experiência, que cresceu e se consolidou em torno do PÚBLICO até à segunda década do século XX, memória essa que será, certamente, parte integrante de uma história do próprio diário, quando um dia ela se vier a fazer. Vicissitudes várias do jornal, da empresa que o edita e da própria sociedade portuguesa fizeram com que nos últimos anos o projeto estiolasse.

Não foi, assim, sem alguma emoção que li, no início de 2019, o anúncio de que o PÚBLICO na Escola ia renascer, o que veio efectivamente a acontecer em novembro passado. Ressurge num quadro já bastante diverso do de 1989 – um panorama mediático completamente revolucionado, com o impacto das redes e plataformas digitais, uma maior sensibilidade à relevância da literacia mediática para a cidadania e o regime democrático e desafios de grande monta relacionados com a desinformação e o populismo, catapultados pelas redes sociais digitais. É também a estes desafios que o Publico na Escola terá, hoje, de responder.

Manuel Pinto  

Professor Catedrático do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho