Escola Horta das Figueiras, Évora

Está inaugurada a Traquitana, “uma espécie de quadro” de notícias e desenhos de alunos

Criada pelo jornal “Horta das Notícias”, de Évora, depois de ter sido premiado no Concurso Nacional de Jornais Escolares 2019/20, para aproximar a escola da comunidade.

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A Traquitana na altura em que chegou à Escola Horta das Figueiras... DR

Em outubro de 2020, o Horta das Notícias recebia boas novas do PÚBLICO na Escola. O jornal escolar da Escola Básica Horta das Figueiras, em Évora, tinha sido distinguido como o melhor no escalão A (1.º ciclo do ensino básico), no Concurso Nacional de Jornais Escolares. A vitória entusiasmou os jovens jornalistas e o adulto responsável pela criação da publicação, Fernando Moital, e decidiram materializar o prémio de 2000 euros num objeto que potenciasse a comunicação entre a escola e a comunidade: chamaram-lhe Traquitana. Inauguraram-na no passado dia 6 de junho.

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... e a Traquitana no dia da inauguração. DR

“Estavam muitas cadeiras à porta da nossa escola, estava lá a Traquitana, e um amigo meu, chamado Álvaro, fez um discurso a dizer que [a Traquitana] era uma espécie de quadro que tinha vários trabalhos dos alunos. Eu acrescentei que era uma espécie de jornal escolar em que se põem os desenhos para os pais e as pessoas que passam na escola, no dia-a-dia, poderem ver o que é que os alunos lá fazem.” É assim que Gabriel Belo, aluno do 3.º ano na Horta das Figueiras, recorda o dia da apresentação ao público da Traquitana.

A inauguração “atrasou-se um bocadinho por causa da pandemia”, mas finalmente foi possível juntar alunos, professores e encarregados de educação num lanche na Escola Horta das Figueiras. Ilda Coelho, professora do 1.º ano, garante que “toda a comunidade escolar tem conhecimento” da Traquitana, inclusive noutras instituições de ensino do agrupamento. E quer fazer parte.

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Gabriel Belo

Este objeto colorido com várias faces, anteriormente apresentado no programa do PÚBLICO Põe a Tua Escola no Mapa, foi pensado por adultos e crianças em reuniões regulares — por vezes, duas por dia — no segundo momento de confinamento obrigatório. Com a crise pandémica e o ensino em casa, o jornal Horta das Notícias, criado em 2019 na casa de Fernando e João Moital, pai e filho, tornou-se um objeto de mais difícil circulação. Ainda que grande parte dos números estivessem disponíveis na internet, nem todas as pessoas da comunidade escolar conseguiam aceder-lhes. Para responder a este e outros desafios da atualidade, começou a pensar-se na Traquitana.

Numa altura em que os pais não entravam na escola, sentiram que fazia sentido arranjar uma forma de expor os trabalhos dos alunos de forma visível. Teria de ser algo como “um painel com rodas”. E se o Horta das Notícias implicava um critério de seleção editorial mais rigoroso, a ideia era que neste objeto houvesse outro espaço para a experimentação. O encarregado de educação e responsável pelo projeto, Fernando Moital, descreve-o como “uma construção completamente wiki, no sentido em que é de todos”.

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Tiago Brandão Rodrigues, Fernando Moital e a aluna Sarah Rodrigues, em novembro de 2020, na cerimónia de entrega dos prémios do concurso de jornais escolares Miguel Manso

A Traquitana, como o Horta das Notícias, surge entre a Comunidade da Escola Horta das Figueiras, um coletivo informal com encarregados de educação, pais, professores, alunos, funcionários, familiares de alunos, ex-alunos e todas as pessoas que queiram pensar a escola em conjunto. Fernando Moital recorda o processo inicial como um momento bastante democrático: “Durante quase duas semanas estivemos a olhar para as propostas, cerca de uma dezena de desenhos. Tentámos encontrar o melhor de cada uma e juntámos tudo. Foi muito rico.”

Um “espaço de exercício da liberdade criativa”

Agora que já está construída, a Traquitana está apta a viajar por diferentes escolas do Agrupamento Severim de Faria. Será exposta sempre que tiver conteúdos suficientes para que tal aconteça. Nas faces coloridas, a comunidade escolar, e não só, poderá encontrar registos escritos ou em desenho que mostram como é que as crianças naquelas escolas veem o mundo.

“Só o facto de termos um objeto que promove a produção de desenho livre, e de algum texto, acho que já vale a pena. São desafios que normalmente a escola não coloca. Acho que vivemos num momento cheio de regras e constrangimentos, e ter espaços de exercício da nossa liberdade criativa é bem necessário no nosso contexto educativo atual”, defende Fernando Moital.

Também Gabriel Belo, que tem 9 anos, fica entusiasmado com a possibilidade de escrever e desenhar além dos limites dos conteúdos programáticos. Todas as sextas-feiras costumava apresentar um texto à turma sobre uma personagem que inventou: a Galinha Espacial. Já escreveu “uns cinco textos” sobre ela. E viajou até Marte e ao Pólo Norte, onde se encontrou com um iéti. Gabriel conta ao PÚBLICO na Escola que imagina as aventuras desta Galinha Espacial à medida que escreve. “Se não conseguir ser jogador de futebol quando for grande, vou ser escritor.”

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Desmontável, a Traquitana pode circular por várias escolas do Agrupamento Severim de Faria DR

Como é que se inspira para estas histórias? Nas aulas, a professora costuma mostrar “uns vídeos com um alienzinho que anda numa nave a explorar o universo” e a sua cabeça fica “cheia de factos”. Para os organizar, escreve aventuras nos lugares que surgem nesses vídeos. Além de escrever, o aluno do 3.º ano gosta do Espaço e da natureza. Na sua escola, onde estará por mais um ano, consegue juntar todos os seus interesses — já que a escola é, ela mesma, potenciadora de alguns deles.

Bela Sombra, uma árvore especial

“Eu gosto muito da minha escola. Acho que o resto das escolas não têm um recreio assim, com figueiras. Na minha há uma árvore muito especial que se chama Bela Sombra e é a maior árvore que nós temos, e brincamos muito nela”, conta.

Gabriel Belo gosta da escola e do meio ambiente, e acredita que a Traquitana pode ser um elo de ligação entre todos estes mundos. “O mundo ainda por cima está a ficar cada vez mais poluído e eu tenho de pensar em protegê-lo mais, e passar a notícia a toda a gente. Para isso é que serve a Traquitana. Eu faço um desenho com um sinal para proteger o mundo, ponho na Traquitana e as pessoas passam a palavra umas às outras.”

Até agora, “a nossa Traquitana”, como a professora Ilda carinhosamente lhe chama, passou por um período experimental. Em setembro, no arranque de um novo ano letivo, será necessário criar um grupo “com professores, miúdos e pais” para decidirem a organização e o percurso deste jornal ambulante. “Terá que haver a colaboração de toda a gente”. Afinal, é este o combustível para que a Traquitana circule sobre rodas: a motivação de toda a comunidade.