concurso “Isto também é comigo!”
“O futuro mora no Interior?” Rui Pinto, de Guimarães, vence edição de outubro
Aluno do Agrupamento Santos Simões premiado no concurso mensal de textos de opinião, dinamizado pelo PÚBLICO na escola e pela Rede de Bibliotecas Escolares.
O futuro mora no Interior?
Na obra de José Saramago Jangada de Pedra, a Península Ibérica é separada do restante continente europeu. Esta ideia de separação e afastamento leva-nos à relação que o nosso país tem com o interior. A pretensão do poder central de encerrar duas maternidades num território já despovoado, mais concretamente na Guarda e em Castelo Branco, é certamente um convite para os mais jovens procurarem outros “portos de abrigo”. Mais seguros? Estou convicto de que não.
Quando um concelho do Interior, como Idanha-a-Nova, consegue atrair investimento estrangeiro e, consequentemente, aumentar a sua natalidade, através de uma fortíssima estratégia de marketing territorial, aumentando 1,47 o índice sintético de fecundidade, estes dados devem ser, obrigatoriamente, analisados pelo centralismo elitista.
Esta procura constante de população por parte dos intervenientes políticos e sociais do Interior, oferecendo creches gratuitas e impostos reduzidos, tem de ser impulsionada pelo poder central. Contudo, uma questão se coloca: será que os senhores “urbanóides” (desde já peço desculpa pelo termo aplicado) conseguem perceber que existem formas diferentes de sobreviver, face às que estão habituados? Sabem, mas têm a convicção de que não têm lugar nos seus ideais liberais, pois nelas o lucro não impera.
Da leitura da reportagem do PÚBLICO de 22/10/2022 “Querem fechar blocos de partos? ‘Dão uma mala a cada um destes habitantes e vamos todos para o litoral do país’”, assinada por Natália Faria e Nelson Garrido, realço as declarações do autarca da Guarda, Sérgio Costa: “Dêem-nos uma mala e vamos todos para o litoral”. Estas palavras põem a descoberto o cansaço que os habitantes e dirigentes políticos do Interior apresentam, face à luta que travam pela inversão do despovoamento dos territórios nos quais se sentem felizes.
Acerca da questão que deu título a este artigo, apesar de lutarem “contra ventos e tempestades”, as pessoas que moram no Interior são resilientes, habituaram-se a viver com pouco, são um exemplo para aqueles que querem ter uma vida simples e com qualidade. Apesar de todos os contratempos, o Interior é um local onde cada minuto é contabilizado na nossa existência. Perante esta perspetiva, “sim, o futuro pode morar no Interior”. Não podemos é abandonar a Jangada.
Rui Jorge Badim Pinto
11.º ano
Agrupamento de Escolas de Santos Simões, Guimarães
[Este texto, que aqui publicamos, valeu a Rui Jorge Badim Pinto, aluno do 11.º ano no Agrupamento de Escolas de Santos Simões, em Guimarães, a vitória na edição de outubro de 2022 do concurso “Isto também é comigo!”, promovido pelo PÚBLICO na Escola e pela Rede de Bibliotecas Escolares (RBE). O vencedor recebe uma colecção de livros do PÚBLICO e vê o seu texto publicado. A escola do aluno ganha uma assinatura digital anual do PÚBLICO ou uma colecção de livros para a biblioteca. Integraram o júri: Álvaro Vieira, editor de Opinião do PÚBLICO; Cláudia Sá, professora de Português e coordenadora do Clube de Jornalismo da Escola Básica António Correia de Oliveira, em Esposende; Cristina Lin, aluna do Agrupamento de Escolas Emídio Navarro, de Almada; e Raquel Ramos, elemento da equipa do Gabinete Coordenador da RBE.]