opinião

Continuamos todos a falar da mesma maneira?

Os jornais escolares podem ser o meio de mostrar à velha escola que há uma nova forma de falarmos uns com os outros.

Vinte anos depois da viragem do milénio, a Escola parece não ter ainda aderido às mudanças que o mundo atravessa, mantendo ritmos e metodologias de trabalho sem grandes sobressaltos, numa tranquilizadora zona de segurança que a mantém ligada ao mundo de uma forma, no mínimo, bastante peculiar.

A mudança nunca foi uma característica de um sistema de ensino que prefere os métodos testados e com provas dadas na transmissão de conhecimentos, assentes na dualidade incontornável do manual-caderno. Mas o mundo está diferente e se a necessidade aguçou o engenho nas empresas que tiveram de se reinventar para não fecharem ou perderem os seus clientes, o mesmo não tem acontecido com a Escola, considerando que não precisa de o fazer pois o método já provou dar resultados. Talvez.

Porque o ato de comunicar assume hoje em dia múltiplas formas, mais rápidas e imediatas, apoiado por meios que o tornam incomparavelmente mais apelativo relativamente às formas tradicionais, já não basta produzir conteúdos, é preciso saber comunicá-los e divulgá-los de forma eficiente e fazê-los chegar ao maior número de consumidores. E, definitivamente, o velhinho caderno de linhas é algo que já não serve para esse propósito. Por muito que na sala de aula ele seja o único meio de registo.

É neste contexto de mudança que os novos meios de comunicação nascidos com a internet assumem um papel de extrema importância: goste-se ou não, as redes sociais, devidamente utilizadas, os sites ou plataformas de conteúdos podem e devem desempenhar um papel fundamental na forma como aprendemos, ligando-nos ao mundo lá fora mas, acima de tudo, aos jovens que se sentem pouco ligados às aprendizagens que lhe são fornecidas. São recetores, não produtores, cresceram a comunicar de outra forma mas só lhe permitem uma que não gostam de usar; vivem num mundo de partilha e o que já sabem fica fechado dentro da mochila ao fim do dia. Falta-lhes a interatividade, palavras novas para o mostrarem. Têm todas as ferramentas no bolso do casaco mas ainda ninguém se lembrou de as usar.

É neste contexto que os meios de comunicação e o jornalismo podem fazer a ligação entre estes dois mundos que parecem andar de costas voltadas. Precisamos de deixar os jovens gerir e mostrar o que sabem, disponibilizar esse conhecimento de forma dinâmica, dar-lhes espaço, incentivá-los a gravarem a sua voz para aprenderem a falar melhor, a filmar as suas descobertas de forma a melhorar a sua linguagem visual e corporal, a partilhar entre si e os adultos o que sabem fazer, a escrever um texto porque gostam de o fazer, a fotografar para ver o mundo de outra forma. E que juntem tudo, baralhem e voltem a dar.

Os jornais escolares podem ser o meio de mostrar à velha escola que há uma nova forma de falarmos uns com os outros. Não façam deles uma disciplina, coloquem todas as disciplinas dentro deles.