Concurso "Jornalistas em rede"
A banda de Santar está de volta aos concertos. Prémio para reportagem da aluna Margarida Gomes Monteiro
A primeira vencedora do concurso “Jornalistas em Rede”, promovido pelo PÚBLICO na Escola e a Rede de Bibliotecas Escolares, frequenta o 10.º ano no Agrupamento de Escolas de Nelas.
«Estou tão nervosa… primeiro concerto depois de tanto tempo…»
As bandas filarmónicas desempenham um papel importante na dinâmica cultural do nosso país, não só nas festas populares e religiosas — desfilando pelas ruas das cidades — mas também na formação musical de muitos jovens do interior. Foi esta curiosidade em conhecer e dar a conhecer a banda de Santar, com o nome Sociedade Musical 2 de Fevereiro, que motivou esta reportagem.
Reportagem de Margarida Gomes Monteiro, 10.º ano
Agrupamento de Escolas de Nelas
São vinte e uma horas de uma sexta-feira de uma noite fria do início de um novo ano. Faz frio. Muito frio. Como todas as semanas, vou ao ensaio da Banda Filarmónica de Santar. Este decorre no salão paroquial de Santar, requisitado pela Banda Filarmónica de Santar, uma freguesia do concelho de Nelas, bem no centro da região vitivinícola do Dão, e gentilmente cedido pela Junta de Freguesia. É aqui que são guardadas as fardas dos músicos, que se ensaia e que se fazem as preparações para uma saída. O edifício é um pouco frio, mas nada que uns aquecedores não resolvam. O calor soltado pelos corações das pessoas para a música também consegue aquecer o ambiente, já que a música tem esse condão: une e aproxima as pessoas.
Os músicos vão chegando aos poucos. Somos no total 40, mas hoje estamos apenas cerca de 25. Aliás, raramente vêm todos aos ensaios. Só quando são eventos especiais, até porque muitos trazem muitos anos de banda. Por amor à camisola. São os mais velhos. Mas há músicos para várias idades, entre os 12 e os 80 anos. A maior parte jovens. Estudam nas escolas de Nelas e Seia. Mas também há universitários. Alguns seguiram mesmo o sonho da música. Sonho esse que começou de pequenino na banda, viveiros e escolas de música que abundam pelo país fora. Alguns jovens formam a sua própria banda, com repertórios mais modernos e atuam pela região.
A presidente da banda é Susana Martins, primeira presidente do sexo feminino desta banda, em 130 anos. Uma honra tanto para a banda como para Santar! Neste ensaio, há que trabalhar para o dia de aniversário. Afinal são 130 anos. Margarida, de 15 anos, pega no fagote e dá as suas primeiras notas: “Preciso de me concentrar…” murmura. Após umas breves palavras de saudação, os membros começam a pegar nos seus instrumentos. Há-os para todos os gostos: para quem gosta de melodias e tocar de lado, há flautas transversais e flautim. Se gostam de tocar forte, o ideal é um instrumento de metal, um trompete, trombone, tuba, bombardino ou trompa. Os saxofones altos e clarinetes fazem algumas melodias, solos e acompanhamentos. Têm palhetas simples, algo bom para quem gosta de tocar forte, mas não gosta de um som metálico. Há ainda saxofone tenor, com papéis variados, mas mais grave que um saxofone alto. Para quem quiser treinar a sua capacidade respiratória, sem avançar logo para uma tuba, um saxofone tenor recomenda-se! Nas palhetas duplas, boas para separar as notas umas das outras, o famoso stacatto. Temos um fagote e um oboé, dois instrumentos muito diferentes, mas parecidos ao mesmo tempo.
Quando há saídas previstas, o ambiente dos ensaios aquece. Há a ansiedade de verificar se está tudo preparado: as fardas, os transportes, os horários das arruadas ou procissões, as músicas que devem ser tocadas. Sons por todo o lado. Em filas de três ou quatro pessoas, o maestro Rui Nunes organiza a banda antes da arruada e a formação é mantida até ao final da saída. É o primeiro concerto, após uma longa paragem imposta pela pandemia, que afeta toda a população. Os sentimentos de todos são diferentes. Uns sentem-se nervosos por serem estreantes num concerto, outros sentem-se entusiasmados. Afinal já faz dois anos sem concertos... Aos poucos, a tranquilidade e concentração são restabelecidas.
O último ensaio antes do concerto é sempre passado com alguns nervos: rever as peças todas do início ao fim, aperfeiçoar solos e passagens mais complicadas, observar e ouvir músicos convidados. Ora se neste ensaio, último antes do concerto, azáfama e nervosismo são grandes, no próprio dia do concerto nem se fala, principalmente nos mais novos, a insegurança: «Estou tão nervosa… primeiro concerto depois de tanto tempo…»; outros, porém: «Vai correr bem.»
Arruada antes da missa
6 de fevereiro: celebração do aniversário da banda — 130 anos — e dia de concerto junto à Junta de Freguesia de Santar. Dia de acordar cedo para fazer uma arruada por Santar, a terra natal. Mais tarde, deslocam-se ao cemitério para prestar homenagem aos falecidos membros. Finalmente, às onze e meia deste domingo, é hora da missa. Num país católico, e com músicos na casa, uma missa cantada não pode faltar. Os ensaios decorridos ao longo da semana prepararam bem os músicos que se ofereceram para cantar. A missa acaba. A banda, atrás do senhor padre, acompanha a procissão serpenteando pelas ruas de Santar. Chega a hora de almoço. Agora é cada um em sua casa, pois em tempo de pandemia, ajuntamentos devem ser evitados! Mais tarde, o grupo torna a reunir-se. Ensaio de colocação geral: afinação e posicionamento dos músicos são feitos. “Vamos afinar, oboé, nota de afinação!” grita Rui, o maestro da banda.
Chega a hora do concerto… as pessoas começam a chegar aos poucos e a observar a banda. Umas apontam para os diversos instrumentos, outras falam com o maestro e felicitam-no pelas conquistas alcançadas. Os músicos começam a tocar as músicas do concerto, com solos pelo meio, palmas e alegria do público. Sabe sempre bem ouvir os aplausos de quem assiste. Significa o reconhecimento de trabalho, de obstáculos e sacrifícios que vão sendo superados! E então os últimos dois anos! A banda vive de apoios financeiros da Câmara Municipal de Nelas, da Fundação Lapa do Lobo e empresas da região. Mas também de saídas no Verão, principalmente para a zona da Guarda e, claro, da generosidade dos habitantes da região.
Durante cerca de uma hora, os músicos animam a vida de Santar e das suas gentes. Para o ano há mais e, desejam todos, com muitos espetáculos!