Buracos na segurança do aeroporto
Quatro ilegais fogem da polícia pela pista fora. A ministra está "tranquila".
O episódio envolvendo cinco argelinos que apanharam um voo em Argel, com destino a Cabo Verde, mas que acabaram detidos pela polícia, em Lisboa, mostra bem a vulnerabilidade dos sistemas de segurança, num tempo em que o seu funcionamento é crucial para poupar vidas e danos materiais. Tudo indica que este caso não tem nada a ver com terrorismo, tratando-se de indivíduos que pretendem imigrar ilegalmente para a Europa, mas não deixa de ser perturbador constatar que as falhas da nossa segurança são conhecidas lá fora ao ponto de justificarem o risco por parte de quem as queira aproveitar. Sabe-se que alguns deles já tinham tentado entrar na Europa através de outros países da União Europeia, o que não se sabe é quantos já tentaram e conseguiram. E tanto pode tratar-se de imigração ilegal, como de gente bem menos recomendável como terroristas, traficantes de droga ou criminosos em fuga.
Nenhum dos episódios anteriormente detectado tinha sido tão grave como este que ocorreu agora em Lisboa, mas este alerta é um bom pretexto para se exigir das autoridades uma verificação minuciosa das condições de acesso e circulação nos três aeroportos internacionais de Portugal. Porque não chega sujeitar (e bem) cada passageiro a todas as incomodidades em nome do bem comum. É imperioso que os responsáveis a quem conferimos poderes e meios para nos proteger, cumpram a sua obrigação de estudar, com critério e rigor, cada centímetro do espaço que lhes está confiado, prevendo, até ao limite do possível, todas as escapatórias e esquemas dos infractores. É verdade que não se pode prever tudo, mas a estranha nebulosa à volta deste caso não nos deve deixar descansados quanto à eficácia da segurança, pelo menos no aeroporto Humberto Delgado. A não ser assim, como se compreende o silêncio das autoridades sobre o assunto? Isto porque, até agora (fim de tarde de domingo, 31 de Julho), ainda ninguém se disponibilizou a responder cabalmente a todas as questões em aberto. Qual o percurso dos cinco indivíduos depois de saírem do avião? Como é que quatro deles conseguiram escapar ao controlo e entrar na pista? Porque só fugiram quatro? Quais as intenções do quinto elemento? Foi detectado algum esquema de cumplicidade em território nacional? E não vale a declaração da ministra da Administração Interna a dizer que sai “descansada deste processo” e que está “tranquila” porque “todos os protocolos de segurança funcionaram”. Pelos vistos, para a ministra, no passa nada, apesar de quatro indivíduos terem andado a correr na pista do aeroporto. Este tom condescendente e a tentar desvalorizar uma situação grave preocupa mais do que alivia, porque convida ao baixar de braços. Não chega dizer que os cinco ilegais não são terroristas para desdramatizar. O problema é que se fossem terroristas Constança Urbano de Sousa ficaria igualmente tranquila porque eles tinham sido detidos. O problema é quantos têm conseguido escapar.