Siza Vieira já pode avançar para a reabilitação do eixo Prado-Recoletos, um dos principais de Madrid
A O arquitecto Álvaro Siza Vieira, responsável pelo projecto de requalificação do eixo Prado-Recoletos, um dos principais de Madrid, garantiu já estarem ultrapassadas as divergências com a principal contestatária da reabilitação da área, a baronesa Carmen Thyssen-Bornemisza."As questões estão ultrapassadas neste momento", afiançou o arquitecto, adiantando que o projecto, tendente a descomprimir o eixo rodoviário Prado-Recoletos, só ainda não avançou devido à actual crise económica. A zona a ser intervencionada deverá, findos os trabalhos, ter uma configuração muito próxima da que tinha quando foi construída. Sendo actualmente o principal eixo rodoviário que atravessa a baixa madrilena, a área deverá, depois da obra, vir a beneficiar os peões, que terão maiores espaços para circularem.
Apresentado a concurso há seis anos, e tendo o início das obras estado previsto para este ano, o projecto de Siza Vieira esteve sempre envolto em polémica. Tanto uma primeira versão como depois a respectiva alteração foram duramente atacadas pela baronesa, que ameaçou mesmo retirar o célebre Museu Thyssen-Bornemisza daquela área nobre da cidade (onde também se localiza o Prado), deslocando-o para outra zona de menor afluência.
A princípio, o projecto previa o abate de árvores na zona a intervencionar. A baronesa, em protesto, chegou mesmo a acorrentar-se a um dos exemplares.
Também os políticos, neste caso o presidente da câmara madrilena, Ruiz Gallardón, e a presidente do Governo Regional de Madrid, Esperanza Aguirre, andaram de candeias às avessas, apesar de serem ambos do mesmo partido. E tudo porque se dizia que iriam ser abatidas 600 árvores, todas elas nascidas no século XVIII.
"Simplesmente, um dos elementos da equipa de Madrid descobriu uma fotografia aérea, posterior à Guerra Civil [1936-1939], em que se via que não havia árvore nenhuma, porque durante a guerra foram todas destruídas", contou Siza Vieira.
O arquitecto acredita que toda a polémica em torno do projecto foi "uma luta política entre o presidente da câmara e a governadora da região de Madrid". De resto, conforme salientou, foram sendo feitas diversas alterações, muitas delas tendentes a salvar o maior número possível de árvores.
Siza Vieira diz ainda que as árvores a abater seriam muito menos que as 600 anunciadas, lembrando que ao longo dos anos terão desaparecido cerca de 200. "As pessoas esquecem-
-se que as árvores também morrem. Houve árvores que estavam velhas e os agrónomos da câmara tiveram que as derrubar, porque estavam a ameaçar queda", acrescentou o autor do projecto. Lusa
Siza reduz a polémica a "uma luta política entre o presidente da câmara e a governadora"
de Madrid"