Portugal sem qualquer direito ao espólio da nau quinhentista afundada ao largo da Namíbia
Trabalhos dos arqueólogos terminam hoje. Valor patrimonial do achado é de 70 milhões de euros. Portugueses vão continuar
a ajudar autoridades locais
a Todo o conteúdo da nau quinhentista naufragada ao largo de Oranjemud, no Sul da Namíbia, vai ficar na posse do Governo daquele país africano. Trata-se de um espólio avaliado em cerca de 70 milhões de euros e que, apesar de pertencer a uma embarcação portuguesa do século XVI e estar a ser pesquisado também por arqueólogos portugueses, não pode reverter para Portugal pelo facto de a Namíbia, à data da descoberta, ainda não ter ratificado a convenção da UNESCO que prevê a redistribuição de achados do género.As operações de resgate do espólio do navio - que será quase totalmente desconhecido, sabendo-se apenas que é português e que faria a rota das Índias, a ter em conta parte do seu carregamento - acabam hoje. De resto, sabe-se que o valor patrimonial já encontrado (espadas, canhões, astrolábios e muitos outros objectos de navegação, moedas e diversos objectos de ouro e prata, marfim, etc.) é do mais elevado alguma vez descoberto. "Outras explicações sobre o achado, a nau e o seu conteúdo, serão dadas em conferência de imprensa no dia 17", disse ontem ao PÚBLICO a porta-voz do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar), Maria Resende.
Três dias antes da conferência de imprensa regressam a Portugal os arqueólogos Francisco Alves e Miguel Aleluia que, juntamente com peritos da Namíbia e do Zimbabwe, têm procedido às operações na nau. Estes dois responsáveis deverão, de resto, integrar a equipa portuguesa que, no futuro, continuará a colaborar com as autoridades namibianas nas pesquisas sobre o achado e catalogação do espólio.
Segundo Maria Resende, os trabalhos dos arqueólogos acabam hoje e totalmente dentro do prazo previsto. O dia 10 de Outubro foi a data escolhida por se considerar que, de agora em diante, as condições atmosféricas na zona (os mareantes baptizaram-na como Costa dos Esqueletos) podem alterar-se e, em consequência, virem a inundar o fosso de seis metros de profundidade feito propositadamente para manter os vestígios a seco. "Nunca foi posta a hipótese de submergir a nau sem fazer os trabalhos previstos", disse a porta-voz do Igespar.
A nau foi descoberta em Abril deste ano, quando o Governo namibiano e a empresa sul-africana De Beers procediam, na zona, à prospecção de diamantes. A chamada dos peritos portugueses ao local ficou a dever-se às boas relações entre os Estados envolvidos e aos conhecimentos dos arqueólogos nacionais.
É um dos tesouros mais apetecidos. A localização da nau onde viajava Bartolomeu Dias, o navegador português que se afogou a 29 de Maio de 1500, algures entre a Namíbia e o Cabo da Boa Esperança (foi o primeiro a dobrá-lo), quando, integrado numa armada de Pedro Álvares Cabral, viajava do Brasil para a Índia, é um dos maiores sonhos dos arqueólogos subaquáticos.
Agora, mesmo não sendo conhecidos muitos pormenores, admite-se que esta embarcação seja uma das quatro que, devido a uma tempestade, soçobraram naquele dia, há 500 anos.