Portugal é um dos países onde tirar um curso mais compensa
Um trabalhador licenciado ganha em média mais 80 por cento do que uma pessoa que só tenha concluído o ensino secundário
Na faixa etária entre os 25 e os 34 anos, 19 por cento já tem uma licenciatura em Portugal. Na OCDE a média é de 32 por cento
a É um facto que a relação está presente em todos os países da OCDE: quanto mais altas as habilitações académicas, mais elevado é o salário. Mas em Portugal esta ligação é particularmente forte. Em média, um licenciado recebe 80 por cento mais do que um trabalhador que apenas concluiu o secundário. É uma das maiores diferenças encontradas entre os 25 Estados-membros da organização, só superada na Hungria e na República Checa.
Outro dado que comprova que estudar compensa: em nenhum outro país um trabalhador que apenas completou o ensino básico é tão penalizado em termos de rendimentos. Em média, recebe 57 por cento do salário de quem tem o 12.º ano. E em ambos os casos as diferenças têm-se acentuado ao longo dos anos. O que se tem mantido é a diferença salarial entre homens e mulheres, com prejuízo para elas.
Mais um recorde: em Portugal quase 60 por cento das pessoas que recebem duas vezes mais do que a média nacional são licenciadas. Entre os que apenas completaram o 9.º ano, só 7,5 por cento podem dizer o mesmo. As baixas qualificações da população portuguesa podem ajudar a explicar esta valorização.
Estes são alguns dos dados apresentados no relatório da OCDE Education at a Glance 2007, que é hoje divulgado.
Ao longo de mais de 450 páginas, apresentam-se milhares de indicadores relativos aos sistemas de ensino de cada um dos Estados-membros e que permitem constatar algumas características.
Se a valorização das qualificações em Portugal fica demonstrada - igualmente ao nível das taxas de emprego, ainda que de forma muito menos acentuada -, para a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico também ficou claro algo de negativo. "A maior selectividade no acesso ao ensino superior encontra-se em Portugal", lê-se no relatório, que analisou (para os dez países para os quais havia dados) em que medida o estatuto sócio-económico dos pais condiciona o prosseguimento de estudos dos filhos.
O relatório concluiu que em Portugal essa relação é determinante. Há uma sobrepresentação de filhos de licenciados no superior e estes jovens têm 3,2 vezes mais probabilidade de vir a tirar um curso do que seria normal.
Já na Irlanda, que a par de Espanha e da Finlândia são apontados como países onde a equidade no acesso à educação está mais garantida, o rácio é de 1,1, o que significa que as habilitações académicas dos pais pouca influência têm no percurso dos filhos.
Outro indicador que demonstra essa selectividade prende-se com a ocupação dos progenitores. Por exemplo, se em Portugal os denominados "trabalhadores operários" ("blue-collar" na designação inglesa) representam mais de metade da população masculina entre os 40 e os 60 anos, já os filhos deste grupo constituem menos de 30 por cento dos universitários.
Mais inscritos
Apesar destes constrangimentos, a verdade é que o ensino superior tem registado um aumento significativo do número de inscritos e Portugal não foge à regra. Na faixa etária entre os 25 e os 34 anos, 19 por cento já tem uma licenciatura. O número contrasta com os 32 por cento de média na OCDE. Mas a verdade é que entre os 35 e os 44 anos essa percentagem é apenas de 13 por cento.
Quanto às denominadas taxas de sobrevivência - percentagem dos que se inscrevem num curso superior e não o concluem, pelo menos no tempo normal -, os dados mostram que 34 por cento dos alunos falham este objectivo. A média da OCDE encontra-se nos 30 por cento.