Morreu Luís Archer, pioneiro da investigação em genética molecular

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Luis Archer marcou o pensamento genético e bioético português rui gaudêncio

Foi ele quem introduziu em Portugal a investigação em genética molecular, a partir de 1968. Luís Archer, padre jesuíta, cientista inicialmente relutante que acabaria por criar nos anos 70 os laboratórios de Genética Molecular do Instituto Gulbenkian de Ciência e do Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar, morreu ontem, aos 85 anos.

O ex-presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (cargo que ocupou entre 1996 e 2001) foi um aluno brilhante. Concluiu três licenciaturas (Ciências Biológicas, Filosofia e Teologia), fez dois doutoramentos, abandonou uma "promissora carreira de pianista" e tornou-se num homem que marcou "o pensamento genético e bioético português" e se dedicou a "um intenso trabalho de estudo e reflexão dos aspectos éticos das novas descobertas científicas", nas palavras de Walter Osswald, conselheiro do Instituto de Bioética da Universidade Católica, num artigo de opinião publicado no PÚBLICO, em 2006.

Luís Archer nasceu no Porto, a 5 de Maio de 1926. Tinha 21 anos quando entrou para os jesuítas e decidiu trocar "a bata do laboratório pela batina", como contou numa entrevista à Pública (Dezembro de 2006). "Dedicar-me a Deus foi um salto do tecnicismo frio [da Ciência] para qualquer coisa empolgante."

Desafiado pelos superiores a prosseguir estudos - e apesar de só querer exercer o sacerdócio ("queria sentir-me útil") - foi para Washington, onde se doutorou em Genética Molecular. Já em Portugal, fez outro doutoramento, em Biologia. O que se seguiu valeu-lhe muitas distinções - em 2008 recebeu o Prémio Nacional de Bioética, dois anos antes, o Prémio de Cultura Manuel Antunes. É autor de 250 artigos científicos e vários livros, dirigiu diversos organismos científicos, introduziu disciplinas de genética que continuam a ser ministradas nas universidades. Nos últimos 40 anos a sua casa foi a Residência de Escritores Brotéria, em Lisboa.

Ontem de manhã sentiu-se mal e foi levado de ambulância para o Hospital de Santa Maria. "Pelo meio-dia, veio a falecer", fez saber o porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, Manuel Morujão. A missa de corpo presente é hoje, às 15h, na Igreja do Colégio de S. João de Brito.

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