Todos contra sanções. O voto logo se vê
PSD e CDS não viram no congresso do PS sinais de esperança no futuro. Esquerda congratula-se com palavras de Costa. Os congresso visto pelos dois lados.
Jorge Moreira da Silva começou logo por dizer que o PSD estava no congresso dos socialistas "por cortesia". E consensos? Há nas palavras, mas nos actos logo se vê. António Costa pediu que houvesse um unanimismo visível dos partidos na Assembleia da República contra as sanções da Comissão Europeia, através do voto no projecto de resolução do partido. No fim do congresso, todos disseram estar contra as medidas correctivas, mas nenhum partido revelou como vai votar um texto.
O vice-presidente do PSD foi o primeiro a falar aos jornalistas para dizer que o que viu na reunião dos socialistas foi que "o PS se encostou mesmo aos partidos à sua esquerda", que há uma "preponderância do BE" no Governo e que está "sirização" não dá bom resultado. Jorge Moreira da Silva afirmou que o "PSD perdeu a esperança" que o Governo "mude de rumo" e de trajectória, mesmo percebendo por todos os indicadores que "o modelo económico está errado".
Quando questionado se o partido apoia o projecto do PS contra sanções da Comissão Europeia por não ter cumprido os 3% de défice no ano passado, que o PÚBLICO noticiou durante a semana passada, o dirigente social-democrata insistiu que este pedido de Costa "é uma cortina de fumo" para "não falar do que realmente importa", uma expressão que, aliás, já tinha sido utilizada pelo líder parlamentar do partido, Luís Montenegro. Moreira da Silva quis no entanto defender que Portugal "não deve ter qualquer sanção", quando o país tudo fez para cumprir as regras. "É uma falsa questão", disse. Quanto ao voto numa resolução, nunca respondeu.
Já o CDS remete para mais tarde uma posição, quando conhecer o texto dos socialistas. Aos jornalistas, a dirigente nacional do partido Ana Rita Bessa seguiu a mesma linha do antigo parceiro de coligação dizendo que "a posição do CDS é conhecida, não somos favoráveis à sanções". Não deixou, no entanto, de enviar um recado para a maioria parlamentar dizendo que "por norma é com os partidos à esquerda" que o PS tem de se preocupar em questões europeias.
A deputada fez ainda a leitura de como o partido viu o congresso do PS, dizendo que as posições de António Costa "não permitem ter qualquer esperança no futuro" até porque o que o primeiro-ministro fez foi "justificar" a relação "tensa e difícil" que tem com os parceiros à esquerda e "dos quais é refém".
O "vírus" da esquerda
Do outro lado da barricada, apesar da congratulação por ouvirem o secretário-geral do PS defender as posições conjuntas, nem tudo foram rosas. Os Verdes acabaram por criticar António Costa por este não ter tido uma palavra sobre o Tratado Orçamental nem sobre o comércio internacional e o acordo que está a ser gizado com os EUA. "Não se viu aqui pelo menos da forma como os Verdes o vêem", disse a deputada Heloísa Apolónia, que, no entanto, não quis deixar de dizer que este foi "um momento de afirmação desta necessidade de mudança" da qual o seu partido faz parte.
Já o Bloco de Esquerda acabou por responder às críticas da oposição, sobretudo de Passos Coelho, mas também de Francisco Assis, que se referiu ao partido como um vírus. "O BE não está debaixo de nenhum vírus nem de qualquer doença", disse aos jornalistas o líder parlamentar Pedro Filipe Soares. O dirigente do BE quis no entanto salientar que o BE faz parte da "garantia" ao Governo para que não se cortem os rendimentos dos portugueses.
Pedro Filipe Soares falou também das sanções, lembrando que Portugal tem "uma maioria parlamentar que diz que Portugal não deve merecer sanções".
Pelo PCP falou Jorge Cordeiro que, quando questionado sobre as críticas de que é o BE que manda no Governo, apenas disse que "sobre o comando do Governo fala o PS". O comunista ouviu o discurso de Costa e disse que escutou algumas ideias que o partido "valoriza", mas que há outras diferentes: "Ouvimos soluções e opções das quais divergimos", disse. Mais tarde, exigiu mais ao primeiro-ministro. "Temos a convicção de que, valorizando tudo o que já foi alcançado, é necessário ir mais longe, exigindo aspetos de consideração política que passam por enfrentar a submissão ao euro e à União Europeia, renegociar a dívida, incrementar a produção nacional, promover a criação de emprego, considerar elementos de controlo estratégico da economia portuguesa, a começar pela banca", disse.