Sócrates aparece, mas PS não sabe o que é que o ex-primeiro-ministro quer

Ontem um evento com jovens e mulheres socialistas, hoje um almoço com amigos, no futuro uma volta pelo país. José Sócrates está de regresso à política. Para quê? E porquê agora?

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Sócrates à chegada ao evento do PS-Lisboa Nuno Ferreira Santos
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Nem Mariana Mortágua ficou de fora do discurso de José Sócrates na Universidade de Verão da JS e das mulheres socialistas de Lisboa. Os refugiados, a lei do sigilo bancário, os direitos humanos, o aborto a discriminação sexual foram temas que, durante uma hora, o "primeiro-ministro", como começou por lhe chamar, erradamente, a voz off, levou a um pequeno palanque no Edifício Imaviz, em Lisboa.

Sócrates entrou por uma sala lateral e vinha rodeado por jornalistas e fotógrafos. Na sala não estavam figuras de primeira linha do PS para ouvirem um discurso sobre "Política Externa e Globalização" ou sobre a "dupla face da Europa", onde não só nasceram os direitos humanos por via de acordos europeus, mas também se assistiram às "barbaridades" das guerras, numa "aventura universalista e globalizante em que se fez o pior e o melhor."

O antigo primeiro ministro quis falar também de economia, criticando a recente medida do Governo que permite o acesso do fisco à informação sobre as contas com mais de 50 mil euros. E colocou-se do lado da esquerda em várias ocasiões - foi o caso da defesa de Mariana Mortágua perante as suas recentes declarações, que Sócrates considera terem reflectido aquilo que uma convidada bloquista acreditaria e expressaria quando convidada para discursar. Também elogiou o papel histórico do PS na luta contra a criminalização do aborto, a discriminação homossexual e pelos direitos das mulheres, frase que ressoou a importância atribuída por Sócrates aos direitos humanos na sala das Mulheres Socialistas.

O antigo primeiro-ministro dedicou ainda uma parte significativa da sua intervenção a criticar a excessiva lógica de mercado no panorama actual, afirmando que "já nem é só impor o mercado a tudo, trata-se de explicar tudo com o mercado". Defendeu que o Governo deve ter um papel regulador que proteja as "garantias dos cidadãos", e não vender o direito público, como descreve o que aconteceu com a introdução dos vistos gold.

No final, José Sócrates não perdeu a oportunidade de lançar farpas. Ana Gomes foi seu o alvo principal (nem uma palavra sobre Carlos Alexandre) ao falar aos jornalistas, após o discurso, Descreveu como "absolutamente repugnantes" as acusações da eurodeputada socialista sobre a sua participação no evento. Acrescentou ainda que, embora esteja habituado aos insultos por parte dos adversários políticos, não esperava uma "condenação sem julgamento" vinda do interior da estrutura partidária.

Questionado no âmbito da Operação Marquês, José Sócrates afirmou que "o que os portugueses esperam é que o Ministério Público se explique, é que o Ministério Público não abuse dos seus poderes. O Ministério Público não tem o direito de fazer o que está a fazer, portanto, neste momento quem está sob suspeição é o Ministério Público".

As razões do timing

Mesmo que não tenham sido visíveis no evento de ontem, muito centrado na zona de Lisboa, à volta de Sócrates continuam a gravitar, de acordo com as fontes do PÚBLICO, alguns dos amigos de sempre, como Renato Sampaio (deputado do PS), Paulo Campos (ex-secretário de Estado), Mário Lino (antigo ministro de Sócrates), Carlos Martins (ex-número dois da Câmara da Covilhã) e André Figueiredo (ex-dirigente do PS). Este último será, inclusivamente, a pessoa que trata da organização dos eventos e da agenda do ex-secretário-geral do PS ou, como diz um socialista, do “processo de reabilitação do ex-primeiro-ministro”, que esteve detido durante nove meses.

Só na última semana, Sócrates esteve num jantar restrito, num evento do PS de Lisboa e num almoço de homenagem (hoje, no Parque das Nações). Mas aquilo que alguns designaram como “a rentrée política do animal feroz” começou antes, no seu jantar de aniversário, a 6 de Setembro, na LX Factory. Logo aí ficou no ar a ideia de que outras ocasiões chegariam para estar na presença de Sócrates e agora está em aberto a possibilidade de o político fazer uma volta pelo país.

Sobre as razões do súbito protagonismo político do antigo primeiro-ministro, um socialista explica ao PÚBLICO que ninguém sabe exactamente o que ele pode significar. “De uma candidatura presidencial a uma candidatura autárquica, tudo é possível.”  Texto editado por Sónia Sapage

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