Primeiro-ministro na Madeira com agenda influenciada pelo PS regional
António Costa está hoje no Funchal para uma curta visita ao arquipélago. Na agenda, contam-se duas inaugurações e um encontro com o presidente do governo regional, mas o tempo que passa na capital madeirense, governada por uma coligação de esquerda, causa estranheza
Uma visita curta, apenas um dia, que pretende normalizar as relações institucionais entre Funchal e Lisboa, e virar a página de um período de costas voltadas entre a República e a região autónoma, com diferentes protagonistas. Mas que começou mal.
A deslocação oficial de António Costa à Madeira, que arrancou ontem com um jantar privado com o presidente do governo regional, Miguel Albuquerque, e termina hoje, foi divulgada em primeira mão pelo líder do PS local, Carlos Pereira, em Fevereiro passado. Este facto já causou mau estar junto do executivo madeirense, e quando no final da semana passada foi revelada a agenda do Primeiro-ministro, a questão subiu de tom.
António Costa vai demorar-se no Funchal, autarquia governada por uma coligação de esquerda, optando por uma visita prolongada ao Mercado dos Lavradores, que não constava das sugestões indicadas pelo gabinete do social-democrata Albuquerque, em detrimento de outros locais sugeridos como a zona franca da Madeira ou o pólo tecnológico da universidade.
Manda o protocolo das visitas oficiais, que sejam as entidades visitadas a apresentar sugestões para a agenda, mas, sabe o PÚBLICO, o Mercado dos Lavradores não foi um desses locais, tendo sido indicado pelo PS-Madeira em articulação com a autarquia funchalense. A escolha do local é simbólica, já que o mercado é um ponto de paragem obrigatório durante as campanhas eleitorais, mas raramente integra a rota dos políticos, depois de eleitos.
Ainda no Funchal, Costa vai inaugurar, durante a tarde, o Complexo Balnear do Lido, um ex-libris da capital madeirense, que foi destruído num temporal em 2010. O convite, mais uma vez não saiu da Presidência madeirense, mas do presidente da câmara, Paulo Cafôfo, embora a obra de reconstrução daquele espaço, tenha começado no anterior mandato autárquico, sob a liderança de Albuquerque.
De fora, ficou a paragem na zona franca. Uma visita ao local, sabe o PÚBLICO, estava a ser estudada. Assessores do gabinete do primeiro-ministro estiveram no Centro Internacional de Negócios da Madeira em visita preparatória. Agentes do corpo de segurança pessoal da PSP também, mas no final da semana passada, os empresários foram informados que aquele parque industrial já não constava da agenda de António Costa.
Pelo meio, o primeiro-ministro, acompanhado pela secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, e pelo secretário de Estado da Indústria, João Vasconcelos, vai à Assembleia Legislativa da Madeira para um Madeira de Honra. É aqui que estão previstas as declarações políticas do dia, antes da comitiva rumar para a Quinta Vigia, sede do governo madeirense, para um almoço oficial, em que participam os deputados madeirenses eleitos para a Assembleia da República: Rubina Berardo, Sara Madruga da Costa e Paulo Neves (PSD), Luís Vilhena e Carlos Pereira (PS) e Paulino Ascenção (Bloco).
A visita, a primeira de Costa enquanto primeiro-ministro à Madeira, termina no final da tarde, com a inauguração da nova sede de uma empresa tecnológica, na Ribeira Brava. Antes, os dois governantes vão abordar temas pendentes entre Lisboa e o Funchal. A devolução das verbas da sobretaxa do IRS cobradas na região – o executivo madeirense reclama cerca de 60 milhões de euros –, as dívidas dos subsistemas de saúde como os da PSP e das Forças Armadas ao Serviço Regional de Saúde e o financiamento para a construção do novo hospital central, são três dos temas que deverão fazer parte da reunião.
Desde que assumiu a liderança do Governo, esta é a primeira visita de António Costa a uma região autónoma – tem prevista uma deslocação aos Açores antes do final do mês -, e partiu de um convite endereçado por Albuquerque, no final do ano passado, durante a primeira reunião entre ambos, em Lisboa.