Marcelo e Costa felicitam Donald Trump
O Presidente português não perdeu tempo e antes das nove da manhã emitiu uma nota oficial. Costa primeiro fala em "más notícias", mas depois não concretiza e felicita Trump pela eleição.
Numa nota curta, de menos de 400 caracteres, Marcelo Rebelo de Sousa felicitou o seu novo homólogo americano, Donald Trump, que assumirá funções em Janeiro, referindo os laços de amizade que unem os dois países. Ainda não eram nove da manhã.
"O Presidente da República enviou uma mensagem de felicitações ao Presidente eleito dos EUA, Donald Trump, desejando-lhe sucesso no exercício das funções que foi chamado a desempenhar pelo povo norte-americano", lê-se no site da Presidência. "Fez ainda uma referência aos laços de amizade que unem Portugal e os EUA e à significativa comunidade de portugueses e lusodescendentes residentes nos Estados Unidos da América."
Da parte do Governo a reacção surgiu num comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros, enviado às redacções. "O Governo português felicita Donald Trump pela sua eleição como presidente dos Estados Unidos da América. Portugal e os Estados Unidos estão unidos por uma longa relação histórica, por muitos interesses comuns e pela presença de uma importante comunidade portuguesa e lusodescendente residente naquele país. A cooperação entre as duas nações é vasta e diversificada, abrangendo áreas como a defesa e segurança, o comércio e investimento, a ciência e a tecnologia."
No texto, o MNE acrescenta: "Confiamos que as prioridades da política externa da nova Administração se situem no grande quadro de valores que tem norteado a ação dos Estados Unidos no mundo, no compromisso com o sistema multilateral das Nações Unidos, com a Aliança Atlântica e com o desenvolvimento das relações com a União Europeia. Portugal cooperará lealmente com os Estados Unidos, quer no âmbito bilateral quer no âmbito multilateral, respeitando o direito internacional e os valores democráticos e reforçando os laços que tão profundamente ligam os dois países."
Já esta manhã, o primeiro-ministro felicitou Donald Trump pela sua eleição, mas não sem antes deixar escapar que até houve "más notícias", que, no entanto não quis concretizar.
Durante o discurso que fez esta quarta-feira de manhã no balanço do Programa Nacional de Reformas, António Costa deixou escapar a frase: "Podemos ficar contentes com as notícias do dia-a-dia... Ou podemos ficar tristes com as más notícias do dia-a-dia que também as há", e arrancou sorrisos dos presentes. Contudo, na reacção oficial foi mais comedido e não quis assumir que estava a falar da eleição de Donal Trump.
Aos jornalistas, disse que felicitava Trump pela eleição e, sobretudo que quer manter as relações com os Estados Unidos. "Temos por hábito respeitar as decisões democráticas dos povos de quem somos amigos e com quem temos relações. Se eu tivesse de votar no EUA teria tido necessidade de responder a essa questão, assim dou como boa notícia que o desemprego em Portugal baixou".
"O Governo português já felicitou o senhor Trump pela sua eleição, reafirmando as nossas tradicionais boas relações com os Estados Unidos que serão certamente mantidas, tendo em conta o interesse comum de partilharmos o mesmo espaço atlântico. Temos o desejo de manter as excelentes relações que temos tido ao longo da História com os Estados Unidos", disse. e reafirmou: "As nossas relações são seculares com os EUA. Temos uma comunidade portuguesa muito importante com os EUA, partilhamos o mesmo espaço no Atlântico, a mesma aliança no quadro na NATO. Em Portugal já houve vários governo, nos EUA já houve vários governos, Relacionamo-nos com Estados, relacionamo-nos com povos. O povo americano fez a sua escoha democrática".
BE: “uma vitória da política do ódio”
Reacção diferente tem o Bloco de Esquerda. “Péssima notícia”, “uma vitória do ódio”, um “perigo global”. Estas são apenas algumas das expressões que se podem ler no comunicado que a Comissão Política do Bloco enviou às redacções sobre as eleições nos Estados Unidos.
“A vitória de Donald Trump é uma péssima notícia para os Estados Unidos e para o mundo. É uma vitória da política do ódio – ódio à igualdade de direitos, à imigração e ao primado dos direitos humanos”, começam por escrever os bloquistas. E acrescentam: “A eleição de Trump é um perigo global, pela sua declaração de guerra contra o planeta, feita logo na campanha eleitoral. Os EUA, a segunda maior economia do mundo, têm agora um presidente que nega a existência de alterações climáticas e quer cancelar o acordo de Paris.”
Para o BE, “trata-se do caso mais impressionante no ciclo de desintegração dos sistemas políticos depois da crise financeira. A permanência do domínio da finança globalizada e o agravamento das desigualdades nos Estados Unidos e na Europa produz convulsões sociais e terramotos políticos como este”.
A nota sublinha ainda que “a inexistência de uma alternativa mobilizadora, como a que poderia ter sido protagonizada por Bernie Sanders [candidato que acabou por desistir, apoiando Hillary Clinton], também abriu caminho a este resultado”. Os bloquistas defendem, por fim, que “enfrentar o projecto de Donald Trump, que é a resposta errada aos impasses da globalização financeira, exige o encontro sem fronteiras de quem nunca desiste dos objectivos da democracia contra a barbárie, dos direitos humanos e da viabilidade do planeta”.
PCP teme política externa reaccionária e agressiva
Também o gabinete de imprensa do PCP enviou um comunicado às redacções no qual considera que “as eleições para a Presidência, assim como para o Senado e a Câmara de Representantes, realizadas nos Estados Unidos da América, expressaram profundos problemas, contradições e desigualdades que percorrem a sociedade daquele país, que são expressão do aprofundamento da crise estrutural do capitalismo que afecta particularmente a maior potência imperialista do mundo”.
Para os comunistas, “o lamentável espectáculo da campanha eleitoral expressou de forma muito clara a degradação do sistema político dos EUA, facto inseparável da crise social e da desilusão provocada em vastos sectores populares pela presidência Obama que, tanto no plano interno como externo, defraudou as expectativas de mudança que falsamente foram alimentadas”.
O PCP entende que “a eleição de Donald Trump como Presidente dos EUA poderá aprofundar ainda mais a política externa reaccionária e agressiva dos EUA levada a cabo por sucessivas administrações norte-americanas, e da qual a candidata derrotada foi destacada protagonista”. Sublinham ainda que “tal facto realça a importância da intensificação e alargamento da luta pela paz e contra as ingerências e agressões do imperialismo, nomeadamente do imperialismo norte-americano”.
O PCP expressa, por fim, “a sua solidariedade aos comunistas, às forças e sectores progressistas dos EUA que persistem na luta pela justiça social, a democracia, o progresso e a paz, e na denúncia da verdadeira natureza de um sistema de poder contrário aos interesses dos trabalhadores e do povo dos EUA”.
Cristas: "respeitar a decisão"
Já a presidente do CDS-PP, Assunção Cristas, defendeu que é preciso aguardar a acção do novo Presidente, considerando que Portugal e os Estados Unidos continuarão a relacionar-se e sublinhando a necessidade de uma reflexão sobre as sondagens. Segundo a agência Lusa, Assunção Cristas afirmou aos jornalistas que se vai ter oportunidade de ver o que muda "na acção do novo Presidente" e que hoje "é o dia de respeitar a decisão que foi tomada pelo povo americano, em liberdade e em democracia, e saudar os resultados. Em democracia, os resultados têm sempre de ser respeitados", afirmou.
Antes de uma reunião com a CGTP-IN, na sede da central sindical, em Lisboa, a líder centrista afirmou que "Portugal e os Estados Unidos certamente continuarão a relacionar-se enquanto estados autónomos e independentes e democracias maduras, que têm áreas e convergências de interesse, como todos as questões que têm a ver com o Atlântico".
"Há um aspecto que é importante realçar, que nos levou a todos a alguma surpresa, que é o aspeto das sondagens. Nós vimos estas semanas todas, múltiplas sondagens dizer que Hillary Clinton ia vencer, não foi o que aconteceu. Em matéria do ‘Brexit’, na véspera, apesar de mais renhidas, apontavam também para um resultado que não se verificou", sustentou ainda citada pela Lusa.
"No CDS já estamos habituados a dar pouca importância às sondagens, mas a verdade é que elas influenciam o voto das pessoas", declarou.
O PAN também enviou um comunicado às redacções no qual considera se refere à eleição “de um actor social mediático que, em paralelo e paradoxalmente não foi levado a sério pelos media, pelos diversos agentes sociais do país e mesmo pelo maior partido concorrente, o Democrata”. Acrescentam, porém, que “o descontentamento das cidadãs e cidadãos e das comunidades pelo apelidado establishment era há muito visível”. Para o PAN, “nenhum dos candidatos oferece reais soluções para uma liderança global em termos de um novo paradigma que se dissocie da expansão militar, do controlo corporativo da política, da protecção dos ecossistemas, da urgente descarbonização da economia norte-americana e mundial, e que elimine, de vez, o antropocentrismo”.