Cartas à Directora

Saudades do (passado) impossível

Não me custa entender que ainda haja tantas pessoas que, tendo vivido (n)o regime anterior, lamentem o “25 de Abril” e consequências. Estão no seu direito. Se, à democracia, preferem a autocracia, o problema não é meu. Já me causa alguns engulhos de compreensão que alguns deles pensem que, se “nada” tivesse acontecido naquele dia, toda a nossa realidade se teria mantido incólume: ainda tínhamos colónias para explorar, ouvíamos a Emissora Nacional e a Renascença, víamos a RTP (em dois canais e a preto e branco?), líamos jornais sujeitos a exame prévio, bebíamos spurcola e bagaço no café em que olhávamos em redor (não fosse haver bufos encapotados). No meio de tanta “felicidade”, o mundo haveria, com naturalidade e pela inércia, de nos impor regras inconciliáveis com o atavismo das botas de elástico. Dizer convictamente que o 25 de Abril só nos trouxe desgraças é como pensar que os nossos filhos adultos são ainda bebés e que, como já não o são, a culpa é só nossa, porque os deveríamos ter impedido de crescer. Afinal, eram tão engraçados e deixaram de o ser. Viver à moda do 24 de Abril já não é possível. Deo gratias!

José A. Rodrigues, Vila Nova de Gaia

 

A casa da democracia

Tivemos este ano, a presença da Associação 25 de Abril nas comemorações da data na Assembleia da República. Afirmou o Presidente da AR que a “casa era também deles”. De facto, a casa é de todos os Portugueses e se ela hoje existe tal como é, isso deve-se àqueles que realizaram a revolução e também aos outros que impediram a instauração de uma nova ditadura.

Nos tempos recentes do “governo de direita” não estiveram presentes, em protesto. Têm liberdade para isso. No entanto, entre os milhões de Portugueses que votaram no PSD, no CDS e em Cavaco Silva, muitíssimos deles apoiaram o 25 de Abril e não há nenhuma razão para menosprezar a sua opção democrática.

Não existe a “nossa democracia”, há apenas uma, global, que exige ser respeitada por quem se acha democrata. É curioso como o 25 de Novembro ainda continua a ser lembrado por muitos como uma data triste, pela interrupção do “processo”, um revés para a “liberdade”, quando o seu líder foi a seguir democraticamente eleito Presidente da República à primeira volta. Acrescentando Pinheiro de Azevedo nas contas, tivemos 3/4 dos eleitores a sancionarem o 25 de Novembro, o que deveria ser significativo para os democratas.

Esta associação pode marginalizar-se como entender. Se o fazem face a um Parlamento democraticamente eleito, de quem não gostam, estão a reduzir a sua dimensão e a ficar pequeninos para a história. O 25 de Abril, genuíno, não foi para isto.

Carlos J F Sampaio, Esposende

 

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