Cartas à Directora
Um poeta ministro: o contrapoder no poder
O novo ministro da Cultura é o Dr. Luís Filipe de Castro Mendes, embaixador e – destaca-se – um poeta.
Vamos ter um poeta ministro. Esperemos que seja um ministro poeta. Promete.
Se "a poesia é sempre um contrapoder" (cito Manuel Alegre, in Jornal de Negócios – 8/4/2016), então, vamos ter no poder... o contrapoder (e vice-versa). Promete, mais ainda.
“Faz falta", cada vez mais falta, à (na) Política aquilo (quem) sobre o que é raiz e fruto da Poesia: as pessoas, nós próprios.
Faz falta "animar a malta" com humanidade e "sem poesia não há humanidade" (Teixeira de Pascoaes).
Porque, com a "normalidade" que já reconhecemos à "humanidade" dos mercados, ao "mercado de trabalho" (e o trabalho consubstancia-se nas pessoas que trabalham), ao "mercado da saúde (das pessoas), ao "mercado da educação " (das pessoas), ao "mercado de... ", com certeza também achamos já normal falarmos no "mercado da misericórdia".
E, daí, para nos desintoxicara das percentagens, curvas, quadros e ratings com que o poder político (no Governo e na Oposição) nos adverte para não continuarmos a “viver acima das nossas possibilidades” por causa da inevitável implacabilidade dos “mercados”, a pertinência e a premência de termos no poder político alguém que de forma bela e humana, poeticamente, nos tranquiliza (e, melhor ainda, nos desperta…) para a “Misericórdia dos Mercados”: “Nós vivemos da misericórdia dos mercados. / Não fazemos falta. / O capital regula-se a si próprio e as leis / são meras consequências lógicas dessa regulação, / tão sublime que alguns vêem nela o dedo de Deus. / Enganam-se. / Os mercados são simultaneamente o criador e a própria criação. / Nós é que não fazemos falta.” (Luís Filipe Castro Mendes - A Misericórdia dos Mercados, ed. Assírio & Alvim, 2014).
João Fraga de Oliveira, Sta Cruz da Trapa
Um recado aos bispos portugueses
Agora, que na sociedade portuguesa se discute a eutanásia e que o assunto pode subir ao Parlamento, vem a Conferência Episcopal Portuguesa reafirmar a sua “total rejeição da eutanásia que elimina a vida de uma pessoa, matando-a”.
Não sei se os senhores bispos já se aperceberam que o estado é laico e não tem de se preocupar com as opiniões de qualquer confissão religiosa por muito maioritária que ele seja na sociedade.
Digam ao vosso rebanho que não faça eutanásia e se dedique aos cuidados paliativos, mas não por amor do vosso Deus não imponham a vossa vontade aos que estão fora do rebanho.
O Povo português através dos seus representantes livremente eleitos decidirá o que pretende, decisão essa que não afeta os vossos crentes, que têm a sua liberdade de escolha. Não queiram vossas reverências tirar aos outros a liberdade de escolha que ninguém vos tira.
Creio que vossas reverências se esqueceram que Jesus separou o que é de Deus do que é de César
Carlos V. Anjos, Lisboa