Cartas à Directora
De Luaty até aos vendilhões pátrios
Acabamos de saber que Luaty Beirão – activista e símbolo de resistência ao poder instituído – foi condenado a cerca de seis anos de prisão por ter cometido o ‘nefando crime’ de ter atentado contra o muro de betão do Governo de Luanda, cujos seus membros pensam que só existirá Angola com eles eternamente no poleiro.
Entretanto, na ‘grande tabanca do homem branco’, como antes os antigos ultramarinos apelidavam Lisboa, os vendilhões do Império Perdido recriminam a devolução à Pátria dos quatro feriados usurpados ao Povo e à Nação.
Se o primeiro de Dezembro nada lhes diz, o cinco de Outubro pouco lhes acrescenta, uma vez que o seu rincão, agora, assenta na corrupção que lhes engorda os odres.
Entretanto, os feriados do Corpo de Deus/Divino Espírito Santo e de Fiéis Defuntos para os mesmos apátridas também nada lhes diz.
Corpo de Deus ou Espírito Santo, este último, gordo pecúlio lhes acrescentou ou acrescentava.
Quanto a Fiéis Defuntos pior ainda. Se os defuntos lhes tivessem sido fiéis em vida, isso sim. Agora mortos, ‘cevada ao rabo’.
José Amaral, V.N. Gaia
O novo estilo...
...do Senhor Presidente da República. Ele avisou, antes de tomar posse, que não mudaria o seu peculiar estilo. Há que respeitar. Escrevo estas linhas, para felicitar o seu discurso, sem ser escrito, que promulgou, e bem, o OE-2016, o tempo dirá, se todos nós portugueses, iremos melhorar as péssimas condições de Vida, que temos vindo a suportar. Com o devido respeito, por esta comunicação, pergunto-me: quantos portugueses e portuguesas, viram, pelas 17h00, à hora do lanche... esta comunicação, de aproximadamente dez minutos? Praticamente ninguém, e era um assunto da maior importância, para o cidadão comum.
Tomaz Albuquerque, Lisboa
A nossa condição humana
Ai!, se não fossem as Palavras... Qu’era de mim sem elas. Ponho as Palavras no altar do coração, na defesa do desvalido, do sem-abrigo, também vítima de má acção...
Na Invicta, minha amada, depois da participação no Encontro dos Leitores Escritores na UNICEPE, deambulei junto à Trindade p’la estrada. Vi e conversei com dois sem-amores e sem tecto, perturbados e cunhados p’lo torno e p’la eira sem beira. Pés rapados, c’os andarilhos encostados ao asfalto frio de pés descalcetados – O senhor que faz?, é doutor?, perguntou o primeiro.
- Eu sei, é varredor!, gracejou o derradeiro. Respondi: ‘Nós somos o que fazemos, o que não se faz não existe. Portanto só existimos nos dias em que fazemos’. Disse o luminoso Padre António Vieira.
A caminho da Ribeira p’las vielas, velhas e relhas prometeram-me tarde de diversão e já com a mão puxaram-me p’ró lancil da co-habitação. Pássaros primaveris tocavam em gaiolas enfunadas por cima das escadas escuras e olhando-nos, gargalhavam. Despedi-me: Divirtam a Vida qu’é Querida! – Olha queria letra!, responderam as bisavós escancarando bocas enrugadas com dentaduras perfuradas.
A minha Querida cidade do Porto é um bom abrigo porto!
Vítor Colaço Santos, S. João das Lampas