Cartas à Directora

A eutanásia na ordem do dia

Apesar de se tratar de um tema fracturante da sociedade civil, a eutanásia despertou ultimamente a atenção dos portugueses e culminou até no aparecimento de um movimento cívico para a despenalização da morte assistida.

E certamente vai chegar em breve o momento legislativo na Assembleia da República, com uma lei reguladora da eutanásia (como, quando e em que condições as pessoas podem, em liberdade, pôr termo à sua vida, pelo menos, em situações extremas, quando não há horizonte à vista).

Mas, a eutanásia é para muita gente um tema recorrente, a favor ou contra, e é tempo de chegar a uma solução legislativa, até porque se trata de um direito fundamental, o direito à morte com dignidade, a par do direito á vida.

E também no tratamento da morte e na cultura funerária interessam soluções legislativas que cumpram o direito à morte com dignidade.

Enfim, também aqui, outros tempos, outras mentalidades….

Guilherme Fonseca, Lisboa

 

Eutanásia

Do prefixo grego "eû" que significa "bem, nobremente, regularmente, bondosamente, felizmente" e do latim "tanatos" que significa "morte". Ao contrário da Inquisição, das cruzadas, das "guerras justas" (como o bombardeamento atómico apoiado pelo Cardeal Spelman), da pena de morte (muito aplicada nos Estados Pontifícios), a eutanásia significa sermos donos de nós próprios, co-criadores, conforme aumentamos o nosso domínio sobre a Natureza. Nascemos quando os nossos pais decidem, morremos quando acabou o nosso projecto de vida e passamos a ser um fardo para nós e para os outros. O "direito à vida" conflitua com outros direitos e está dependente do arbítrio humano, o "dever de viver" depende do que temos para oferecer aos outros e a nós. Não estamos mais condenados, sem defesa, à Natureza bruta e aos seus caprichos. O "deus dos exércitos" da Bíblia mandava matar os primogénitos egípcios ou os povos que habitavam a "terra prometida". Livrámo-nos dele.

J. Carvalho, Lisboa

 

“Plano B” e “exigir”

Quero convosco partilhar um pouco do que me aflige, numa incomodidade que me dá cabo dos nervos e da saúde. Não posso com o afrontamento verbal de se inquirir alguém se tem ou não um plano B para isto, para aquilo, ou para mais alguma coisa. Fico possesso.

Este sofisma verbal, actualmente, não passa de um sistema de boicote e de achincalhamento contra quem não gostamos que faça o que pretende fazer, pondo em causa a nossa teoria ou prática, que julgamos ser o único caminho viável, logo, sem alternativa.

Nem tudo é negativo quando praticado por quem não é da nossa opinião, nem devemos pensar que o que fazemos não merece qualquer reparo.

Também não gosto nada de alguém exigir seja o que for. Para mim é uma verdadeira confrontação que, levada à mesma letra, só faz extremar as posições, sem qualquer consenso.

Por exemplo: ‘exigimos que ….’. E eu pergunto: o que é que esse alguém fez ou sofreu para fazer tal exigência?

Demandemos em democracia e ética para não afrontarmos o adversário com um plano B e não exijamos o que muitas vezes não contribuímos para tal exigência.

José Amaral, VNGaia

 

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