Cartas à Directora

Médicos precisam-se

Passei uma noite na urgência de um hospital, não interessa o nome e o local. Eu encostado à maca, com um velho, o meu pai.

Fiquei com a sensação que íamos assistir a um confronto doente – médico: de um lado da sala ampla as macas doentes alinhadas, do outro lado nove mesas numeradas. Podiam ser balcões de finanças, ou Segurança social, eram balcões de atendimento de doenças.

Nas primeiras quatro horas, um terço desses balcões ocupados por jovens médicos, tímidos, assustados, silenciosos, serviram-lhes de refúgio e protecção, escondidos por trás dos ecrãs dos computadores, teclando muito, disfarçando ocupação. Não chamaram ninguém, não arriscaram.

Nos outros dois terços (também preenchidos por jovens, estes provavelmente mais afoitos), cada utente estacionava na expectativa de uma decisão favorável, pelo menos sair do impasse, quando o médico que os atendia chegasse a um acordo com os colegas do lado quanto ao diagnóstico, pedindo-lhes apoio, a eles também desapoiados, sobre a decisão terapêutica, que por esse caminho só chegará ao início da manhã.

Em quatro horas como olheiro ao lado de uma maca num banco de urgência, vislumbrei uma médica (presumo que a graduada porque era a mais velha, confiante e fugidia) que se fez à cena esvoaçante, como diva, e saiu de depressa, perguntando aos miúdos se estava tudo bem.

Postou em voz suficientemente audível uma máxima muito reconfortante para um utente numa situação de emergência: “ Oh Niquinhas, já sabes, não te acanhes. Se tens dúvidas pergunta aos outros, não fiques calada”.

A Niquinhas tocou-me a mim! Tive pena dela, mas quero lá saber da pena, quando as preocupações são com os meus!

Durante essa noite, uma ridícula poça de sangue da senhora do lado que tirou o cateter, jazeu durante duas horas no chão pouco imaculado da sala. Foi alvo de atenções dos auxiliares, das enfermeiras, dos médicos, que de quando em vez, olhavam e diziam: “tem que vir alguém limpar isto”. Ninguém o fez, estavam todos demasiado atarantados para saberem o que andavam a fazer naquele sítio.

Haverá por aí um médico?

Luís Robalo, Lisboa

 

Emprego à hora

Vem a propósito a nova forma de empregos, que o sistema, que está dominando o mundo, quer implementar para os cidadãos. A lembrar.

Empresas fornecedoras, de médicos, para os hospitais pagos à tarefa ou à hora.

Empresas que fornecem enfermeiros a 3euros à hora como foi visto numa reportagem nos média esta semana a uma enfermeira que decidiu emigrar para assim poder obter mais valor para o seu trabalho

Agora vem a propósito o princípio da igualdade.

Porque não pagar também aos CEO e a dirigentes nas empresas também à hora e à tarefa

Porque não pagar aos deputados também à hora e á tarefa!.. Ou para estes senhores que fazem as leis não há exigências deste tipo.

Então e para os banqueiros que abrem empresas para sacar o dinheiro dos bancos, através de familiares e amigalhaços e depois inscrevem estes dinheiros nas alíneas de incobráveis dos balanços. Porque é que estes senhores não devem também surripiar à hora.

Manuel Gomes, Lisboa

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