Moçambique: Venâncio Mondlane acusa governo português de “manipulação”

Mondlane acusa Paulo Rangel de “manipular” opinião pública e de parcialidade. Ministro português vai representar o país na tomada de posse de Daniel Chapo, victória que Mondlane não reconhece.

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Mondlane acusa Paulo Rangel de "manipular" a opinião pública LUISA NHANTUMBO / LUSA
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O candidato presidencial Venâncio Mondlane acusou hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Paulo Rangel, de parcialidade e de "manipular" a opinião pública ao dizer que tem acompanhado o processo pós-eleitoral em Moçambique.

"Não há trabalho feito da sua parte em relação ao diálogo em Moçambique. Pelo contrário, o senhor sempre foi parcial, foi tendo posições totalmente tristes, sempre foi de adjectivos contra a minha pessoa", afirmou Venâncio Mondlane, num directo a partir da sua conta oficial na rede social Facebook, dirigindo-se a Rangel.

O ministro, que é esperado em Maputo na quarta-feira, 15 de Janeiro, para representar o Governo português na tomada de posse de Daniel Chapo como quinto Presidente da República de Moçambique, já reagiu e, citado pela Antena 1, assume que mantém tudo o que disse e continua disponível para se reunir com todas as forças políticas.

"Saiba muito bem como é que se vai posicionar em Moçambique", avisou Mondlane sobre a presença do Governo português na cerimónia, saudando a ausência do Presidente da República ou do primeiro-ministro de Portugal.

"Mandaram a terceira linha, que é o ministro dos Negócios Estrangeiros. Aliás, é um ministro que sempre se posicionou de forma muito ríspida, de forma extremamente descortês comigo, já me chamou de populista, já me chamou todo o tipo de nomes, tem tido pronunciamentos extremamente tristes em público", criticou ainda.

Segundo Venâncio Mondlane, o único contacto com o chefe da diplomacia portuguesa ocorreu no dia 12 de Janeiro, numa chamada telefónica "ocasional, circunstancial" durante um encontro, em Maputo, com o embaixador de Portugal em Moçambique, António Costa Moura.

Para o candidato presidencial nas eleições de 9 de Outubro, Paulo Rangel não pode afirmar que tem "mantido contactos" em torno do processo pós-eleitoral, marcado por paralisações e manifestações de contestação aos resultados, em que já morreram 300 pessoas e mais de 600 foram baleadas, convocadas por Venâncio Mondlane.

"É falso. Doutor Paulo Rangel, o senhor não tem mantido contactos comigo. Tivemos um contacto ocasional na véspera da sua vinda a Moçambique, portanto não pode usar isto como se houvesse um histórico de contactos comigo. Desde Outubro de 2024, quando isto começou, eu sempre dei privilégios a Portugal nas minhas comunicações como um actor válido para intermediação da crise pós-eleitoral em Moçambique. O senhor nunca se manifestou quanto a isto, nunca fez absolutamente nada, publicamente atribuía-me vários adjectivos, dos quais populista", acusou.

Numa intervenção dedicada essencialmente à posição do chefe da diplomacia portuguesa, Venâncio Mondlane afirmou que Paulo Rangel "não pode enganar os portugueses, enganar os moçambicanos, enganar a comunidade internacional, tentando demonstrar" que "tem feito trabalho".

"O senhor não fez trabalho absolutamente nenhum, o senhor sempre esteve impávido, sereno, esteve inactivo, esteve na hibernação durante todo este período", disse ainda Venâncio Mondlane.

Moçambique realizou eleições gerais (presidenciais, legislativas e de assembleias provinciais) a 9 de Outubro.

Nas presidenciais, o CC, última instância de recurso em contenciosos eleitorais, proclamou Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frelimo, como vencedor, com 65,17% dos votos.

A eleição de Chapo como sucessor de Filipe Nyusi é, contudo, contestada nas ruas e o anúncio do CC aumentou o caos que o país vive desde Outubro, com manifestantes pró-Mondlane - candidato que, segundo o Conselho Constitucional, obteve apenas 24% dos votos, mas reclama vitória - em protestos a exigirem a "reposição da verdade eleitoral", com barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia.