Rui Pinto em silêncio no arranque do julgamento. “É um assaltante”, acusa Benfica
Autor do Football Leaks começou a ser julgado em segundo processo. Enfrenta Benfica e outras entidades que terá exfiltrado. Para já, não quer prestar declarações.
Rui Pinto regressou esta segunda-feira a tribunal e, para já, vai manter-se em silêncio a ouvir o caso contra si nas próximas sessões. Já a equipa de defesa do Benfica diz que o hacker já admitiu os crimes, restando apenas mostrar neste julgamento que Rui Pinto não é um denunciante. Para o clube da Luz, não passa de um "assaltante".
"Os fins do arguido não foram de investigação nem de justiça. A colaboração do arguido com a Justiça começou só quando foi apanhado", afirmou Rui Patrício, advogado das "águias". O Benfica acusa-o de clubismo, dizendo que Rui Pinto se moveu por proveitos pessoais. "A tese do bom samaritano, do Robin dos Bosques não é uma tese que se enquadre com os factos", resume o causídico.
Por sua vez, Francisco Teixeira da Mota, advogado de Rui Pinto, apontou o dedo ao Benfica, usando a informação que constava dos emails do clube da Luz roubados e divulgados publicamente.
"O Benfica é uma instituição nacional que tem características que têm de ser reveladas e faladas. É o principal motor neste processo num espírito de vingança. Quem é o Benfica? Teve uma estratégia de poder em que procurou assegurar a maior influência na sociedade portuguesa. Corrompeu um funcionário judicial", afirmou o advogado.
O autor do Football Leaks começou a ser julgado por 242 crimes relacionados com o acesso a emails do Benfica, FC Porto e outros clubes, organismos do Estado, juízes, procuradores e outras entidades. A lista de imputações é composta por 201 crimes de acesso ilegítimo qualificado, 23 crimes de violação de correspondência agravados e 18 crimes de dano informático. No primeiro processo, foi condenado a quatro anos de prisão em regime de pena suspensa.
Para a defesa do denunciante, julgar Rui Pinto pelos mesmos crimes em vários processos demonstra uma “estratégia absolutamente pessoalizada, perversa e ilegal do Ministério Público”. Outra das queixas prende-se com a impossibilidade de o autor do Football Leaks voltar a reintegrar-se na sociedade, dada a longa batalha judicial que tem vindo a travar.
O pirata informático é testemunha protegida desde 2020, colaborando com autoridades de vários países em investigações que têm por base as informações recolhidas por Rui Pinto. Estes milhões de documentos que estavam em discos rígidos encriptados foram a moeda de troca oferecida pelo denunciante para a saída da prisão e a entrada num programa de protecção pessoal.