Área ardida em Los Angeles é 1,6 vezes maior do que Lisboa. Há 25 mortos
Incêndios florestais continuam a devastar Los Angeles. Mais de 100 mil pessoas tiveram de ser retiradas de casa. Combate ao fogo vai ser mais difícil nas próximas horas com o regresso do vento forte.
Pelo menos 25 pessoas morreram nos incêndios que fustigam Los Angeles, no estado norte-americano da Califórnia, há quase uma semana. Segundo o governador da Califórnia, Gavin Newsom, esta poderá ser a catástrofe natural mais devastadora da História dos Estados Unidos, destruindo milhares de casas e obrigando à retirada de 100 mil pessoas.
O Departamento de Florestas e Protecção contra Incêndios da Califórnia (CalFire) estima que o total de área ardida desde terça-feira, 7 de Janeiro, até esta segunda-feira, dia 13, seja de 164 quilómetros quadrados — semelhante à área do município de Vila Nova de Gaia ou 1,6 vezes a área da cidade de Lisboa (que tem 100 quilómetros quadrados).
Perto de 15.000 operacionais estão agora destacados para os esforços de contenção das frentes activas de dois grandes incêndios, no sexto dia consecutivo de combate às chamas, antes que os ventos fortes voltem a alimentá-las. O Centro de Previsão de Tempestades considerou “extremamente crítico” o risco de incêndio em várias regiões dos condados de Los Angeles e de Ventura.
Assim está Malibu, no condado de Los Angeles. O capitalismo destrói a natureza em busca de dinheiro e depois a natureza cobra a dívida. pic.twitter.com/w13YZpkeOw
— Vinicios Betiol (@vinicios_betiol) January 10, 2025
Os incêndios reduziram bairros inteiros a ruínas fumegantes, arrasando casas e deixando uma paisagem apocalíptica na cidade. Pelo menos 12.300 estruturas foram já danificadas ou destruídas.
O combate ao fogo que começou no bairro de Pacific Palisades foi reforçado tanto por via aérea como por terra, mas as chamas ainda avançam e obrigam a manter em vigor ordens ou avisos de evacuação em várias zonas de Malibu, Calabasas, Brentwood e Encino.
Este incêndio na zona Este de Los Angeles consumiu cerca de 9600 hectares em seis dias. Às 11h locais desta segunda-feira (19h em Portugal continental), as autoridades declaravam ter apenas 14% do perímetro do incêndio controlado.
Embora o fogo de Palisades seja o incêndio mais extenso, o de Eaton (Altadena/Pasadena) é já o mais mortífero. Segundo avançou o Los Angeles Times, estão confirmadas 17 mortes em Altadena e oito em Pacific Palisades. Outras 23 pessoas continuam desaparecidas.
O incêndio de Eaton, no sopé das montanhas a leste de Los Angeles, lavrou por 5700 hectares e destruiu perto de 7000 estruturas, estando agora 33% controlado.
This view of the Los Angeles fire is insane pic.twitter.com/nsbkzjt3KD
— kira ?? (@kirawontmiss) January 11, 2025
Quanto ao fogo de Hurst, que deflagrou no bairro de Sylmar a 7 de Janeiro, está quase totalmente dominado, tendo consumido 323 hectares. Outros incêndios que tinham devastado partes distintas do condado foram agora contidos em 100%, informou o CalFire, embora as áreas dentro das linhas de contenção possam ainda estar a arder.
Até agora, não é conhecida a origem de nenhum dos fogos que lavraram nos últimos dias em Los Angeles.
Regresso do vento forte
Este fim-de-semana, as condições meteorológicas foram mais favoráveis ao combate às chamas, uma vez que os ventos de Santa Ana, que atingiram a força de um furacão no início da semana, finalmente abrandaram. Os ventos secos, provenientes dos desertos do interior, tinham atiçado as chamas e soprado as brasas até três quilómetros para lá das linhas da frente.
Mas, numa área que não recebe qualquer chuva desde Abril do ano passado, o Serviço Nacional de Meteorologia previa que os ventos de Santa Ana, de 70 a 112 quilómetros por hora, regressassem no domingo à noite e até quarta-feira. As autoridades avisaram todo o condado de Los Angeles, de quase dez milhões de habitantes, que qualquer cidadão deverá estar preparado para receber ordens de retirada, tendo em conta o avanço das chamas e do fumo tóxico.
“A vegetação seca, combinada com as condições meteorológicas extremas e prolongadas, favorecerá a rápida propagação e o comportamento errático de quaisquer incêndios novos ou existentes”, afirmou o serviço de meteorologia.
Esta segunda-feira mantêm-se em vigor ordens de retirada para 92 mil pessoas no condado de Los Angeles, enquanto outras 89 mil receberam avisos de retirada por precaução.
“Estes ventos, a baixa humidade relativa e a baixa humidade do material combustível manterão muito elevado o risco de incêndio em todo o condado”, declarou o comandante dos bombeiros do condado de Los Angeles, Anthony Marrone, em conferência de imprensa, acrescentando que as zonas evacuadas só serão reabertas quando as condições meteorológicas forem mais favoráveis, a partir de quarta-feira.
Canadians are demonstrating their bravery in Los Angeles. Thank you Canada ????????
— Made In Canada (@MadelnCanada) January 12, 2025
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Ainda assim, muitas escolas, com excepção de algumas em zonas de evacuação obrigatória, reabriram esta segunda-feira, depois de terem encerrado para todos os 429 mil alunos do distrito escolar unificado de Los Angeles na quinta e sexta-feira passadas, anunciou o superintendente Alberto Carvalho.
A empresa privada de previsões meteorológicas AccuWeather estimou os danos e perdas económicas em Los Angeles em 135 a 150 mil milhões de dólares, o equivalente a 132 a 146 mil milhões de euros. Para ajudar a acelerar o monumental esforço de reconstrução que se avizinha, o governador da Califórnia assinou uma ordem executiva no domingo a suspender temporariamente os regulamentos ambientais para casas e empresas destruídas.
As forças armadas estão prontas para apoiar o esforço de combate aos incêndios, disse Deanne Criswell, da agência federal de gestão de emergências, numa série de entrevistas televisivas no domingo, acrescentando que a agência instou os residentes a começarem a candidatar-se a ajuda de emergência. Criswell também insistiu que "os ventos estão a ficar potencialmente perigosos e fortes novamente". "Sei que muitos querem provavelmente regressar à zona [afectada] e verificar as suas casas, mas com os ventos a aumentar, nunca se sabe para que lado as chamas vão", alertou.
Ucrânia oferece ajuda
Volodymyr Zelensky adiantou que a Ucrânia está pronta para ajudar as pessoas afectadas pelos incêndios devastadores na Califórnia, com 150 bombeiros preparados para se juntar às equipas enviadas pelo Canadá e pelo México. "Hoje dei instruções ao ministro do Interior da Ucrânia e aos nossos diplomatas para se prepararem para a possível participação dos nossos socorristas no combate aos incêndios florestais na Califórnia”, afirmou Zelensky numa publicação no X.
A mensagem surge depois de Donald Trump Jr., filho do Presidente eleito dos Estados Unidos, ter comentado os acontecimentos nas redes sociais. "É claro que os bombeiros de Los Angeles doaram uma série de bens à Ucrânia”, criticou Trump Jr. a 8 de Janeiro.
Também Donald Trump, que regressa à Casa Branca a 20 de Janeiro, acusou nas redes sociais "os políticos incompetentes" de "não fazerem ideia como" apagar fogos: "Milhares de casas magníficas desapareceram e muitas mais se perderão em breve. Há mortes por todo o lado. Esta é uma das piores catástrofes da História do nosso país. Eles não conseguem apagar os fogos. O que é que se passa com eles?"
Centenas de pessoas desalojadas pelos incêndios assistiram à missa na Igreja Católica de Santa Mónica no domingo, incluindo paroquianos cujas igrejas foram destruídas.
Kathleen McRoskey, que assistiu regularmente à missa na arruinada igreja de Corpus Christi de Pacific Palisades durante mais de 40 anos, disse estar grata a Santa Mónica por ter aberto as suas portas àqueles que perderam as suas casas e o seu local de culto. “Foi a primeira oferta de apoio que nos curou espiritual, física e emocionalmente”, disse.
Em Altadena, no limite do incêndio de Eaton, Tristin Perez disse que nunca deixou a sua casa, contrariando as ordens das autoridades para fugir enquanto o fogo descia a encosta. Em vez disso, insistiu em tentar salvar a sua propriedade e as casas dos seus vizinhos. “O jardim da frente estava a arder, as palmeiras a arder, parecia algo saído de um filme”, relatou Perez à agência Reuters. "Fiz tudo o que pude para parar a linha de fogo e salvar a minha casa e ajudar a salvar as casas dos outros.”
Outros não tiveram a mesma sorte. Victor Shaw, de 66 anos, morreu enquanto tentava travar as chamas que ameaçavam a casa onde cresceu, também em Altadena.
“Muitas destas áreas ainda parecem ter sido atingidas por uma bomba. Há fios eléctricos sob tensão, condutas de gás e outros perigos expostos”, disse o xerife do condado de Los Angeles, Robert Luna.
Zuzana Korda foi retirada de casa no bairro de Fernwood em Topanga, a noroeste de Los Angeles. Falando à porta de um gabinete de assistência temporária na Biblioteca de West Hollywood, disse que o seu senhorio a informou de que a casa da família continuava de pé, mas estava ansiosa. “Deixámos tudo para trás. Não temos seguro”, disse Korda: "Estamos a perder tudo."
Ainda que os incêndios em Los Angeles pareçam "mais perto de terminar", o recolher obrigatório continua em vigor nas zonas mais afectadas. Entretanto, avançam as buscas das equipas de resgate e salvamento por vítimas ou sobreviventes. "Não estou à espera de boas notícias", confessou o xerife do condado de Los Angeles, Robert Luna.
Origem dos fogos sob investigação
As autoridades norte-americanas procuram também apurar as causas dos incêndios que começaram na terça-feira passada, 7 de Janeiro. Calcula-se que o fogo terá começado junto a uma casa em Piedra Morada Drive, numa região densamente arborizada. A hipótese de o incêndio ter começado com a queda de um relâmpago, que é a origem mais comum de fogos nos Estados Unidos, já foi colocada de parte por não existirem registos meteorológicos desses eventos.
As atenções voltam-se agora para outras duas hipóteses: fogo posto ou um problema com as linhas de electricidade. À Associated Press, John Lentini, especializado no estudo de incêndios, indicou que todas as respostas para a origem destes incêndios estarão em Piedra Morada Drive, independentemente da dimensão que acabou por assumir.
Segundo o Los Angeles Times, as autoridades estão a investigar uma torre de transmissão eléctrica em Eaton que poderá ter estado na origem do fogo naquela zona de Los Angeles. A empresa responsável pelo fornecimento de energia naquela região insistiu no sábado que "não existiram interrupções ou anomalias operacionais/eléctricas nas 12 horas anteriores ao deflagrar do incêndio e até mais de uma hora após a hora de início do incêndio".