Incêndios em Los Angeles já causaram 11 mortes. Fogo em Palisades mudou de direcção e preocupa bombeiros
Grande incêndio de Palisades teve reacedimento e mudou de direcção. Fogos já causaram 11 mortes e há 13 pessoas desaparecidas. Moradores receiam que seguros não cubram custos de reconstrução.
Os incêndios florestais destruíram mais de 12 mil habitações e outros edifícios na cidade de Los Angeles, no sudoeste dos Estados Unidos, desde terça-feira, disseram as autoridades. Ainda assim, os bombeiros de Los Angeles fizeram progressos em alguns dos seis incêndios activos que até agora já causaram 11 mortes, um número que poderá aumentar quando as autoridades começarem a fazer buscas casa a casa. Há pelo menos 13 pessoas desaparecidas. Mas o grande incêndio de Palisades, que mudou de direcção, está a preocupar os bombeiros.
O fogo num dos bairros mais ricos de Los Angeles queimou mais de 5300 habitações e outros edifícios e é já o mais destrutivo da história da cidade. Os ventos ferozes de Santa Ana que alimentaram as chamas diminuíram na noite de sexta-feira, mas o incêndio de Palisades, na orla ocidental da cidade, está a tomar uma nova direcção, provocando outra ordem de evacuação à medida que se aproxima do bairro de Brentwood e do Vale de San Fernando, informou o Los Angeles Times.
"O incêndio de Palisades teve um reacendimento significativo na parte leste e continua a nordeste", disse o capitão do Corpo de Bombeiros de Los Angeles, Erik Scott, à estação local KTLA. Na sexta-feira à noite, o incêndio de Palisades estava 8% contido e o incêndio de Eaton 3%, informou a agência estatal Cal Fire. Os dois grandes incêndios consumiram mais de 14 mil hectares.
Nas ruas, alguns dos afectados começam a culpar as autoridades e a autarca Karen Bass enfrenta críticas cada vez mais duras sobre o orçamento atribuído ao Corpo de Bombeiros de Los Angeles. A chefe do Corpo de Bombeiros, Kristin Crowley, disse à televisão Fox na sexta-feira que um corte de 17 milhões de dólares (16,6 milhões de euros) no orçamento da corporação afectou severamente a capacidade de combate aos incêndios. A responsável sublinhou que a falta de pessoal e de recursos, como a eliminação de cargos civis, afectou a capacidade operacional dos bombeiros, incluindo a reparação de equipamento.
O governador da Califórnia, Gavin Newsom, apelou a uma investigação independente sobre a perda de pressão de água e a alegada falta de abastecimento de água do reservatório de Santa Ynez.
O Corpo de Bombeiros do estado da Califórnia, onde se situa Los Angeles, informou na sexta-feira à noite que o incêndio de Lidia está contido em 98%, o de Hurst em 70% e o de Kenneth em 50%. O incêndio de Kenneth foi o último dos seis a surgir, tendo deflagrado na tarde de quinta-feira e já destruído cerca de 4,3 quilómetros quadrados. As autoridades já confirmaram que este incêndio foi causado por fogo posto.
Na sexta-feira, chegou ajuda de outros condados e de estados vizinhos, como o Arizona, e também apoio do Canadá. O México comprometeu-se ainda a enviar "74 técnicos especializados em combate a incêndios e protecção civil". O xerife do condado de Los Angeles, Robert Luna, anunciou na sexta-feira que as zonas afectadas pelos incêndios, e que se tornaram alvo de pilhagens, encontram-se sob recolher obrigatório. Pelo menos 22 pessoas foram detidas por pilhagens nas zonas devastadas pelo fogo, a maior parte na zona do incêndio de Eaton, por invasão de propriedade privada ou por quebrarem o recolher obrigatório.
Receios de que seguros não cubram custos de reconstrução
À medida que centenas de residentes de Los Angeles regressam para encontrar as suas casas reduzidas a cinzas sente-se um receio comum: o de que as suas apólices de seguro possam não cobrir os custos de construção. "A minha preocupação é que as companhias de seguros não consigam tratar de todos os pedidos de indemnização e declarem falência. É assustador", disse Ivan De La Torre, de 32 anos, cujo tio e irmã perderam as casas no incêndio que consumiu metade de Altadena, um subúrbio a norte de Los Angeles com cerca de 40 mil habitantes.
Leo Frank III, um actor de 66 anos que também perdeu a sua casa em Altadena, disse temer que as seguradoras se atrasem nos pagamentos e não cubram o custo total da reconstrução. "Vamos reconstruir. Ninguém nos vai tirar a casa", disse Frank, enquanto procurava um banco de chuveiro para a mãe de 96 anos num parque de estacionamento cheio de donativos em Pasadena. "Mas vai ser uma confusão”.
Frank disse que conhece alguns vizinhos que perderam os seus seguros antes dos incêndios, uma vez que as seguradoras se retiraram das regiões ressequidas da Califórnia, cada vez mais propensas a incêndios florestais. "Tivemos a sorte de ainda termos uma apólice", disse.
A empresa AccuWeather elevou na quinta-feira a estimativa dos danos e perdas económicas dos incêndios para entre 135 e 150 mil milhões de dólares (entre 131 e 146 mil milhões de euros).
A Reuters contactou nove das principais companhias de seguros da Califórnia para obter esclarecimentos. A State Farm, a Nationwide, a Allstate, a Mercury, a Liberty Mutual e a Farmers responderam com declarações em que afirmavam que estavam a trabalhar com os clientes para os ajudar a apresentar os pedidos de indemnização, sem abordar as preocupações específicas relativas ao facto de os residentes não receberem valores monetários suficientes para reconstruir na totalidade.
Na sequência dos incêndios desta semana, o Comissário de Seguros da Califórnia, Ricardo Lara, invocou poderes de moratória para suspender todas as não renovações e cancelamentos de apólices das companhias de seguros durante um ano. Lara disse num comunicado na sexta-feira que na próxima semana vai organizar workshops sobre seguros gratuitos em Santa Monica e Pasadena, subúrbios próximos dos dois maiores incêndios.
Embora os incêndios em Altadena nunca tenham causado este nível de devastação, o subúrbio situa-se na base das montanhas San Gabriel, que são propensas a incêndios florestais. Este facto tem tornado mais difícil a obtenção de um seguro contra incêndios. Muitos residentes em Altadena, um subúrbio racial e economicamente diverso, têm cobertura do California FAIR Plan, um programa de seguros apoiado pelo estado da Califórnia que é utilizado por proprietários que não conseguem encontrar um seguro no mercado privado.
O FAIR Plan não respondeu a um pedido de comentário. À medida que as seguradoras privadas rejeitaram ou abandonaram os proprietários de casas em zonas da Califórnia propensas a incêndios, os residentes mudaram cada vez mais para o Plano FAIR, segundo mostram os dados mais recentes. No final de Setembro do ano passado, 958 casas em Altadena estavam abrangidas pelo regime, o que representa um aumento de 28% em relação ao ano anterior.
Em Pacific Palisades, um subúrbio rico a oeste do centro de Los Angeles, também muito devastado pelos incêndios florestais desta semana, o aumento da utilização do plano FAIR foi mais acentuado. Há 1430 casas abrangidas, o que representa um aumento de 85% em relação ao ano anterior e quadruplica os números de 2020, segundo os dados da seguradora.
Gabby Reyes, cuja casa em Altadena foi destruída por um incêndio na quarta-feira de manhã, disse que os funcionários do Plano FAIR tinham sido útil, mas que estava preocupada com o facto de a sua apólice não ser suficiente para cobrir a reconstrução da casa que partilha com a mãe e a filha, uma vez que o incêndio só deixou para trás as fundações da habitação. "Eles têm falado connosco e têm ajudado muito", disse Reyes à Reuters, acrescentando que “especuladores imobiliários” lhe telefonaram a perguntar se podiam comprar o seu terreno.
Marcelo acompanha situação de portugueses
O Presidente da República exprimiu a sua solidariedade para com os portugueses afectados pelos incêndios em Los Angeles e manifestou apoio às diligências do Governo na ajuda a estes cidadãos.
Numa nota divulgada na página oficial da Presidência, Marcelo Rebelo de Sousa diz estar a acompanhar a situação dos portugueses na Califórnia. "Conhecendo-se agora, pela primeira vez, que há, infelizmente, portugueses entre os afectados pelos terríveis incêndios em Los Angeles, o Presidente da República exprime a sua solidariedade e apoia as diligências em curso pelo Governo para ajuda a estes nossos compatriotas", refere a nota.
Na sexta-feira à noite, fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros disse à Lusa que as casas de duas famílias portuguesas residentes na área de Los Angeles arderam por completo em consequência dos incêndios que devastam há vários dias a região. A fonte acrescentou que as duas famílias não pediram apoio e que o Consulado Geral de Portugal em São Francisco está a procurar contactá-las.
Na área afectada pelos incêndios residem mais famílias portuguesas ou luso-descendentes pelo que é de prever que mais casos de portugueses afectados pelos incêndios venham ser contabilizados, disse ainda a fonte. Não há informações de portugueses feridos em consequência dos incêndios, que já provocaram um total de 11 mortos, segundo as autoridades norte-americanas.