Moçambique: Governo português escolheu o caminho da autocracia
Aos olhos dos moçambicanos que lutam pela liberdade, Portugal, pela mão imprevidente e inábil do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, colocou-se apressadamente ao lado da injustiça e opressão.
Limitação de direitos políticos, fraude eleitoral, milhares de presos, centenas de feridos, dezenas de mortos e assassinato de dois opositores políticos. É este o cadastro do regime Frelimo em Moçambique nas últimas semanas.
Perante isto, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, atirou-se para um reconhecimento imediato e irrefletido dos resultados eleitorais minutos (!) depois de serem anunciados, arrastando a diplomacia portuguesa para uma validação extemporânea da manipulação e limitando irremediavelmente a sua possibilidade de aparecer como protagonista privilegiado de um desejável processo de mediação.
Pior, aos olhos dos moçambicanos que lutam pela liberdade contra um regime que escolheu declaradamente o caminho da autocracia, Portugal, pela mão imprevidente e inábil do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, colocou-se apressadamente ao lado da injustiça e da opressão. Não é necessário aprofundar muito a reflexão para perceber que o ministro Paulo Rangel, incapaz de ver para lá de uma lógica exclusiva de curtíssimo prazo e submisso ao poder atual em Maputo, pode ter comprometido seriamente a relação futura de Portugal com Moçambique.
Mais, quando Venâncio Mondlane anunciou há dias a sua intenção de regressar a Maputo na manhã de 9 de janeiro, a primeira intervenção do ministro Paulo Rangel não foi para pedir “equilíbrio” ao regime, instando-o, no mínimo, a que se comprometa com a garantia de não cometer qualquer tipo de atrocidade contra o líder da oposição. Foi, em vez disso, para colocar sobre Venâncio Mondlane, que teve de fugir e passar à clandestinidade, que viu o seu advogado assassinado e milhares de apoiantes seus a serem perseguidos, presos e eliminados, que tem a sua vida em perigo nesse regresso, o ónus da reconciliação.
A diplomacia é um figo que proporciona mais sabor se quem a dirige souber resistir à pressa de colher o fruto enquanto não está maduro. Mas, perante a incapacidade de leitura da realidade revelada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros à luz de valores elementares e também dos próprios interesses de Portugal, resta esperar que o Presidente da República, a quem apelo diretamente, possa exercer nas próximas horas o seu magistério de influência na busca da recuperação do bom senso. Não há tempo para mais, pois de momento é absolutamente urgente que se interceda junto do regime para que este se comprometa a respeitar a vida, a integridade física e os direitos cívicos de Venâncio Mondlane no seu regresso corajoso a Moçambique.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico