Gás russo deixa de chegar à Europa através da Ucrânia
Acordo de trânsito entre os dois países expirou com o Ano Novo. União Europeia desvaloriza, lembrando que desde 2022 foram encontradas alternativas.
As exportações de gás natural russo para a Europa através dos gasodutos da era soviética que atravessam a Ucrânia foram interrompidas na madrugada do dia de Ano Novo, uma vez que o acordo de trânsito entre os dois países expirou e Moscovo e Kiev não conseguiram chegar a um acordo para continuar os fluxos.
"Devido à recusa repetida e claramente expressa da parte ucraniana em renovar estes acordos, a Gazprom ficou privada da capacidade técnica e legal de fornecer gás para trânsito através do território da Ucrânia a partir de 1 de Janeiro de 2025", afirmou a empresa russa numa declaração no Telegram. "A partir das 08h, hora de Moscovo (5h em Portugal continental), o fornecimento de gás russo para o seu transporte através do território da Ucrânia não é efectuado".
O Ministério da Energia ucraniano afirmou também que o transporte de gás russo através da Ucrânia "foi interrompido no interesse da segurança nacional".
"Interrompemos o trânsito do gás russo. Trata-se de um acontecimento histórico. A Rússia está a perder os seus mercados e vai sofrer perdas financeiras. A Europa já tomou a decisão de abandonar o gás russo", afirmou o ministro da Energia da Ucrânia, German Galushchenko, num comunicado esta quarta-feira.
O encerramento da mais antiga rota de gás da Rússia para a Europa põe fim a uma década de relações tensas, desencadeadas pela anexação ilegal da Crimeia pela Rússia em 2014. A Ucrânia deixou de comprar gás russo no ano seguinte.
A interrupção dos fluxos de gás era já esperada devido à guerra, que começou em Fevereiro de 2022. A Ucrânia tem-se mostrado inflexível e não quer prolongar o acordo durante o conflito militar. De acordo com uma fonte do sector, a Gazprom assumiu no ano passado que deixaria de poder enviar gás através dos gasodutos da Ucrânia para a Europa, que representava cerca de metade do total das exportações de gás por gasoduto da Rússia para a Europa.
A Rússia continua a exportar gás através do gasoduto TurkStream no leito do Mar Negro. O TurkStream tem duas linhas - uma para o mercado interno turco e outra para abastecer os clientes da Europa Central, incluindo a Hungria e a Sérvia.
A União Europeia redobrou os seus esforços para reduzir a sua dependência da energia russa após o início do conflito militar na Ucrânia em 2022, procurando fontes alternativas. Os restantes compradores de gás russo através da Ucrânia, tais como a Eslováquia e a Áustria, também encontraram fornecimento alternativo.
Um porta-voz da Comissão Europeia desvalorizou o encerramento desta rota de fornecimento de gás, afirmando que "a infra-estrutura de gás europeia é suficientemente flexível para poder fornecer gás de origem não-russa aos países da Europa central e de Leste".
A Moldova, outrora parte da União Soviética, é um dos países mais afectados. A Moldova afirma que terá agora de adoptar medidas para reduzir o seu consumo de gás em um terço. Na região separatista da Transnístria, foi mesmo cortado o aquecimento e o abastecimento de água quente.
A Ucrânia enfrenta agora a perda de cerca de 800 milhões de dólares por ano em taxas de trânsito da Rússia, enquanto a Gazprom perderá cerca de cinco mil milhões de dólares em vendas de gás.