“Uma vida de dignidade, justiça e serviço”. As reacções à morte de Jimmy Carter (1924-2024)

Ex-Presidente recebeu o Prémio Nobel da Paz pelo seu trabalho humanitário, morreu este domingo aos 100 anos. Líderes mundiais e políticos dos EUA já começaram a reagir à notícia.

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Jimmy Carter no Cairo, no Egipto, em Janeiro de 2012 Amr Dalsh / REUTERS
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Um "herói para todos os que acreditam na paz", "viveu para servir os outros até ao fim" e "os seus esforços para deixar um mundo melhor não terminaram com a sua presidência". Líderes mundiais e políticos norte-americanos já começaram a reagir à notícia da morte do ex-presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter, que durante o seu mandato presidencial, entre 1977 e 1981, mediou a paz entre Israel e o Egipto e mais tarde recebeu o Prémio Nobel da Paz, em 2002, pelo seu trabalho humanitário. Jimmy Carter tinha 100 anos.

O Presidente norte-americano, Joe Biden, e a primeira-dama, Jill Biden, escreveram: "Hoje, os Estados Unidos e o mundo perderam um líder extraordinário, estadista e humanitário. Ao longo de seis décadas, tivemos a honra de chamar Jimmy Carter de querido amigo. No entanto, o que é extraordinário sobre Jimmy Carter é que milhões de pessoas, em toda a América e no mundo, que nunca o conheceram, também o consideravam um amigo querido."

"Os desafios que Jimmy enfrentou como Presidente ocorreram num momento crucial para o nosso país, e ele fez tudo ao seu alcance para melhorar as vidas de todos os americanos. Por isso, todos lhe devemos uma dívida de gratidão. A Melania e eu estamos a pensar carinhosamente na família Carter e nos seus entes queridos durante este momento difícil. Pedimos a todos que os mantenham nos seus corações e orações", escreveu o Presidente eleito, Donald Trump.

Jimmy e Rosalynn Carter beijam-se na Convenção Democrata no Madison Square Garden, em Nova Iorque, em Julho de 1975 Library of Congress / VIA REUTERS
Jimmy Carter, na altura Governador, durante uma conferência de imprensa a bordo do seu avião de campanha em Setembro de 1976 Library of Congress / VIA REUTERS
O Presidente Gerald Ford e o na altura Governador Jimmy Carter no primeiro debate presidencial para as eleições de 1976, em Filadélfia Library of Congress / VIA REUTERS
Na Sala Oval, na Casa Branca, em Fevereiro de 1977 Library of Congress / VIA REUTERS
Jimmy Carter na Casa Branca, em Washington D.C, em Março de 1977 Library of Congress / VIA REUTERS
Na Casa Branca, em Fevereiro de 1978, durante uma conversa à lareira sobre o Tratado do Canal do Panamá Library of Congress / VIA REUTERS
Numa reunião em Camp David, Maryland, com o Presidente do Egipto Anwar Sadat e o o primeiro-ministro israelita Menachem Begin, em Setembro de 1978 Jimmy Carter Library / VIA REUTERS
O Presidente Jimmy Carter e a primeira-dama, Rosalynn Carter, dançam num baile na Casa Branca em Dezembro de 1978 Library of Congress / VIA REUTERS
Jimmy Carter e o Presidente cubano Fidel Castro ouvem o hino nacional de Cuba num estádio de Havana, em Maio de 2002 Rafael Perez / REUTERS
Rosalynn e Jimmy Carter na chegada à tomada de posse de Donald Trump, em Washington D.C., em Janeiro de 2017 CARLOS BARRIA / REUTERS
Carter numa entrevista para a Agência Reuters no Cairo, Egipto, em Janeiro de 2012 Amr Dalsh / REUTERS
Cinco antigos presidentes norte-americanos num concerto de beneficiência na Universidade do Texas, em Outubro de 2017: Jimmy Carter, George H.W. Bush, George W. Bush, Bill Clinton e Barack Obama Richard Carson / REUTERS
Na bancada de um jogo entre os Atlanta Hawks e os New York Knicks, em Atlanta, em Fevereiro de 2019 Dale Zanine / USA TODAY SPORTS
Jimmy Carter em Outubro de 2019, em Nashville, num evento do Jimmy & Rosalynn Carter Worl Project Habitat for Humanity Internation HANDOUT / EPA
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Jimmy e Rosalynn Carter beijam-se na Convenção Democrata no Madison Square Garden, em Nova Iorque, em Julho de 1975 Library of Congress / VIA REUTERS

O ex-Presidente Bill Clinton e a ex-Secretária de Estado Hillary Clinton escreveram que o Presidente Carter "viveu para servir os outros até ao fim”: "Desde o seu compromisso com os direitos civis como senador e governador da Geórgia, ao seu trabalho como Presidente para proteger os recursos naturais no Refúgio Nacional de Vida Selvagem do Árctico, fazer da conservação de energia uma prioridade nacional, devolver o Canal do Panamá ao Panamá e garantir a paz entre o Egipto e Israel em Camp David, passando pelo empenho pós-presidencial no Carter Center, promovendo eleições justas, avançando pela paz, combatendo doenças e promovendo a democracia, até à dedicação incansável dele e de Rosalynn ao trabalho na Habitat for Humanity, Jimmy Carter trabalhou incessantemente por um mundo melhor e mais justo".

No Instagram, o ex-Presidente Barack Obama escreveu: "O Presidente Carter ensinou-nos a todos o que significa viver uma vida de elegância, dignidade, justiça e serviço. A Michelle e eu enviamos os nossos pensamentos e orações à família Carter e a todos os que amavam e aprenderam com este homem marcante." "Ao longo de décadas de serviço público, o Presidente Carter incorporou integridade, compaixão e compromisso em fazer progredir a liberdade, a segurança e o bem-estar dos outros", escreveu Antony Blinken, actual Secretário de Estado norte-americano.

Donald Trump, presidente eleito dos EUA, também lamentou a morte de Carter, a quem diz que os norte-americanos devem gratidão. "Os desafios que Jimmy enfrentou como Presidente vieram num momento crucial para o nosso país e ele fez tudo ao seu alcance para melhorar a vida de todos os americanos. Por isso, todos temos com ele uma dívida de gratidão", sublinhou Trump na rede social Truth.

O antigo presidente vai ser homenageado em cerimónias públicas em Washington e no seu estado natal, a Geórgia, informou o Carter Center. “O meu pai foi um herói, não só para mim, mas para todos os que acreditam na paz, nos direitos humanos e no amor altruísta”, afirmou James E. "Chip” Carter III, filho do antigo presidente, num comunicado divulgado pelo Carter Center.

"Jimmy Carter dedicou a vida a servir este país. Os nossos pensamentos e as nossas orações vão para os seus entes queridos. Que possa descansar em paz", reagiu o vice-Presidente eleito, JD Vance.

Kalama Harris, que também já reagiu à notícia da morte do ex-Presidente, referiu que "Jimmy Carter foi guiado por uma fé profunda e permanente - em Deus, na América e na humanidade". "A vida de Jimmy Carter é um testemunho do poder do serviço - como tenente da Marinha dos Estados Unidos, 76º Governador da Geórgia e 39º Presidente dos Estados Unidos. Lembrou à nossa nação e ao mundo que existe força na decência e compaixão", referiu.

"Ao longo de décadas de serviço público, o Presidente Carter incorporou a integridade, a compaixão e o empenho em promover a liberdade, a segurança e o bem-estar dos outros. Canalizou esse espírito na sua política externa, desde a negociação da devolução do Canal do Panamá ao país anfitrião até ao desenvolvimento de acordos de controlo de armas com a União Soviética", escreveu também Antony Blinken, secretário de Estado dos EUA​. "E trouxe-o para todas as suas trocas de impressões e conversas, desde os chefes de Estado aos cidadãos comuns. O Presidente Carter também nos mostrou o que se pode conseguir através de uma diplomacia sem restrições e com princípios, mediando um acordo histórico com Israel e o Egipto que ajudou a forjar a paz entre duas nações que tinham passado décadas em guerra. Os seus esforços são uma importante recordação do que é possível fazer, especialmente numa altura de novos conflitos e sofrimento na região".

Em Portugal, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lamentou a morte do antigo chefe de Estado, recordando o seu "apoio simbólico à consolidação democrática do país. Numa nota divulgada na página oficial da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa refere que enviou ao seu homólogo dos Estados Unidos da América, Joe Biden, "uma mensagem de sentidas condolências" pelo falecimento de Jimmy Carter, aos 100 anos. Marcelo "destacou os esforços incansáveis de Jimmy Carter na promoção dos direitos humanos e da paz na cena internacional, temas a que dedicou parte significativa da sua vida após a conclusão da sua presidência e nos anos finais da sua vida". "Invocou ainda o apoio simbólico de Jimmy Carter, e da sua administração, à consolidação democrática em Portugal", refere-se.

Também o primeiro-ministro português, Luís Montenegro, manifestou este domingo, 29 de Dezembro, pesar pela morte do ex-presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter, aos 100 anos, recordando uma "referência moral global da democracia e dos direitos humanos". Numa mensagem publicada na sua conta oficial na rede social X (antigo Twitter), Luís Montenegro diz ter sido "com pesar que soube da morte do Presidente Jimmy Carter, prémio Nobel da Paz 2002". "É e será uma referência moral global da democracia e dos direitos humanos. Apresento condolências à família, ao Presidente dos Estados Unidos da América e ao povo americano", lê-se na mensagem.

“Campeão dos direitos humanos”

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse estar “profundamente triste” com a notícia da morte de Jimmy Carter, de quem destacou o legado na paz e segurança mundiais.

Numa declaração emitida na tarde de domingo em Nova Iorque, Guterres sublinhou os “marcos” de Carter na diplomacia dos Estados Unidos, como os acordos de Camp David ou os relativos ao Canal do Panamá, mas também o seu desempenho enquanto mediador de conflitos, após a sua presidência, em matérias como o controlo eleitoral em países em transição, a promoção da democracia e a erradicação de doenças.

Estes esforços, reconhecidos com a atribuição a Carter do Prémio Nobel da Paz em 2022, “contribuíram para fazer avançar as Nações Unidas”, sublinhou Guterres, cujo organismo que lidera atravessa um momento de fragilidade particular. Carter será recordado pela solidariedade para com os mais fracos e “pela sua fé infatigável no bem comum e na nossa humanidade partilhada”, o que permitirá que o seu legado como “campeão dos direitos humanos” continue vivo.

Da Ucrânia chegou uma mensagem de Volodymyr Zelensky, que sublinhou o apoio de Jimmy Carter a Kiev, na luta da Ucrânia “pela liberdade”. “O seu coração esteve firmemente ao nosso lado na nossa luta pela liberdade. Apreciamos o seu compromisso inabalável com a fé cristã e os valores democráticos, bem como o seu apoio inabalável à Ucrânia face à agressão injustificada da Rússia”, escreveu o Presidente no X.

Já o Presidente francês, Emmanuel Macron, optou por destacar Carter como "um defensor firme dos direitos dos mais vulneráveis", que" lutou incansavelmente pela paz". "França envia os seus pensamentos mais sentidos à sua família e ao povo americano."

O Presidente do Egipto, Abdel Fattah al-Sissi, referiu que Carter teve um "papel significativo" para o acordo de paz entre o Egipto e Israel que o seu trabalho humanitário "exemplifica um elevado padrão de amor, paz e fraternidade", que ficará "gravado nos anais da história". "O seu legado duradouro garante que será recordado como um dos mais proeminentes líderes mundiais ao serviço da humanidade".

O Rei Carlos, do Reino Unido, afirmou que Carter era um "funcionário público empenhado, que dedicou a sua vida à promoção da paz e dos direitos humanos". "A sua dedicação e humildade serviram de inspiração a muitos, e recordo com grande afecto a sua visita ao Reino Unido em 1977. Os meus pensamentos e orações estão com a família do Presidente Carter e com o povo americano nesta altura", apontou.

Do lado chinês, Mao Ning, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, disse numa conferência de imprensa: "O ex-Presidente Carter foi a força motriz por trás do estabelecimento de relações diplomáticas entre a China e os Estados Unidos e fez contribuições importantes para o desenvolvimento das relações China-Estados Unidos, para as trocas amistosas e a cooperação entre os dois países".

A decisão do governo Carter de reconhecer, em 1979, a posição de Pequim de que há apenas uma China e que Taiwan é parte da China, e de romper laços com Taiwan, ajudou a traçar um novo rumo nas relações entre os dois países. "A sua contribuição histórica para a normalização e o desenvolvimento das relações China-EUA será sempre lembrada pelo povo chinês", escreveu Xie Feng, embaixador chinês nos Estados Unidos, numa publicação no X.

O chanceler alemão, Olaf Scholz, disse na segunda-feira que estava de luto pela morte do ex-Presidente, referindo que os Estados Unidos "perderam um lutador comprometido com a democracia". "O mundo perdeu um grande mediador pela paz no Oriente Médio e pelos direitos humanos", disse Scholz também numa publicação no X.

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