China aprova construção da maior barragem do mundo no Tibete

Localizada no planalto do Tibete, irá produzir 300 mil milhões de kWh. Índia e Bangladesh manifestaram preocupação, já que barragem poderá alterar ecologia local e fluxo do rio.

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Projecto desempenhará um papel importante no cumprimento dos objectivos chineses de redução e neutralidade de carbono © Carlos Barria / Reuters
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A China aprovou a construção daquela que será a maior barragem hidroeléctrica do mundo, dando início a um ambicioso projecto na orla oriental do planalto tibetano que poderá afectar milhões de pessoas a jusante, na Índia e no Bangladesh.

A barragem, que ficará localizada no curso inferior do rio Yarlung Zangbo, poderá produzir 300 mil milhões de quilowatts-hora de electricidade por ano, de acordo com uma estimativa fornecida pela Power Construction Corp of China em 2020. Isto triplicaria a capacidade projectada de 88,2 mil milhões de kWh da barragem das Três Gargantas, actualmente a maior do mundo, no centro da China.

O projecto desempenhará um papel importante no cumprimento dos objectivos chineses de redução e neutralidade de carbono, estimulará indústrias relacionadas, como a engenharia, e criará empregos no Tibete, informou a agência noticiosa oficial Xinhua na quarta-feira. Uma secção do Yarlung Zangbo tem uma queda dramática de 2000 metros num curto espaço de 50 km, oferecendo um enorme potencial hidroeléctrico e desafios de engenharia únicos.

O custo da construção da barragem, incluindo os de engenharia, deverá também eclipsar a barragem das Três Gargantas, que custou o equivalente a 34,83 mil milhões de dólares. Este valor inclui a reinstalação de 1,4 milhões de pessoas deslocadas e é aproximadamente quatro vezes superior à estimativa inicial de 57 mil milhões de yuan.

As autoridades não indicaram quantas pessoas o projecto do Tibete iria deslocar e como iria afectar o ecossistema local, um dos mais ricos e diversificados do planalto. Mas, segundo os responsáveis chineses, os projectos hidroeléctricos, que detêm mais de um terço do potencial desta especialidade da China, não teriam um impacto significativo no ambiente ou no abastecimento de água a jusante.

Já a Índia e o Bangladesh manifestaram a sua preocupação com a barragem, uma vez que a iniciativa poderá alterar não só a ecologia local, como também o fluxo e o curso do rio. O Yarlung Zangbo transforma-se no rio Brahmaputra quando sai do Tibete e corre para sul, para os estados indianos de Arunachal Pradesh e Assam e, finalmente, para o Bangladesh.

A China já deu início à produção de energia hidroeléctrica no curso superior do Yarlung Zangbo, que corre do Oeste para o Leste do Tibete. Está a planear mais projectos a montante.