Ciclone pode ter matado “várias centenas” de pessoas em Mayotte e já chegou a Moçambique

ONG Action Aid fala em “desabamento de muros e telhados” em Cabo Delgado e cortes de electricidade nas zonas costeiras também de Nampula. São esperados ventos de 220 km por hora.

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Moçambique é um dos países mais sujeitos à devastação dos ciclones Daniel Rocha
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O ciclone Chido, que este domingo começou a agravar as condições meteorológicas no Norte de Moçambique e se calcula venha a afectar 2,5 milhões de pessoas, sobretudo nas províncias de Cabo Delgado e Nampula, deixou um rasto de destruição à sua passagem pela ilha francesa de Mayotte, no oceano Índico, provocando a morte de pelo menos 14 pessoas, de acordo com um balanço provisório das autoridades locais.

Estima-se, no entanto, que o número de mortes pode ser muito maior. "Penso que serão certamente várias centenas, talvez cheguemos a um milhar, ou mesmo vários milhares”, disse o autarca local François-Xavier Bieuville no canal televisivo Mayotte La 1ere. Questionado sobre o número de mortos de várias centenas, o Ministério do Interior francês afirmou que “será difícil contabilizar todas as vítimas” e disse que um número não poderia ser determinado nesta fase.

“O número de mortos vai ser complicado, porque Mayotte é uma terra muçulmana onde os mortos são enterrados em 24 horas”, disse anteriormente um funcionário do Ministério do Interior francês. Mais de 100.000 imigrantes sem documentos vivem em Mayotte, acrescentou o ministério.

Em Moçambique, o Instituto Nacional de Meteorologia emitiu um alerta vermelho depois de o ciclone ter ganho intensidade à sua passagem pelo Canal de Moçambique, prevendo-se ventos fortes que podem atingir os 220 km/hora. Também as províncias de Niassa, Zambézia e Tete poderão ser afectadas pelo mau tempo.

O Chido é já o ciclone mais devastador a atingir Mayotte desde 1934 e é provável que o número de vítimas seja substancialmente maior dos 14 mortos até agora registados oficialmente. O ciclone deixou para trás “um cenário apocalíptico”, disse um habitante da ilha à AFP.

As rajadas de 220 km/hora atingiram o centro hospitalar, destruíram escolas e devastaram casas. “O fenómeno não poupou nada no seu caminho”, disse à agência de notícias francesa o presidente da câmara de Mamoudzou, a capital de Mayotte, Ambdilwahedou Soumaila.

Imagens aéreas partilhadas pelas autoridades francesas mostraram os destroços de centenas de casas improvisadas espalhadas pelas colinas de uma das ilhas de Mayotte, que tem sido um ponto focal para a imigração ilegal das vizinhas Comores. De acordo com informação prestada pela Action Aid à Lusa, em Cabo Delgado “já se registam danos, como desabamento de muros e telhados” e “prevê-se que as zonas costeiras estejam já a sofrer os efeitos mais graves do ciclone”.

“Vários bairros da província de Nampula estão sem energia eléctrica, o que pode dificultar a recolha de informações. A falta de comunicação poderá estar relacionada com os efeitos do ciclone. Situação que se regista até mesmo na província de Cabo Delgado com destaque para os distritos de Pemba e Mecúfi”, acrescentou a organização não-governamental.

As autoridades moçambicanas admitiram na quinta-feira que cerca de 2,5 milhões de pessoas poderão ser afectadas pelo ciclone. “Nós achamos que podemos, inicialmente, começar a trabalhar com uma estimativa de cerca de 2,5 milhões de pessoas nas províncias de Cabo Delgado e Nampula, que poderão ser afectadas e precisarão ser socorridas”, disse a directora do Centro Nacional Operativo de Emergência (Cenoe), Ana Cristina.

Moçambique é um dos países mais severamente afectados pelas alterações climáticas no mundo, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, que decorre entre Outubro e Abril.

O período chuvoso de 2018/2019 foi dos mais severos de que há memória em Moçambique: 714 pessoas morreram, incluindo 648 vítimas dos ciclones Idai e Kenneth, dois dos maiores de sempre a atingir o país. Já na primeira metade de 2023, as chuvas intensas e a passagem do ciclone Freddy provocaram 306 mortos, afectaram mais de 1,3 milhões de pessoas, destruíram 236 mil casas e 3.200 salas de aula, de acordo com dados oficiais do Governo.

Situado a cerca de 8000 quilómetros de Paris e a quatro dias de viagem por mar, Mayotte é significativamente mais pobre do que o resto da França e há décadas que se debate com a violência dos bandos e a agitação social. Cerca de 77% da população de Mayotte vive abaixo do limiar de pobreza francês. No início deste ano, as tensões foram agravadas por uma escassez de água. O ciclone continuou a atingir o norte de Moçambique no domingo.

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