Em Braga, o cinema de animação vai de carrinha contra a exclusão social
Depois de uma viagem a Annecy, projecto Anima Vam avança agora com a realização de um festival nas escolas Sá de Miranda, que se estende também à população da cidade.
Se o povo não vai ao cinema, vai o cinema (de animação) ao povo. Parafraseando o velho ditado, foi assim que os animadores Paulo D’Alva e Nuno Oliveira lançaram este ano o Anima Vam, um projecto de divulgação da arte do cinema de animação junto das populações, e que teve como primeira realização uma viagem ao Festival de Annecy, que na edição do corrente ano teve Portugal como país-tema, a pretexto da celebração do centenário do cinema de animação nacional.
Durante duas semanas e num percurso de 3800 quilómetros, o Anima Vam deu a ver 101 filmes de animação portugueses, não apenas naquela cidade francesa dos Alpes como em mais de uma dezena de outras localidades pelo caminho, entre Portugal, Espanha e França.
O Anima Vam é uma velha carrinha Mercedes de 1988 de cor verde, que os dois animadores transformaram num mini-estúdio de produção, documentação e exibição de cinema ao ar livre, que pode chegar aos lugares e públicos mais recônditos.
“A carrinha é o nosso cartão-de-visita, tudo gira em volta dela”, diz ao PÚBLICO Paulo D’Alva – animador e realizador que iniciou a sua actividade no Cineclube de Avanca, sua terra natal –, lembrando que o objectivo da equipa que entretanto constituiu com Nuno Oliveira, sob a alçada da produtora Amarela Mecânica nascida em 2017, é retomar “a ideia mais antiga do cinema itinerante” a levar a arte do cinema pelas terras do país.
A designação “Anima Vam” sublinha, dizem os dois animadores, a importância desses “autores que animavam, que animam e que em itinerância continuarão a animar quem se cruza no seu caminho, independentemente da idade, origem, raça ou credo”.
A viagem a Annecy – para a qual o Anima Vam contou com o apoio do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), e cuja aventura está a ser registada num documentário ainda em produção – foi uma espécie de “dínamo”, de impulso para o lançamento de um projecto que aposta também numa componente social. “O Anima Vam parte de um cruzamento entre o cinema de animação e as ciências sociais, tendo como metáfora agregadora um veículo clássico camaleónico, ora tela, ora mini-estúdio”, escrevem os autores na apresentação do projecto.
Um festival atento às questões actuais
O segundo momento no calendário deste programa é o lançamento do Festival Anima Vam, que esta semana, entre quarta e sexta-feira, vai ter lugar na cidade de Braga, com centro no Agrupamento de Escolas Sá de Miranda.
Ao longo de três dias, vão ser mostrados, em sessões que terão mesmo uma componente competitiva, 15 filmes produzidos por alunos das diferentes turmas das escolas Sá de Miranda e EB Palmeira, em oficinas que decorrerem nos últimos três meses.
Para este desafio, a equipa Anima Vam propôs a abordagem de temas que marcam o nosso quotidiano, como as migrações e a exclusão social, mas atento também a outras temáticas correlacionadas, como a crise da habitação e o envelhecimento, as questões do medo e do ódio; e também os 50 anos do 25 de Abril e as músicas do mundo, descreve Paulo D’Alva.
Os estudantes-animadores candidatam-se a prémios para o melhor filme, o melhor argumento e um prémio do público, além de uma menção honrosa.
Em paralelo com as sessões competitivas, a decorrer no pátio e no Auditório do Teatro Afonso Fonseca da Escola Secundária Sá de Miranda, a equipa Anima Vam vai fazer “incursões surpresa” em espaços públicos da cidade de Braga, com uma mostra de filmes seleccionados numa parceria com a Casa da Animação, o festival Monstra, de Lisboa, e ainda o Festival de Cinema dos Direitos Humanos de San Sebastián, que desde 2002 se realiza nesta cidade do País Basco espanhol.
O programa do festival inclui também um ciclo de debates públicos com a participação de especialistas a abordar temas como O cinema de animação infanto-juvenil como ferramenta de inclusão ou As migrações e as diferentes dimensões da exclusão vistas pelo cinema de animação.
Notícia actualizada: o anunciado concerto final com a banda indie rock Ela Jaguar não se realizará, "por razões técnicas", informa a organização do festival.