Actual e ex-líderes do PCP preocupados com eleições, mas garantem que não é “sempre para cair”

Paulo Raimundo reitera o compromisso do PCP de reduzir o número de membros do comité central, subindo o número de mulheres e mantendo a faixa etária e uma maioria de operários.

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Jerónimo de Sousa e Paulo Raimundo na conferência nacional do PCP de 2022 Nuno Ferreira Santos
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Os últimos três secretários-gerais do PCP sentaram-se na antiga prisão de Peniche, onde tantos membros do partido estiveram presos, para uma entrevista à Rádio Renascença, publicada esta segunda-feira. A dias do congresso do PCP, naquele que é hoje o Museu Nacional Resistência e Liberdade, Carlos Carvalhas, Jerónimo de Sousa e Paulo Raimundo admitem "preocupação" com as perdas eleitorais do partido, mas acreditam que o PCP ainda pode dar a volta e que "não vai desaparecer", mesmo que deixe de ter representação parlamentar.

Líder do PCP há dois anos, Paulo Raimundo é o primeiro a admitir que está apreensivo com as autárquicas de 2025: "Quem não está preocupado, está distraído", afirma. Mas, recordando como o partido já teve derrotas eleitorais e recuperou, defende que "se alguém pensa que isto é sempre para cair, não corresponde à realidade". "Nunca foi assim e nunca será", garante. A ideia é secundada por Carlos Carvalhas, que foi secretário-geral entre 1992 e 2004, e que afirma que "os resultados eleitorais são uma preocupação", mas contrapõe que o PCP "não vai desaparecer", mesmo que deixe de ter "representação institucional".

O antigo líder dos comunistas aponta razões para a descida do PCP nas urnas, essencialmente externas, como o "despovoamento" do Alentejo, a "ofensiva" contra o partido, a propósito da pandemia de covid-19 ou da guerra na Ucrânia, e a falta de exposição na comunicação social. Mas concede que "também haverá causas internas": o PCP podia ter "torneado o assunto" da guerra na Ucrânia, defende.

Nas próximas eleições locais, em Lisboa, Raimundo continua sem admitir a possibilidade de a CDU integrar uma coligação de esquerda: garante que a coligação entre o PCP e o PEV "estará sempre disponível para a esquerda no poder autárquico", mas avisa que "isto não vai lá nem com proclamações nem com intenções" por parte do PS. E Jerónimo de Sousa também deixa farpas ao Bloco de Esquerda, ao apontar que, apesar de ter 19 câmaras municipais, a CDU é criticada "em relação a outros que, cheios de criatividade e de força, depois têm zero em termos de câmaras".

Já sobre as eleições presidenciais de 2026 ainda é cedo para falar, segundo os antigos e o actual secretário-geral do PCP. Mas Raimundo reitera que os comunistas tanto podem ter um candidato próprio, como apoiar outro candidato, desde que cumpra a Constituição, colocando de parte apoiar Gouveia e Melo. E todos deixam a porta aberta à possibilidade de o PCP apoiar um candidato de outro partido, como aconteceu com Jorge Sampaio em 1996, inclusive numa segunda volta.

Jerónimo quer "tarefa ligeirinha"

Em vésperas do congresso do PCP, que se realiza de sexta-feira a domingo, Raimundo reitera o compromisso do PCP de reduzir o número de membros do comité central e de subir o número de mulheres naquele órgão. E indica ainda que quer manter a média etária e uma maioria de operários. Jerónimo de Sousa, que liderou o PCP de 2004 a 2022, poderá contribuir para esse objectivo: o ex-líder do PCP revela que gostaria de sair do Comité Central por ser necessário "um reforço de quadros" que "abra caminho aos mais jovens". Mas mantém-se disponível para ter uma "tarefa ligeirinha". "Aquilo que sinto é que o que dei ao meu partido, bem somadinho, ainda fico a dever dinheiro ao partido", diz.

Os líderes do PCP lamentam ainda o processo de saída dos "renovadores" do PCP, mas defendem que foi um reflexo do funcionamento da democracia. E, depois de Paulo Raimundo ter convidado esses ex-militantes a regressarem ao partido, Jerónimo reitera o desafio: "A porta está aberta a quem quiser entrar".

A entrevista, conduzida pelas jornalistas Cristina Nascimento e Susana Madureira Martins, passou também pelo 25 de Novembro de 1975, com Carlos Carvalhas a recusar a intervenção do PCP, que diz ter tido a "preocupação de evitar uma guerra civil". Mas também pelas propostas do PS e do BE para alargar o prazo da IVG. Raimundo garante que o PCP vai acompanhar as propostas para aumentar o prazo para as 12 semanas, mas alerta que este pode não ser o "momento apropriado" devido à "correlação de forças" políticas, que pode fazer com que "as coisas andem para trás".

Questionados sobre se gostavam de ver os regimes da Coreia do Norte, da China, da Rússia ou da Venezuela em Portugal, são peremptórios: "Claro que não", assegura Raimundo, lembrando que o PCP lutou "durante 48 anos para acabar com o fascismo do nosso país". E Carvalhas explica ainda que o PCP nunca se refere a estes países "do ponto de vista de modelo de democracia", apenas enquanto "países que fazem frente  à tentativa de domínio mundial dos Estados Unidos da América".

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