Moçambique. Restrições de eletricidade no sul devido a ameaças de manifestantes

Manifestações que começaram em Outubro já fizeram pelo menos 90 mortos.

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Imagens dos protestos em Maputo REUTERS/Siphiwe Sibeko
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A estatal Electricidade de Moçambique (EDM) anunciou, neste sábado, que está a restringir o fornecimento de electricidade ao sul do país, incluindo à cidade de Maputo, face a ameaças de manifestantes junto de duas centrais termoelétricas.

Em comunicado, a eléctrica moçambicana explica que “no contexto das manifestações que se verificam um pouco por todo o país, um grupo de manifestantes dirigiu-se às centrais termoeléctricas de Ressano Garcia (CTRG) e da Gigawatt, exigindo a paralisação total da produção de energia como parte do suposto movimento de protesto”.

“Receando consequências inesperadas, tanto a central da CTRG como da Gigawatt, viram-se forçadas a interromper a produção de energia, na ordem de 250 Megawatts (MW) no total, por um período indeterminado. Esta situação está a provocar um défice da capacidade de fornecimento de energia eléctrica às províncias de Maputo, Gaza, Inhambane, bem como à cidade de Maputo, na ordem de 150MW, capacidade que alimenta cerca de 30% da demanda das províncias da região sul”, acrescenta a EDM.

O comunicado refere igualmente que “face ao ocorrido, a EDM viu-se forçada a fazer restrições de fornecimento de energia a zona sul do país, de forma programada e rotativa, visando minimizar o impacto da paralisação daquelas centrais sobre os consumidores”.

“Assim, a retoma da operação normal das Centrais dependerá dos desenvolvimentos, no terreno, e da capacidade de controlo da situação que, de momento, se mostra bastante complexa e preocupante”, reconhece a EDM, assumindo estar a “envidar todo o esforço necessário para que a produção e fornecimento de energia eléctrica se normalize o mais breve possível”.

A Plataforma Eleitoral Decide, Organização Não-Governamental (ONG) moçambicana que monitoriza os processos eleitorais, divulgou na sexta-feira que pelo menos 90 pessoas morreram nas manifestações pós-eleitorais no país desde 21 de Outubro, além de 294 pessoas baleadas e 3.496 detidas.

O candidato presidencial Venâncio Mondlane apelou para uma nova fase de contestação eleitoral de uma semana, de 4 a 11 de Dezembro, em “todos os bairros” de Moçambique, com paralisação da circulação automóvel das 8h às 16h locais.

“Todos os bairros em actividade forte”, disse Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados anunciados das eleições gerais de 9 de Outubro, numa intervenção através da conta oficial na rede social Facebook.

Tal como aconteceu na fase anterior de contestação, de 27 a 29 de Novembro, o candidato presidencial pediu que as viaturas parem de circular das 8h às 15h30, seguindo-se então 30 minutos para se entoar os hinos de Moçambique e de África nas ruas, o que se verificou nos últimos quatro dias em várias artérias centrais, nomeadamente, de Maputo.

“Vamo-nos manifestar de forma ininterrupta, sem descanso. Vão ser sete dias cheios (…). Todas as viaturas, tudo o que se move, fica parado”, insistiu, pedindo aos automobilistas para colarem cartazes de contestação nas viaturas que circulem até às 8h e depois das 16h.

O anúncio pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique, em 24 de Outubro, dos resultados das eleições de 9 de Outubro, em que atribuiu a vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder desde 1975) na eleição para Presidente da República, com 70,67% dos votos, espoletou protestos populares, convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane e que têm degenerado em confrontos violentos com a polícia.

Segundo a CNE, Mondlane ficou em segundo lugar, com 20,32%, mas este não reconhece os resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.