ONG acusa Israel de usar detidos como “escudos humanos” no Norte de Gaza
Hospital Kamal Adwan foi visado por ataque das Forças de Defesa de Israel nos últimos dias.
As forças israelitas estão a utilizar detidos palestinianos como escudos humanos, obrigando-os a avisar pessoal médico, assim como as pessoas deslocadas e acompanhantes de doentes, que devem abandonar os poucos hospitais que ainda funcionam no Norte de Gaza para se deslocarem para as zonas controladas pelas Forças de Defesa de Israel (IDF). A denúncia parte de uma ONG europeia no mesmo dia em que um dos poucos hospitais ainda a funcionar naquela zona do enclave palestiniano foi alvo de fortes ataques por parte das IDF.
A denúncia foi feita pela Euro-Med Human Rights Monitor, uma ONG sediada em Genebra, que diz ainda que a estratégia israelita “faz parte de um crime contínuo de deslocação forçada contra todos os residentes palestinianos do Norte de Gaza”.
Citando elementos que estão no terreno, na sexta-feira, a ONG diz que elementos das IDF retomaram os ataques contra civis em Bet Lahia, cercando o Hospital Kamal Adwan, um dos poucos que ainda funcionam, mesmo que de forma parcial. A operação militar israelita terá feito, segundo testemunhas consultadas pela ONG, entre 30 e 50 mortos nos últimos dias.
“Situação catastrófica”
De acordo com o comunicado publicado no site da ONG, o director deste hospital, Hussam Abu Safia, declara que a situação, tanto dentro como fora do hospital, é “catastrófica”. “Quatro membros da equipa médica foram mortos, muitos outros ficaram feridos e o hospital está agora sem cirurgiões”, assegurou o responsável. Ainda segundo o mesmo médico, as forças israelitas visaram directamente os geradores de oxigénio durante os ataques.
Os ataques de sexta-feira seguem-se a dias de intensas operações militares israelitas que, segundo as autoridades sanitárias de Gaza, resultaram na morte da enfermeira-chefe da unidade de cuidados intensivos e em danos nas instalações do hospital. Esta denúncia surge pouco depois depois de a Amnistia Internacional ter acusado pela primeira vez Israel de estar a cometer genocídio na Faixa de Gaza, e num dos pontos do seu relatório faz mesmo menções aos danos contra infra-estruturas fundamentais, nomeadamente hospitais.
“Esta manhã [sexta-feira], ficámos chocados ao ver centenas de corpos e feridos nas ruas em redor do hospital”, disse Abu Safia, citado pela Reuters. Há um grande número de mártires (mortos) e de feridos, e já não há cirurgiões”, disse o responsável médico.
Também na sexta-feira o representante da OMS para Gaza e para a Cisjordânia, Richard Peeperkorn, confirmou a morte de pelo menos quatro profissionais de saúde nos ataques levados a cabo pelas IDF entre quinta e sexta-feira no Hospital de Kamla Adwan. “Não havia nenhuma ordem oficial de evacuação”, denuncia, mas sim rumores e pânico. “As pessoas começaram a trepar o muro para fugir, e este pânico atraiu o fogo das IDF. Há relatos de mortes e detenções”, diz, num comunicado da ONU. “Tudo isto é extremamente preocupante e nunca deveria acontecer”, referiu ainda Richard Peeperkorn. O hospital está agora “funcional em níveis mínimos”, acrescentou ainda.
O Ministério da Saúde de Gaza, citado pela agência Reuters, dá conta de que os três principais hospitais localizados no Norte do enclave quase não funcionam e têm sido alvo de repetidos ataques desde que Israel iniciou uma fase mais intensa de incursões nas zonas de Beit Lahiya e nas localidades vizinhas de Beit Hanoun e Jabalia, no início do mês de Outubro.
Os militares israelitas negaram, no entanto, ter disparado contra o Hospital Kamal Adwan, alegando que estavam a realizar operações antiterrorismo “nas proximidades”. Segundo a Reuters, responsáveis israelitas afirmam que, na semana passada, as suas forças mataram vários operacionais de topo do Hamas que estiveram envolvidos no ataque de 7 de Outubro de 2023, que fizeram mais de mil mortos.